Dia 18 tomamos nosso primeiro banho desde 15 de dezembro. Isso é considerado um período curto, já fiquei quase 3 meses sem banho na Antártica, e um colega meu chinês teve que passar 6 meses sem banho em uma travessia antártica!
Percepções: Após 4 semanas vivendo no meio da neve e do gelo, nossos sentidos ficam aguçados. Os primeiros dias, notamos os cheiros, sons e principalmente as cores diferentes. Tudo nos parece mais verde, mesmo aqui na Patagônia Chilena. Ou seja, após essas semanas no manto de gelo antártico, bicolor pelo branco da neve e o azul do céu, do completo silêncio, só entrecortado pelo barulho do vento, nos primeiros dias de volta tudo parece mais do que era antes.
Passamos os últimos três dias preparando a carga que embarcará no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Robgel, da Marinha do Brasil. Nesta segunda, 23/01, encerraremos oficialmente a expedição Criosfera.
Embarcamos para Porto Alegre no dia 25.
21 a 23 de Janeiro – Punta Arenas, Chile
Hoje encerramos a expedição e também a atualização deste blog. Quinta-feira (26/01) chegaremos a Porto Alegre.
A Expedição Criosfera, concebida e realizada pela comunidade científica nacional, e financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, marca um novo estágio no Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Ao comemorar-se o centenário da chegada do homem ao Polo Sul Geográfico e o trigésimo do PROANTAR, o Brasil finalmente tem um laboratório científico no interior daquele continente, ampliando a área geográfica de atuação do PROANTAR em mais de 4 milhões de km².
A Expedição Criosfera, sob a coordenação-geral do cientista e explorador polar Jefferson Cardia Simões (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), este que vos escreve, teve sucesso pleno ao realizar várias atividades pioneiras.
Primeiro, instalou e colocou em funcionamento um laboratório automatizado e sustentável (toda a energia é provida por geradores eólicos e solares) para estudos atmosféricos a somente 670 km do Polo Sul Geográfico. Esse módulo, chamado “Criosfera 1”, já está transmitindo dados meteorológicos e da química atmosférica diretamente para o Brasil. Essas informações serão essenciais para melhorar as previsões meteorológicas no Brasil e para estudos sobre o impacto das mudanças do clima. O “Criosfera 1” já mede a concentração do CO² (dióxido de carbono, principal gás do efeito estufa). Essas concentrações naquele lugar isolado confirmam as medições realizadas em outros lugares remotos do mundo. Chegam a 386 partes por milhão por volume, um aumento de 40% desde o início da Revolução Industrial.
As realizações da Expedição Criosfera não param por aí, pois tratou-se de uma missão interdisciplinar envolvendo 17 pesquisadores de 7 instituições nacionais e duas chilenas. O grupo volta ao Brasil com amostras de gelo que contarão a história do clima e das mudanças na química da atmosfera ao longo dos últimos 300 anos, realizou medidas com satélites e na superfície Antártica para saber como o gelo está respondendo as variações das mudanças do clima. Sobre isso, é essencial que os brasileiros se deem conta que nós somos o sétimo país mais próximo da massa de gelo do planeta: 90% da criosfera (o conjunto da neve e gelo da Terra) está na Antártica, o volume é tão grande que se colocado em cima do Brasil cobriria os nossos 8,5 milhões de km², com uma camada homogênea de quase 3 km de espessura! Hoje sabemos que mesmo pequenas variações neste gelo afetam o nível dos mares e nosso cotidiano.
No trigésimo ano do PROANTAR, a “Expedição Criosfera” também é um sucesso em termos de política internacional. Ao realizar uma missão no interior do continente, o Brasil demonstra mais uma vez o seu pleno interesse no futuro da região Antártica, ambientalmente e politicamente, reforçando sua posição no âmbito do Tratado da Antártica, o regime jurídico aplicado e que decidirá o futuro de 36 milhões de km².
Módulo Criosfera 1 inaugurado na Antártica
Módulo brasileiro Criosfera 1 inicia transmissão de dados na Antártica
Diário Criosfera – 4 a 6 de Janeiro – “White out” e Testemunhos de gelo
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