Notícias

Consulta sobre estrada divide indígenas em parque nacional

Governo boliviano pressiona para construir rodovia que cruzará o Parque Nacional Isiboro Sécure ao mesmo tempo em que ouve comunidades locais.

Giovanny Vera ·
17 de agosto de 2012 · 12 anos atrás
Em Oromomo, a primeira das consultas no Parque Nacional Isiboro Sécure, feitas às comunidades locais. Foto: Agência Boliviana de Informação
Em Oromomo, a primeira das consultas no Parque Nacional Isiboro Sécure, feitas às comunidades locais. Foto: Agência Boliviana de Informação

O governo boliviano está consultando as 69 comunidades do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS) para definir se o parque deve ser intangível ou não, e se deve ser construída uma estrada que atravesse o parque. Ao todo, participarão do processo 11 mil indígenas, e os resultados serão apresentados no dia 6 de setembro.

O TIPNIS é ao mesmo tempo parque nacional e território indígena. Sua área total é de cerca de 1,2 milhões de hectares ricos em biodiversidade devido ao encontro dos Andes tropicais com a planície amazônica. Essa mistura o torna lar do raro urso-de-óculos.

Em outubro de 2011, depois de meses de manifestações indígenas contra a estrada, o parque foi declarado zona intangível pelo presidente Evo Morales. Isso significa que são proibidos assentamentos ilegais, aproveitamento florestal com fins comerciais e projetos que provoquem impactos ambientais na região.  Entretanto, o governo voltou atrás, argumentando pressões sociais. Em fevereiro de 2012, aprovou a Lei 222, que estabeleceu as regras para a consulta popular entre os locais.

Houve manifestações contra a consulta, considerada ilegal, já que a estrada já estava sendo construída por fora do parque. Mas o processo consultivo começou em 29 de julho. Até domingo passado, já haviam sido consultadas 23 comunidades do total de 69.

Segundo o presidente Evo Morales, 22 destas comunidades não querem o status de intangível e apenas uma é contra a estrada. “É a opinião do movimento indígena dentro do Parque Nacional Isiboro Sécure”, disse Evo sobre a consulta, durante uma inauguração de obras na cidade de Cochabamba.

Do outro lado, Fernando Vargas, presidente da Subcentral Indígena TIPNIS, declarou à Agência de Notícias Indígenas que as únicas comunidades consultadas até agora são partidárias de Morales. De acordo com Vargas, a comunidade de San Miguelito, que recusou a estrada, foi a única consultada que não apoia o governo. “Não foram visitadas comunidades das localidades de Sécure Baixo, da zona central e de Isiboro”, disse ele.

Gundonovia, localizada no meio do parque, é uma das comunidades que resiste à consulta. Seus habitantes a consideram uma pós-consulta, pois a estrada já começou a ser construída antes mesmo de perguntar aos indígenas se queriam uma estrada em seu território. Líderes de Gundonovia decidiram bloquear o rio para impedir que os funcionários do governo cheguem ao vilarejo.

Mapa do TIPNIS. Linha negra é a proposta da estrada que cortaria o parque em dois. Arte: Fabio Stefans
Mapa do TIPNIS. Linha negra é a proposta da estrada que cortaria o parque em dois. Arte: Fabio Stefans

 

 
 
  • Giovanny Vera

    Giovanny Vera é apaixonado pela área socioambiental. Especializado em geojornalismo e jornalismo de dados, relata sobre a Pan-Amazônia.

Leia também

Notícias
14 de novembro de 2024

O Bruxo e o caldeirão de petróleo

Não há nada de aleatório no rolê lobista de Ronaldinho pela COP

Análises
14 de novembro de 2024

O uso de meme para esconder desinformação sobre meio ambiente

Em formato de piada e conteúdo divertido, a desinformação invade as telas das pessoas e dificulta o trabalho de educação e preservação ambiental

Reportagens
14 de novembro de 2024

Não deixe rastros: como minimizar os impactos da recreação em áreas naturais

Princípios Leave No Trace, para reduzir impactos de atividades na natureza, começam a ganhar força no Brasil junto com aumento da visitação de unidades de conservação

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.