Newsletter O Eco+ | Edição #152, Junho/2023
18 de junho de 2023
As Pré-Conferência do Clima são eventos com grande peso técnico e político. São nessas reuniões que saem os temas-chave e os rascunhos de acordos que podem ser fechados nas Cúpulas do Clima da Organização das Nações-Unidas. Nesta quinta-feira (15), a cerimônia de encerramento do encontro realizado em Bonn, Alemanha, comemorou o avanço em questões críticas, ajudando a lançar as bases para as decisões políticas exigidas na 28ª Conferência do Clima, que este ano acontece entre novembro e dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes. A nota de Cristiane Prizibisczki revela que esse otimismo, no entanto, não foi o sentimento unânime do encontro. Para viabilizar a aprovação da agenda nos 45 minutos do segundo tempo, a União Europeia teve que ceder e autorizar a retirada de um dos itens mais polêmicos da conversa, o chamado Programa de Trabalho em Mitigação.
O colunista Carlos Bocuhy explica os entraves no avanço de quaisquer definições sobre o enfrentamento da crise climática: “As incongruências vão da velha tática da obstrução ao diversionismo parlamentar. Não é de hoje que os interesses nacionais se sentam à mesa das negociações climáticas apenas em defesa de interesses econômicos e geopolíticos domésticos. A busca pela hegemonia política mantém os grandes poluidores presos ao seu produto interno bruto lastreado em matrizes fósseis, retroalimentados pelo avanço da guerra fria.”
Em 2022, o Brasil perdeu mais de 20 mil km² de vegetação nativa. O bioma mais afetado foi a Amazônia: lá, 21 árvores tombaram a cada segundo; 1.260 árvores a cada minuto. Os quatro anos (2018-2022) do governo Bolsonaro computaram mais de 303 mil alertas de desmatamento, totalizando uma área de 66 mil km² nos seis biomas brasileiros. A área de vegetação nativa perdida foi maior do que o território somado dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Cristiane Prizibisczki traz os dados do Relatório Anual de Desmatamento (RAD2022) do MapBiomas, lançado na segunda-feira (12).
Boa leitura!
Redação ((o))eco
· Destaques ·
Encontro climático de Bonn termina com decisões tardias e sentimento de frustração
A Torre de Babel das mudanças climáticas
Amazônia perdeu 21 árvores a cada segundo em 2022, revela MapBiomas
· Conservação no Mundo ·
Uma década para um mundo sem gelo. Uma pesquisa publicada na revista internacional Nature Communications demonstra que se o mundo continuar aumentando as emissões de gases de efeito estufa na velocidade atual, todo o gelo marinho no Ártico desaparecerá na década de 2030 — evento que poderia, na melhor das hipóteses, ser adiado até a década de 2050, caso as emissões sejam reduzidas de alguma forma. A pesquisa adianta em uma década a previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que projetou o degelo para a década de 2040. O professor Seung-Ki Min, que liderou o estudo, afirmou: “Precisamos estar vigilantes sobre o potencial desaparecimento do gelo marinho do Ártico, independentemente das políticas de neutralidade de carbono”. Ele também expressou a importância de “avaliar os vários impactos da mudança climática resultantes do desaparecimento do gelo marinho do Ártico e desenvolver medidas de adaptação juntamente com políticas de redução de emissões de carbono”. [ScienceDaily]
Fora dos eixos (2). Segundo um novo estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, ao bombear água subterrânea, a humanidade mudou a distribuição da água na Terra o suficiente para alterar a inclinação do planeta. Pesquisa anterior estimou que, entre 1993 e 2010, mais de 2 trilhões de toneladas de água subterrânea foram bombeadas e essa água fluiu para cidades e fazendas antes de desaguar no mar, elevando o nível global do mar em cerca de um quarto de polegada. A atual pesquisa encontrou evidências dessa mudança na posição do polo rotacional da Terra – o ponto em torno do qual o planeta gira: no período, o volume de água redistribuído foi suficiente para mover o polo rotacional cerca de 31 polegadas (79 centímetros). [Yale Environment 360]
· Animal da Semana ·
O animal da semana é o panda-gigante!
Animal nacional da China, a espécie é famosa por sua fofura, e já virou personagem em filmes de animação.
Uma curiosidade da espécie é que o panda gigante não hiberna. Eles descem das montanhas onde vivem e se abrigam em árvores ocas e outros esconderijos durante o inverno. Eles não são gregários, vivem solitários e se encontram na época do acasalamento.
Ele permanece na lista de ameaçados de extinção, estando agora categorizado como “Vulnerável”.
🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)
· Dicas Culturais ·
• Pra ouvir •
Bichos, plantas e histórias que não contaram para você | ((o))eco
A história não é nova: países europeus invadem países em desenvolvimento e levam seus “tesouros”. Esse roubo não está restrito a metais preciosos e madeiras nobres, nem limitado ao período de colonização. A ciência também é palco dessa lógica colonialista, como bem ilustra o caso Ubirajara, o fóssil único de um dinossauro brasileiro que foi levado ilegalmente pra um museu alemão. A luta para trazê-lo de volta é apenas uma batalha para derrotar de vez o colonialismo científico. Nesta segunda-feira (19), ouça “o furto do Ubirajara”
• Pra assistir •
Piripkura (2017) | Fred Rahal Mauro
Dois indígenas nômades, do povo Piripkura, sobrevivem cercados por fazendas e madeireiros numa área ainda protegida no meio da floresta amazônica. Packyî e Tamandua vivem com um facão, um machado cego e uma tocha. Piripkura aborda as consequências de uma tragédia e revela a força, resiliência e autonomia daqueles que foram expostos a todo tipo de ameaças e têm resistido ao contato.