Ao longo dos séculos os morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) foram cercados por mitos e lendas que não lhes são muito favoráveis. Certamente, isto tem a ver com o fato de que para se alimentar, se aproximam das sua presas à noite, enquanto elas dormem. Com seus dentes afiados, abrem um corte na pele de seus hospedeiros e lambem o sangue que escorre. E como suas vítimas são aves e mamíferos acabam contraindo e portando a raiva, e por isso foram considerados como uma praga. Infelizmente, esta notoriedade acabou se espalhando por todas as espécies de morcegos: foram taxados como demônios, perigosas e vilanescas criatura da noite. Vampiros. A cultura popular certamente não os ajudou, associando o animal à personagens como o Conde Drácula, ou os utilizando para ambientar contos de terror ou, ainda, os tornando um dos símbolos do Dia das Bruxas.
Das mais de 1100 espécies de morcegos, apenas três são hematófagas: Desmodus rotundus, Dhiphylla ecaudata e Diaemus youngii, sendo que estas duas últimas atacam preferencialmente aves e são mais raras. O Desmodus rotundus, conhecido vulgarmente como morcego-vampiro ou morcego-vampiro-comum é o mais abundante e encontrado nas tocas e cavernas úmidas das regiões tropicais das Américas, do Norte do México ao Norte da Argentina, ocorrendo, portanto, em território brasileiro: o vampiro comum é das espécies de morcegos mais comuns no sudeste do Brasil .
Tem de pelagem curta e macia, com pele cinza-prata no dorso, ficando mais escura às costas. O pêlo também ocorre em tons avermelhados, dourados ou mesmo alaranjados. Suas orelhas são pequenas, pouco arredondados. O lábio inferior profundamente sulcado e o nariz achatado, em forma de folha. Os polegares nas pontas das asas têm garras bem desenvolvidas que permitem ao animal escalar a presa e o auxiliam ao levantar vôo.
O morcego-vampiro-comum atinge cerca de 9 cm de comprimento e comumente pesa cerca de 25 e 40 gramas. A envergadura — distância entre as pontas das asas abertas — em torno de 35 cm. A espécie apresenta dimorfismo sexual: as fêmeas são maiores que os machos.
A espécie prefere ambientes de floresta úmida, cerrado, campos e regiões áridas. Nestes ambientes procuram lugares escuros como cavernas, minas, túneis, bueiros, ocos de árvores, e até mesmo prédios abandonados. Gregários, os vampiros formam colônias de 20 a 100 indivíduos, podendo, em ocasiões a chegar a 2000 indivíduos. Morcegos-vampiros são altamente cooperativos entre si e esta característica é bem observada na forma altruística de partilha de alimentos: quando um morcego não é bem sucedido na caça, solicita ao vizinho alimento, que regurgita sangue para alimenta-lo. Em outro exemplo, as fêmeas lactantes em abrigos irão alimentar os jovens cujas mães morreram , e também aqueles cujas mães ainda estão vivos.
Assim como a maioria dos morcegos, o Desmodus rotundus possui hábitos noturnos. Diferente do que se acredita, os morcegos não são cegos. Aliás, têm boa visão. Mas orientam-se preferencialmente por um sistema de ecolocação, no qual emitem sons através de sua boca ou narinas. O som atinge o obstáculo ou o potencial alimento e ecoa de volta ao morcego, trazendo informações perfeitas sobre o tamanho, o formato e a direção de deslocamento do objeto.
O morcego-vampiro se alimenta estritamente de sangue, tanto de aves como de mamíferos, podendo consumir até 30 mililitros de sangue em uma única noite. Prefere mamíferos de grande porte como cavalos, bovinos, e suínos. A fartura destas fontes graças à agropecuária têm levado ao aumento da espécie nos últimos 300 anos. Atrelado a este aumento populacional surgem sérios problemas sanitários e econômicos, como por exemplo, a raiva. O perigo não é tanto para a população humana, mas sim para o gado. O ataque de morcegos-vampiros a humanos é raro, mas pode ocorrer em regiões de escassez de outras formas de alimento.
D. rotundus é uma espécie sem um período definido de reprodução, isto é, capaz de se reproduzir durante todo o ano. Mesmo assim, o nascimento da maioria dos filhotes se concentra na estação mais quente e chuvosa. A gestação dura em torno de sete meses, com o nascimento de um filhote por vez. No segundo mês de vida o filhote já recebe alimento regurgitado pela mãe. Os pais cuidam da cria até o quarto mês de vida, a partir do quinto já é considerado independente.
Seu estado de conservação é classificado como pouco preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) por causa de ” sua ampla distribuição, presume grande tolerância populacional a modificação do habitat, e porque é improvável que esteja em declínio na taxa exigida para se qualificar para listagem em uma categoria ameaçada “.
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