Notícias

Manaus: Linhão de Tucuruí ameaça Reserva Ducke

Pesquisadores denunciam desmatamento ilegal da Eletrobrás. Corte de árvores é feito para a concluir linha de transmissão de hidrelétrica

Vandré Fonseca ·
1 de setembro de 2014 · 11 anos atrás
Caminhos clandestinos estão sendo abertos, permitindo a entrada de invasores. Foto: Reserva Ducke / Divulgação.

Manaus, AM O cenário já era ruim. O Linhão de Tucuruí iria passar bem perto, quase tocando os limites da Reserva Florestal Adolpho Ducke, um bloco com quase 10 mil hectares de floresta ao norte da cidade de Manaus, administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A fragmentação decorrente dessa passagem causaria problemas. Um deles é o efeito borda, ressecamento e morte de árvores a partir dos limites da área desmatada em direção o interior da floresta. Outro é o isolamento das plantas e animais que vivem na área, que podem perder a conexão com o bloco de floresta do entorno.

Agora, ficou pior. Pesquisadores do Inpa denunciam que o Linhão está cortando uma parte da reserva. Eles visitaram o local e prepararam um relatório, que demonstra que árvores foram cortadas e que estradas clandestinas foram abertas dentro da Reserva Ducke. “O projeto não foi realizado da maneira original. Ou seja, ele cortou uma parte do canto inferior da Reserva Ducke, cerca meio hectare, com corte raso”, afirma o coordenador de Dinâmica Ambiental do Inpa, Paulo Maurício de Alencastro Graça.

Ele explica que entre os efeitos deste desmatamento está o aumento do risco de incêndios, devido à maior incidência de luz solar e um ambiente mais seco. Além disso, acessos abertos na área estão facilitando a entrada de pessoas na Reserva. “Noś verificamos que existe corte ilegal de madeira dentro da reserva e caminhos clandestinos”, diz Paulo Maurício.

Mapas mostram o projeto apresentado pela Eletrobŕas e os locais onde pesquisadores identificaram desmatamento.

A obra foi licenciada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), mas os pesquisadores já estavam preocupados com os efeitos da obra, antes de denunciarem as diferenças entre o trajeto executado e o previsto. Marcelo Gordo, coordenador do Projeto Sauim-de-coleira da Universidade Federal do Amazonas, afirma que a população desses primatas na área pode ser inviabilizada em médio e longo prazo. “O problema com o linhão é que ele é um importante passo para o isolamento da Ducke e para urbanização do entorno da Reserva”, afirma o biólogo. “Vai tornar ainda mais distante a possibilidade de conectar as populações de fragmentos florestais urbanos a uma população viável de sauins”.

Na última semana de agosto, para apresentar o problema, os pesquisadores se reuniram com representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, advogados do Inpa e também da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. O Ministério Público Federal, que também deveria participar da reunião, não compareceu. O representante da Assembleia Legislativa questionou não apenas a atitude da Eletrobrás, responsável pela obra, e do Ipaam, que concedeu o licenciamento, mas também do Inpa, que segundo ele deveria ter tomado providências para evitar os danos à reserva.

Desmatamento ilegal foi identificado por pesquisadores do Inpa. Foto: Reserva Ducke / Divulgação.

 

Leia também
Reserva Adolpho Ducke sob ameaça do crescimento urbano
Linhão de Tucuruí mata Parque Estadual no Amazonas
Ibama concede licença de operação para o Linhão de Tucuruí

 

 

 

Leia também

Salada Verde
30 de maio de 2025

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento

Mobilização ocorre em ao menos 12 capitais. Protestos estão marcados para ocorrer neste domingo e marcam o início da semana do meio ambiente

Salada Verde
30 de maio de 2025

Chance de aquecimento da Terra ultrapassar 1,5°C aumentou, mostra estudo

Países caminham para que a principal meta do Acordo de Paris seja descumprida. Chance de que o aquecimento fique entre 1,5ºC e 1,9ºC em pelo menos um dos próximo cinco anos é de 86%, diz ONU

Reportagens
30 de maio de 2025

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano

Há 300 anos vivendo no bioma, modo de vida fecheiro envolve a criação de gado para subsistência e a proteção da vegetação nativa

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.