Manaus, AM – Crendices populares podem ser inesperadas aliadas na preservação de uma espécie de porco-espinho recém-descoberta na Serra do Baturité, no Ceará. Para sorte desse roedor, há um tabu entre os moradores que evita que ele seja caçado. “O pessoal diz que se matar o porco-espinho vai levar mau-olhado para a família”, conta o biólogo Anderson Feijó, da Universidade Federal da Paraíba.
Ver Serra de Baturité – CE num mapa maior |
Feijó e Alfredo Langguthé são os autores do artigo que descreve a nova espécie de porco-espinho cearense, o Coendou baturitensis, que publicado na semana passada, na Revista Nordestina de Biologia.
Verdade ou mentira, o porco-espinho agradece à maldição popular. Graças ao imaginário dos sertanejos, o baturitensis é mais comum do que uma espécie bem parecida, encontrada em outras regiões do Nordeste, o Coendou prehensilis.
A Serra do Baturité é conhecida como um refúgio de vegetação na região semi-árida, segundo Feijó, devido ao clima por ali mais úmido do que no restante da caatinga. A coleta de um novo espécime na serra cearense permitiu a Feijó verificar com clareza as diferenças entre os dois porcos-espinhos, o baturitensis e o prehensilis.
“Um animal coletado na década de 1950, depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro, foi identificado como outra espécie parecida que ocorre em todo o Nordeste. Mas no ano passado foi feita uma nova coleta, que chegou até a mim”, conta Feijó. A primeira diferença percebida pelos pesquisadores estava no crânio dos animais. Mas depois, outras diferenças foram sendo reveladas. A mais marcante está nas cores. Embora ambos tenham os pêlos com três cores, a nova espécie tem a base esbranquiçada, contra uma cor amarelada nessa parte do pelo da espécie já conhecida. enquanto a já conhecida essa parte do pêlo é amarelada. Outra diferença está na faixa marrom que existe no pêlo das duas espécies. Ela é maior na lateral do baturitensis.
Feijó estudou a variação morfológica de 40 mamíferos de médio e grande porte no Nordeste e acabou nomeando outro bicho. Foi a cutia-de-garupa-laranjauma cutia, já reconhecida como uma espécie distinta, mas que aguardava um registro científico. Agora, ela tem o nome técnico de Dasyprocta iacki. Essa cutia é encontrada desde a Paraíba até, provavelmente, o Ceará. E, curioso, também ocorre na Amazônia, entre os rios Madeira e Tocantins.
![]() |
![]() |
Saiba mais
Artigo original: Mamíferos de Médio e Grande Porte do Nordeste do Brasil: Distribuição e Taxonomia, com Descrição de Novas Espécies. FEIJÓ, Anderson e LANGGUTH, Alfredo. Revista Nordestina de Biologia
Leia também
Cientistas descobrem nova espécie no mundo perdido
Nova espécie de planta descoberta na Caatinga
Análises genéticas revelam um novo gato brasileiro
Leia também
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2024/07/Oeco2_sinalizacao-da-TESP.jpg?resize=600%2C400&ssl=1)
Transespinhaço: a trilha que está nascendo na única cordilheira do Brasil
Durante 50 dias e 740 quilômetros a pé, testei os caminhos da Transespinhaço em Minas Gerais, de olho nos desafios e oportunidades para esta jovem trilha de longo curso →
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2024/07/Screenshot-2024-07-15-at-18.27.44-664x497-1.png?resize=600%2C400&ssl=1)
Indústria da carne age para distrair, atrasar e inviabilizar ação climática, diz relatório
Trabalho de organização europeia analisou 22 das maiores empresas de carne e laticínios em quatro continentes →
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2024/07/Oeco2_Amazon_rainforest_Satellite_picture_-_3.jpg?resize=600%2C400&ssl=1)
Amazônia é mais destruída pelo consumo nacional do que pelas exportações
Consumo e economias das grandes cidades do centro-sul são o principal acelerador do desmatamento da floresta equatorial →