Manaus, AM – Dois filhotes vistos nas costas de adultos no início de março são o sinal mais marcante do sucesso de uma iniciativa inédita no Brasil: mudar de endereço uma população inteira de bichos que nasceram e cresceram longe do seu habitat natural.
Desde junho do ano passado, Micos-leões-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) encontrados nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, no estado do Rio de Janeiro, estão sendo capturados e são levados a centenas de quilômetros ao Norte, para viver em uma área protegida em Belmonte, no sul da Bahia.
“O primeiro grupo já está se reproduzindo e isso é muito bom, significa que eles estão bem”, afirma a bióloga Maria Cecília Kierulff, responsável pelo programa liderado pelo Instituto Pri-matas. “Eles estão vivendo em uma mata protegida, preservada e grande. Provavelmente ali já teve o mico-leão, porque é dentro da área de distribuição dele”, completa.
O mico-leão-da-cara-dourada é uma espécie classificada como “Em Perigo”, tanto pela IUCN quanto pelo Ministério do Meio Ambiente. Ele é natural do extremo nordeste de Minas Gerais e Bahia. Desde que foi introduzido no Rio de Janeiro, a população da espécie vem crescendo a ponto de se tornar uma ameaça ao parente o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), que vive em áreas vizinhas na Mata Atlântica do Rio de Janeiro e também é classificado como “Em Perigo” de extinção.
As duas espécies são muito parecidas, com porte e ecologia semelhantes. Mas é visível a diferença na cor da pelagem. Enquanto um tem a cor dourada em todo o corpo, daí o nome popular da espécie, o outro é mais escuro, com uma mancha mais clara na face. E é justamente por se parecerem tanto que a presença dos dois no mesmo habitat é arriscada.
Além de concorrer por alimentos e locais de dormida, os mico-leões-da-cara-dourada, podem levar doenças à população de micos nativa do Rio de Janeiro, já que eles interagem com moradores de condomînios residenciais, que oferecem alimentos a eles. Entre os animais que já foram capturados, 24 foram diagnosticado com alguma doença. Outro perigo é o surgimento de macaquinhos híbridos. “É urgente a remoção dos grupos de mico-leão-da-cara-dourada da região de Niterói, São Gonçalo e Maricá antes que o aumento e a expansão da população introduzida tornem inviável sua retirada”, afirma o Instituto Pri-matasl.
Até agora, 104 animais já foram capturados e 66 deles já estão vivendo na Bahia e outros 17 aguardam na quarentena. É um trabalho cuidadoso. Como eles vivem em grupos familiares, é preciso capturar todos, ou quase todos, juntos, para evitar a desestruturação da família. E antes de irem para a nova morada, os micos ainda precisam passar por uma quarentena, para confirmar que estão saudáveis e em condições de serem translocados. São coletadas amostras de sangue, fezes e outros materiais biológicos, para análise. Alguns recebem rádio-colares para serem monitorados na nova área.
O primeiro grupo chegou à reserva no Sul da Bahia no início do segundo semestre de 2012. Os filhos observados descendem desse grupo. São filhos de jovens que já se separaram do grupo e estão formando novas famílias. “Além de se reproduzirem, não tiveram problemas para achar comida, nem tiveram dificuldade para encontrar lugar para dormir”, comemora a bióloga.
O Instituto Pri-matas acredita que metade dos micos-leões-da-cara-dourada que viviam nas proximidade de Niterói já tenha sido capturada. A expectativa é que até o final do ano todos tenham sido retirados da área. O programa tem apoio do ICMBio e secretarias Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro e prefeitura de Niterói. Os recursos são financiados pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, da RBO Energia (através da Câmera de Compensação Ambiental da Secretaria do Ambiente – RJ), do Tropical Forest Conservation Act-TFCA/FUNBIO, do Lion Tamarin of Brazil Funds, de Margot Marsh Biodiversity Foundation/Conservation International e MBZ Species Conservation Fund.
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