Notícias

Ibama corta árvores e gera suspeita em Pernambuco

No Recife, superintendência estadual corta 7 árvores e faz poda radical de outras 14. Procurador critica valor pago e vizinhos se espantam.

Celso Calheiros ·
16 de setembro de 2011 · 14 anos atrás
Sede do Ibama perdeu árvores e, por enquanto, o estacionamento exclusivo para funcionários ganhou espaço. Foto: Rejane Ferreira
Sede do Ibama perdeu árvores e, por enquanto, o estacionamento exclusivo para funcionários ganhou espaço. Foto: Rejane Ferreira
No Recife, a superintendência do Ibama em Pernambuco decidiu cortar 7 árvores, podar radicalmente outras 14 e retirar folhas e flores de quatro palmeiras imperiais das suas instalações, no bairro de Casa Forte – a medida provocou indignação de vizinhos e uma movimentação contrária que ainda não cessou.

A professora Rejane Ferreira fotografou a ação dos profissionais da motosserra e não compreendeu a poda. “Foi um choque. Só faltei ter um troço”, disse. O procurador da República Edivaldo Oliveira, que se juntou ao coro dos cidadãos indignados, descobriu também que o preço pago para o serviço parece ser mais que o dobro do preço de mercado. Ele procurou o edital do pregão eletrônico do Ibama, leu o documento digital de 25 páginas em arquivo PDF e achou o preço dos serviços: R$ 44 mil.

Trabalhadores com cordas, machados e motosserras mudaram a paisagem da superintendência do Ibama, no Recife. Foto: Rejane Ferreira
Trabalhadores com cordas, machados e motosserras mudaram a paisagem da superintendência do Ibama, no Recife. Foto: Rejane Ferreira
O Ibama estabeleceu como preço máximo para o serviço, detalhado no processo 02019.000417/2011-60 do pregão eletrônico 03/2011, o valor de R$ 49.102,53. A empresa vencedora da licitação foi a Paraná Verde, do Paraná. Edivaldo encontrou, via internet, outras cotações para serviço de poda, no Paraná, e com valores abaixo da metade do que o Ibama pagou. No pregão presencial 056/2011 do sistema de registro de preços da Prefeitura de Pinhais, Paraná, uma poda de árvore alta sob fiação e obstáculos tem o valor unitário de R$ 429,67. O serviço mais complexo e mais caro é o corte de árvore alta e sob fiação, que custaria em Pinhais R$ 720,00. Ao se multiplicar essa cotação pelo número de árvores envolvidas na poda do Ibama em Pernambuco — 25 árvores, considerando tudo–, chega-se a um total de R$18 mil (25 x R$720), um valor que representa a fração de 40,1% do que foi pago no Recife.

Estacionameno do Ibama ganha espaço e perde sombra. Carros não correm mais riscos de acidentes com queda de galhos, argumentou a superintendente do Ibama, Ana Paula Pontes. Foto: Celso Calheiros
Estacionameno do Ibama ganha espaço e perde sombra. Carros não correm mais riscos de acidentes com queda de galhos, argumentou a superintendente do Ibama, Ana Paula Pontes. Foto: Celso Calheiros
O mais curioso é que a empresa que venceu o pregão do Ibama no Recife é do Paraná, a Paraná Verde. O serviço foi executado pela Reciflora, uma subcontratada local. A engenheira florestal Luiza Gomes respondeu pela empresa recifense e defendeu a intervenção. “Foi feito um laudo, muitas árvores estavam doentes, atingidas por pragas, cupins. A poda e a erradicação de árvores foram necessárias”, argumenta. Luiza Gomes compara a manutenção em árvores a um corte de cabelos. “Se você passa muito tempo sem ir ao cabelereiro, não pode chegar lá e pedir apenas para aparar as pontas”. O Ibama, conta a engenheira florestal, não cuidava das suas árvores há dez anos.

No lugar das árvores erradicadas, a Reciflora plantará 40 mudas, todas de mata nativa. Ipê, Pau Brasil, Mescla de cheiro serão algumas das espécies plantadas. Foram retiradas totalmente um ipê roxo, uma mangueira, uma tamarineira, um tamboril, uma tulipeira e um sábia. O serviço deverá estar concluído em 15 dias, estima Luiza Gomes.

A superintendente Ana Paula Pontes esclareceu que as sete árvores erradicadas estavam comprometidas, de acordo com laudo fitossanitário. Ana Paula também disse que a licitação foi feita obedecendo os trâmites legais. Questionada por e-mail se o valor do serviço, R$ 44 mil, não era alto demais e desproporcional ao preço obtido em licitações para serviços semelhantes, Ana Paula não respondeu.


Leia também

Notícias
16 de abril de 2025

Com falhas na regulação, garimpo de ouro legalizado cresce na Amazônia

Pesquisa mostra que, mesmo que realizado de forma legal, garimpo de ouro provoca impactos ambientais semelhantes aos da atividade ilegal

Salada Verde
16 de abril de 2025

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras

Anúncio foi feito durante o aniversário de 15 anos do Monumento Natural que protege o arquipélago carioca. Inauguração do novo trecho está prevista para agosto

Salada Verde
16 de abril de 2025

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal

A decisão judicial afeta fazendas ilegais e foi baseada numa ação civil pública que pede R$ 725 milhões por danos ambientais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.