Enquanto o Brasil se descolore de seus infindáveis tons de verde, arduamente acinzentados pelas queimadas e desmatamentos que assolam os ecossistemas brasileiros, os ditos responsáveis para evitar isto se preocupam com reuniões a portas fechadas para mais uma puxadinha de tapete no meio ambiente. Fragmentou-se o já polêmico órgão de proteção ambiental – Ibama, empurrou alguns pra cá, outros pra lá, e criou-se o Instituto com nome de gente em homenagem póstuma! Se tal figura fosse algum cientista ativo e engajado na questão ambiental, ou um naturalista que deixou profundas descobertas para o conhecimento de causa, poderia até ser. Mas mesmo assim e convenhamos, para quê? Quais benefícios o Cerrado e a Caatinga terão com isto? O desmatamento da Amazônia findará por encanto, apenas por saber que o nome do Instituto é de quem morreu em suas matas? Enfim, o que esperar de um país que perdeu o nome do açaí (aquela frutinha roxa, que ironicamente vêm do mesmo lugar do homenageado) para uma firma oriental, mas pela graça do bom Deus (dizem que é brasileiro!) conseguiu recuperá-lo? Sem falar do cupuaçu, da rapadura e até do escapulário, que tiveram seus nomes registrados no estrangeiro! Será que até pra rezar teremos que pagar?
E já que estamos numa semana onde o IBAMA está tão falado, resolvi trazer alguém que fica lá na frente de batalha! César Augusto Chirosa Horie, 28 anos, mora há um ano e meio em Juína, noroeste do Mato Grosso, e trabalha na gerência executiva do IBAMA na cidade. Palco de grandes escândalos ambientais, a situação da floresta amazônica e do cerrado neste Estado tem sido um aprendizado e tanto para este biólogo interessado por fotografia, não apenas por sentir na pele o calor da região, mas também por se deparar com as queimadas avassaladoras.
Nos meses de setembro e outubro, a qualquer hora do dia pode-se olhar diretamente para o sol, e os helicópteros não conseguem voar numa altitude acima de 30 pés, tal espessa é a camada de fumaça! Os caminhões com enormes toras de madeira transitam nas estradas escondidas das matas, enquanto crianças caminham horas a fio por outros caminhos, em busca de outras esperanças. Máquinas de desmatamento rápido dominam o terreno dos ‘caiporas’ e ensurdecem os animais, que agora se alojam em arapucas. Paradoxalmente César percebeu como a questão ambiental está enraizada numa desigualdade social crescente, na pecuária extensiva e na era dos coronéis que ainda perdura.
A população mais carente se submete a trabalhos de desmate e queimadas manuais, precárias, muitas vezes envolvendo as crianças que trabalham nas lavouras perdidas entre cinzas e tocos de árvores seculares. Ou então os mais velhos se iludem no devaneio de encontrar alguma pedra dourada nos garimpos imprecisos. A documentação de César desconsidera a estética que a natureza tantas vezes oferece para os fotógrafos, para estabelecer um fotojornalismo ambiental necessário. Vê-se como um mensageiro da dura realidade do Mato Grosso e admite que “não é fácil conciliar o desenvolvimento humano e a preservação da natureza. É impossível preservar a floresta amazônica e o cerrado, sem considerar o viés social, que permeia todas as atividades na região”.
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