A riqueza do Monumento Ambiental das Ilhas Cagarras está na terra, no mar e também no céu. As ilhas contam com dois grandes ninhais de aves marinhas, um com 5,5 mil atobás-marrons, na ilha Cagarra, e outro, com 2,5 mil fragatas, principalmente na Redonda. O ninhal de fragatas é considerado a segunda maior colônia reprodutiva desta espécie na costa brasileira. A primeira é a ilha de Alcatrazes, em São Paulo, com 6 mil aves. O outro foco é Mata Atlântica: espécies raras que tinham sido consideradas extintas no estado do Rio foram localizadas em pesquisas nas ilhas.
O principal grupo de pesquisadores dedicado a conhecer a vida no arquipélago faz parte do projeto Ilhas do Rio, da ONG Instituto Mar Adentro. O grupo composto por 28 profissionais, entre eles 7 biólogos, faz um trabalho de diagnóstico das condições da vida no local para o Plano de Manejo da UC. Patrocinados através do projeto Petrobras Ambiental, desde 2011 eles vêm atuam no Monumento Ambiental (MONA) das Ilhas Cagarras e o resultado das pesquisas gerou um livro de 300 páginas: “História, Pesquisa e Biodiversidade do Monumento Natural das Ilhas Cagarras“, lançado em abril deste ano. É o primeiro estudo científico publicado sobre a região e 3 mil exemplares com texto ilustrado com aquarelas e 500 fotos, inclusive submarinas, estão sendo distribuídos gratuitamente para museus, escolas, universidades e bibliotecas. Além disto, o Ilhas do Rio produziu um documentário, “Ilhas Cagarras – Monumento Carioca”, com imagens raras e exclusivas do arquipélago, entrevistas com os biólogos e especialistas, além de cenas extras do fundo do mar, gravadas em 3D. Com duração de 30 minutos, o DVD também será distribuído gratuitamente em escolas, bibliotecas, universidades e museus do Rio de Janeiro.
Os pesquisadores do Ilhas do Rio, coordenados pelo biólogo marinho Carlos Rangel, fizeram descobertas: catalogaram mais de 600 espécies de dentro dos limites da unidade de conservação e mais outras 100 pescadas no seu entorno pelos pescadores artesanais da Colônia de Copacabana (Z-13). Foram 50 espécies de algas, 135 de peixes e 157 de invertebrados bentônicos, dos quais 7 são provavelmente novos para a ciência.
Na parte terrestre, foi estudada a mata semelhante à restinga e inventariadas 157 espécies de ervas a árvores.
Os estudos confirmaram a abundância da bromélia Neoregelia cruenta, a clúsia, e a palmeira-jerivá, os símbolos do Monumento Natural, que podem ser vistas de Ipanema. Outra espécie bem comum nas ilhas é a palmeira-guriti (Allagoptera arenaria), que está em processo de extinção. Também rara, uma das espécies encontradas, a Gymnanthes nervosa, não aparecia em registros no município do Rio de Janeiro desde a década de 1940. Outra descoberta importante é a indesejável presença do capim-colonião (Megathyrsus maximus), de fácil combustão, que age como uma praga, ocupando o lugar de plantas nativas da região.
Além disto, as pesquisas nas ilhas, que entraram para o mapa brasileiro em 1585, revelaram outras surpresas: foram achados vestígios arqueológicos, como cacos de cerâmica e machados de pedra, que remetem à passagem de índios Tupis-guaranis por lá. O Museu Nacional foi chamado a estudar o material encontrado e o local foi cadastrado no IPHAN como sítio arqueológico.
Com o merecido destaque, a pesquisa sobre a qualidade das águas no entorno do arquipélago mereceu um capítulo do livro, feito com base no resultado da análise de 48 amostras, coletadas mensalmente no período de um ano, entre agosto de 2011 e julho de 2012, para determinação de parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. A conclusão reforça a tese de que o Emissário Submarino de Esgoto de Ipanema e as águas poluídas da Baía de Guanabara podem influenciar na biodiversidade marinha da Unidade de Conservação.
O comprometimento da qualidade da água pode estar ligado ao desaparecimento dos golfinhos das Cagarras. Os animais costumavam frequentar as ilhas, porém, desde 2011, suas aparições estão cada vez mais raras, e a principal espécie (Golfinho Flíper), que usava a área para cria de filhotes, não tem sido vista no arquipélago. O primeiro registro da presença desta espécie no local ocorreu em 2003 e até 2010, 29 golfinhos foram identificados e catalogados, em um total de 432 ocorrências.
Mesmo assim, o livro mostra que as águas ao redor do MONA Cagarras continuam sendo uma importante fonte de pesca para as principais colônias artesanais do Rio de Janeiro, em especial para a de Copacabana. O capítulo destinado ao assunto traz um levantamento completo das modalidades de pesca realizadas na região, espécies de peixes capturadas, épocas de escassez e abundância de cada uma e considerações a cerca das regulamentações que devem ser adotadas para que a atividade pesqueira seja realizada de forma ordenada e sustentável. A região é farta em espécies como garoupas, sargos, badejos, olhetes, enxadas, pargos e bodiões.
Clique nas imagens para ampliá-las. | ||
Leia também
Pesca predatória é flagrada nas ilhas cagarras
Fotografia: Na costa de Ipanema, as deslumbrantes Ilhas Cagarras
Mar urbano. Uma visão submarina do Rio
Leia também
Novas espécies de sapos dão pistas sobre a história geológica da Amazônia
Exames de DNA feitos em duas espécies novas de sapos apontam para um ancestral comum, que viveu nas montanhas do norte do estado do Amazonas há 55 milhões de anos, revelando que a serra daquela região sofreu alterações significativas →
Documentário aborda as diversas facetas do fogo no Pantanal
“Fogo Pantanal Fogo” retrata o impacto devastador dos incêndios de 2024 sobre o cotidiano de ribeirinhos e pantaneiros e as consequências das queimadas para a biodiversidade →
R$ 100 milhões serão destinados à recuperação de vegetação nativa na Amazônia
Com dois primeiros editais lançados, programa Restaura Amazônia conta com recursos do Fundo Amazônia e da Petrobras →