Pouco exploradas, as cavernas são ambientes ricos em espécies ainda desconhecidas. Em dezembro de 2014, uma nova espécie foi descrita na revista da Sociedade Brasileira de Zoologia: trata-se do Ituglanis boticario, peixe que vive exclusivamente em ambientes subterrâneos e foi descoberto durante expedição de pesquisadores na Gruta da Tarimba, em Mambaí (GO), a 500 km de Goiânia.
A ideia da expedição, financiada pela Fundação O Boticário, era propor que o local virasse unidade de conservação de proteção integral. A descoberta ocorreu enquanto os pesquisadores realizavam o diagnóstico ambiental da área de influência e dos ambientes subterrâneos do sistema da gruta. A descoberta do peixe, batizado Ituglanis boticario em homenagem à instituição, só impulsionou o pedido.
Características
O Ituglanis boticario é um peixe pequeno: não passa dos 10 centímetros de comprimento, possui bigodes alongados, olhos pequenos e pouca pigmentação. Seu corpo geralmente apresenta cores claras.
Outra característica da espécie é a presença de odontóides – pequenos dentes bem desenvolvidos localizados próximos às brânquias –, que são utilizados para a fixação do animal em superfícies para evitar que seja levado em correntezas.
Apesar do tamanho, o Ituglanis é um predador que está no topo da cadeia alimentar do habitat onde vive. “Ele é carnívoro, alimentando-se de invertebrados como larvas e besouros. Se você retirá-lo da caverna, criará grande desequilíbrio, pois eles exercem controle populacional de diversas espécies”, explica a doutora Maria Elina Bichuette, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e uma das responsáveis pela pesquisa.
Como é um peixe troglóbio, isto é, adaptado para viver em ambientes subterrâneos, é natural que não possua uma visão muito apurada. Isto não é problema, já que a natureza o adaptou para viver (e sobreviver) no habitat restrito onde vive. O que lhe falta de percepção visual, sobra de percepção sensorial: o Ituglanis boticario percebe cheiros e possui canais sensoriais na pele que permitem distinguir distúrbios na água. Uma vantagem na hora da caça.
Apesar de reinar absoluta nas duas grutas (Tarimba e Nova Esperança) onde foi encontrada, a nova espécie já é apresentada à ciência como animal ameaçado de extinção. Seu habitat está ameaçado pelo desmatamento e expansão do pasto. “A deterioração diminui a capacidade desse ambiente de drenar a água para dentro da caverna, o que reduz a quantidade de alimento disponível no seu interior, prejudicando as espécies que vivem ali”, afirma Maria Elina.
Outra preocupação é o gado das fazendas vizinhas. A urina destes animais aumenta a concentração de ureia e amônia na água, o que pode matar os peixes.
*Com informações da Assessoria de Imprensa da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
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