Alter do Chão fica dentro do município de Santarém, a 38 km da cidade, e é o principal ponto turístico da região, mundialmente famoso pelas praias de água doce, formadas na época de seca do rio Tapajós. No domingo, 8/7, cheguei a Alter do Chão atrás de informações e opiniões sobre as hidrelétricas do Complexo do Tapajós.
Logo na chegada, na praça central do vilarejo, pendurada entre duas árvores, estava uma faixa amarela com os dizeres em vermelho: “Este rio é nossa vida. Não aceitamos hidrelétricas no Tapajós”. A curiosidade foi imediata: quem a colocou lá?
Quem contou a história da faixa foi Marcio Halla, agrônomo de São Paulo, radicado em Alter. Ele chegou ao Pará em 2004 para trabalhar na ong Saúde e Alegria. Hoje, é consultor ambiental, dono da própria empresa, a Ecotore.
Engajado nas questões ambientais de Alter do Chão, ele começa a conversa falando da APA Municipal de Alter do Chão, no papel, criada em 2003. Entretanto, apenas em 2011, a partir da iniciativa de Halla e de outros locais, criou-se o seu conselho gestor, e, no fim de 2012, o seu Plano de Uso.
Halla diz que esses esforços individuais esbarram na falta de vontade política para ordenar o crescimento de Alter, que viveu nos últimos anos uma explosão do turismo e, em consequência, da construção civil.
Além dos próprios problemas locais, ele diz que Alter do Chão corre o risco de sofrer impactos que não serão investigados, caso forem construídas as hidrelétricas de São Luis do Tapajós e Jatobá, que ficarão rio acima. “Apesar dos vários exemplos de hidrelétricas como Balbina, Tucurui e Belo Monte, as pessoas não enxergam os impactos sociais latentes. Os estudos de impacto ambiental estão sendo feitos em uma área muito pequena, apenas à montante [rio acima] das usinas do Tapajós, desconsiderando os impactos rio abaixo”.
Marcio conta que, através da APA, tenta levantar esse debate com os moradores. No primeiro encontro que fizeram em Alter do Chão, decidiu-se coletivamente pela confecção de 10 faixas iguais a colocada pela comunidade na praça principal. Mas, desde então, pouco se fez, por falta de articulação dos movimentos sociais.
Segundo Halla, a resistência mais efetiva e visível é a dos índios Mudurukus, que se declararam em guerra contra as usinas. A repercussão da carta enviada ao governo pelos mundurukus e a detenção e expulsão da equipe que fazia os estudos de impacto ambiental na região em que vivem deve adiar o leilão das hidrelétricas, que estava marcado para o final de 2014.
As usinas estão distantes mais de 250 km em linha reta até Alter do Chão. Entretanto, Halla ilustra danos que elas podem causar: “Empiricamente, nas épocas em que as secas do Tapajós foram muito fortes, as águas [barrentas] do Amazonas entraram pelo Canal do Jari. As águas do Amazonas podem avançar sobre as do Tapajós a partir do ponto em que se encontram, na frente de Santarém. A vazão do Canal do Jari é baixa demais comparada à do Tapajós. o que pode criar uma mancha maior do que a normal. Se as hidrelétricas baixarem o nível do rio, isso poderá ocorrer com mais frequência e tornar marrom o Lago Verde, um dos principais atrativos turísticos de Alter do Chão”.
O rio Tapajós tem águas claras que, dependendo da época ou do local, vão do verde a um azul que lembra o oceano. Mas, segundo Halla, o rio já foi marrom há 30 anos por conta da grande concentração de garimpos na região de Itaituba, cujas atividades poluíam o rio. Se os estudos de impacto forem limitados, adverte, o Tapajós e as comunidades que dele dependem podem sofrer impactos negativos que, do jeito que está previsto, não serão nem mesmo avaliados.
*Matéria editada em 12/07/13 às 9h30
Saiba Mais
Claudio Angelo, do ScienceBlogs “o Curupira” – Quantos megawatts-hora vale Alter do Chão?
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