Qual sua reação ao encontrar no meio do caminho trinta pessoas se deslocando da mesma maneira que você?
a) Felicidade em poder conversar durante o trajeto e ter companhia.
b) Desespero com a perspectiva de chegar atrasado e ficar preso sozinho isolado em meio a um mar de buzinas e fumaça.
Dificilmente, quem se locomove de carro opta pela primeira opção – mesmo que as outras 30 pessoas sejam todas conhecidas, familiares e amigos. Encontrar 30 carros no caminho não costuma ser uma opção agradável. Dá vontade de evitar o problema, ultrapassar, acelerar, negar, resolver aquilo o mais rápido possível. Simplesmente completar o deslocamento, seja ao custo que for. A velocidade passa a ser o fator principal. E a tendência é cobrar que as pistas sejam alargadas, que novas pontes, túneis e viadutos sejam construídos (mesmo que, no futuro, isso abra espaço para 60 carros no caminho e torne o deslocamento ainda mais lento e o ar ainda mais sujo). A prioridade é resolver o problema imediato. É a fluidez pura e simples.
Quando você transita, está ocupando espaço. A escolha e a decisão sobre como trafegar afetam não só sua visão sobre a cidade, como influenciam a própria formatação da cidade. Optar pelo uso diário, cotidiano e banal de automóveis é optar por mais avenidas e asfalto. Em cidades em que nem sempre existem alternativas satisfatórias como transporte público de primeira e/ou segurança para deslocamentos de bicicleta, a tendência é mais e mais gente optar pelo transporte individual motorizado. E a cidade se tornar mais e mais inviável.
No lugar de restaurantes simpáticos, padarias, escolas de natação, de música e bibliotecas, surgem e prosperam estacionamentos, oficinas e lojas para instalação de películas escuras e potentes aparelhos de som. As ruas se esvaziam de pessoas – e permanecem cheias de automóveis parados. Os prédios também. Vazios de pessoas, cheios de automóveis parados; alguns com cinco andares de vagas. Em quantos prédios o espaço de lazer, as quadras e os jardins são maiores do que o espaço reservado para os carros? Uma árvore ocupa o espaço de uma vaga.
Este caminho leva ao colapso. O apocalipse motorizado é formado por congestionamentos, gente infeliz e ar sujo. Não importa quanto dinheiro se investe para ampliar o sistema, para melhorar a eficiência, para deixar as ruas mais rápidas, nada dá certo. É a história de São Paulo, mas também a de Los Angeles e a dos principais centros urbanos que apostaram em priorizar o transporte individual motorizado.
Há caminhos alternativos, no entanto, e um deles é procurar ocupar as ruas de maneira diferente. Descobrir o prazer de não só completar rapidamente o percurso, mas de percorrer com calma a cidade; tentar aprender a encontrar outras vias; combinar ônibus e trens com caminhadas; pedalar, dar e receber caronas. Não precisa nem ser todo dia. Mas se, de alguma forma você encontrar um jeitinho de diminuir o uso de automóveis, já está ajudando. É óbvio que, para mudanças efetivas, é preciso também envolvimento do poder público. É necessário priorizar investimentos em transporte coletivo em detrimento do individual. É necessário que o cidadão tenha mais e mais opções, possa escolher.
São duas frentes paralelas que devem acontecer de maneira conjunta. Uma depende da outra. E, para avançar na construção de outra mobilidade urbana, é preciso ocupar a cidade com prazer, entusiasmo e felicidade (em vez de com fumaça, estresse e cansaço).
Leia “Ocupar a Av. Paulista para dar visibilidade à Praça d@ Ciclista” e confira a página da Bicicletada de São Paulo
E, se este texto não o convenceu, consulte o trânsito em São Paulo direto na CET para escolher o seu melhor caminho (devido a problemas de tráfego o site nem sempre funciona…)
* As fotos que ilustram esta reportagem foram tiradas na manhã desta sexta-feira, 25 de novembro de 2011. Cof, cof.
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