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Lar doce lar

Uma ong paranaense desenvolve ninhos artificiais para incentivar a reprodução de papagaios-da-cara-roxa, ameaçados de extinção. Pelo visto, eles aprovaram.

Dimitri do Valle ·
22 de março de 2005 · 20 anos atrás

As chances de reprodução do papagaio-da-cara-roxa, habitante de uma pequena faixa de Mata Atlântica, aumentaram com uma ajudinha dos humanos. Desde novembro, os membros da Sociedade de Proteção da Vida Selvagem (SPVS) estão fabricando e colocando na mata “caixas-ninhos”, substituindo os de arquitetura passarinhática.

Os novos ninhos têm jeitinho de conjunto habitacional, mas conseguem proteger casal e filhotes de predadores. Das 15 caixas instaladas, 13 foram ocupadas – como se os pássaros tivessem entendido e aceito sua finalidade. Os papagaios costumam fazer ninhos nos troncos ocos das árvores. As aberturas, às vezes, ficam muito próximas do solo, o que facilita o ataque de outros animais e até de gente daquela categoria desprezível: os traficantes de pássaros.

A SPVS é uma organização não-governamental de Curitiba com sete anos de projeto de preservação do cara-roxa, ameaçado de extinção justamente por causa do tráfico. No resto do país, a introdução de ninhos artificiais também ajuda a salvar outras espécies de aves. Em florestas de araucária do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, ambientalistas garantem com a ajuda dos caixotes de madeira a reprodução do papagaio charão. No Pantanal, a caixa-ninho serve como abrigo para que a arara-azul possa se multiplicar.

Para ter certeza de que os papagaios-da-cara-roxa iriam se adaptar ao novo lar, os biólogos envolvidos no projeto da SPVS posicionaram as caixas próximas aos locais onde geralmente ocorre o acasalamento. “Esses pássaros têm a característica de voltar aos locais de reprodução”, conta a bióloga Elenise Sipinski, coordenadora do projeto de conservação do papagaio. Segundo ela, a caixa é considerada uma morada melhor que a original (foto). “Provavelmente aprovaram porque viram que o local é seco e com tamanho ideal, muitas vezes com mais espaço do que o encontrado nos troncos de árvores”, acrescenta Elenise.

A idéia é aumentar o número de ninhos artificiais a cada período de reprodução. Como está sendo a primeira temporada da experiência no Paraná, o número de novos ninhos vai depender da ninhada que irá sair dos caixotes, que medem um metro de altura por 50 centímetros de largura. Eles são capazes de abrigar um casal de papagaios e três filhotes, o número máximo de reprodução desses animais.

O cara-roxa é um genuíno filho do Brasil. Pode ser encontrado apenas numa faixa litorânea que vai do sul de São Paulo ao norte de Santa Catarina. Na região de Guaraqueçaba, no Paraná, onde fica uma ampla reserva de Mata Atlântica, na qual a experiência da ONG é realizada, está concentrada a maior população da ave, cerca de 3 mil animais.

* Dimitri do Vale tem 30 anos e é jornalista em Curitiba.

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