O governo paulista concluiu ontem (6) o primeiro quilômetro das obras de duplicação da Marginal Tietê. Orçado em R$ 1,3 bilhão – R$ 1,1 provenientes dos cofres públicos e R$ 200 das concessionárias que administram as rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Ayrton Senna – o empreendimento é bastante controverso do ponto de vista ambiental e até mesmo sobre sua efetividade. Em uma cidade que sofre cada vez mais com as fortes chuvas, impermeabilizar ainda mais o solo pode ser fatal para a ocorrência de enchentes.
Nos primeiros dias de setembro, quando o Ministério Público Estadual solicitou a suspensão das obras pelos motivos citados acima e outros mais – luta que acabou perdendo alguns dias depois – O Eco noticiou o exemplo de Seul, que despoluiu seu principal rio, criou áreas verdes no entorno para a melhora da qualidade do ar e lazer dos habitantes, e remodelou o sistema de transporte público, de forma a interligar os vários parques por meio de ciclovias, metrô e ônibus. Tudo para estimular que os sul-coreanos deixassem seus carros na garagem e fossem dar uma caminhada a pé ou de bike. Com a duplicação da marginal, parece que São Paulo deseja exatamente o oposto: que os paulistanos continuem usando seus carros.
Hoje (7), Guilherme Cintra nos traz outro bom exemplo de Seul, agora no rio Cheonggye. Entre 2003 e 2005, o local foi totalmente revitalizado e, além dos benefícios hídricos, trouxe também efetiva melhora na qualidade do ar e do clima na região. Segundo estudo realizado por institutos de pesquisa japoneses e apresentado durante a 17º Conferência Internacional sobre Clima Urbano, realizado em Yokohama (Japão) entre 29 de junho e 3 de julho deste ano, a revitalização do rio Cheonggye ajudou a diminuir os efeitos das ilhas de calor na região, aumentou a umidade do ar e reduziu as concentrações de NO2.
Exemplo sul-coreano*
Quer um bom exemplo de que o investimento no meio ambiente pode ser rentável? Que tal substituir um viaduto absolutamente engarrafado e, portanto, poluente por um bucólico… rio!
Foi o que a cidade de Seul fez em seu centro histórico. Ao livrar-se do viaduto de 6 km e revitalizar em tempo recorde, apenas 4 anos, o rio Cheonggye, que encontrava-se escondido pela massa de concreto, o governo incentivou o comércio e a cultura às suas margens, além de diminuir os níveis de violência.
É claro que por trás desta mudança radical estava um governo preocupado com um belo projeto de longo prazo, que acabou por dar resultados em curto prazo. As mudanças foram bem planejadas de modo que o tráfego melhorou, apesar da destruição do grande viaduto. O principal rio da cidade, o Han, também sofreu um intenso processo de despoluição e as reservas naturais e parques tornaram-se comuns na cidade. Um contraste e tanto quando comparado aos tempos de ditadura até os anos 80.
Tais fatos nos demonstram que quando se alia vontade política a um planejamento racional, os resultados podem ser espetaculares e inusitados. Mas isso a gente já sabia…
Antes Depois
* Guilherme é estudante de Economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e aluno de Eduardo Pegurier, autor deste blog.
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