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Nova espécie de peixe subterrâneo é descoberta no Brasil

Espécie já se encontra ameaçada de extinção. Pesquisadores enviaram proposta ao ICMBio para transformar o local em Unidade de Conservação

Daniele Bragança ·
11 de fevereiro de 2015 · 10 anos atrás
Gruta da Tarimba, em Mambaí (GO), local onde foi descoberto a nova espécie pode virar unidade de conservação. Foto: Pedro Rizzato.

Pouco exploradas, as cavernas são ambientes ricos em espécies ainda desconhecidas. Em dezembro de 2014, uma nova espécie foi descrita na revista da Sociedade Brasileira de Zoologia: trata-se do Ituglanis boticario, peixe que vive exclusivamente em ambientes subterrâneos e foi descoberto durante expedição de pesquisadores na Gruta da Tarimba, em Mambaí (GO), a 500 km de Goiânia.

A ideia da expedição, financiada pela Fundação O Boticário, era propor que o local virasse unidade de conservação de proteção integral. A descoberta ocorreu enquanto os pesquisadores realizavam o diagnóstico ambiental da área de influência e dos ambientes subterrâneos do sistema da gruta. A descoberta do peixe, batizado Ituglanis boticario em homenagem à instituição, só impulsionou o pedido.

Características

O Ituglanis boticario é um peixe pequeno: não passa dos 10 centímetros de comprimento, possui bigodes alongados, olhos pequenos e pouca pigmentação. Seu corpo geralmente apresenta cores claras.

Outra característica da espécie é a presença de odontóides pequenos dentes bem desenvolvidos localizados próximos às brânquias , que são utilizados para a fixação do animal em superfícies para evitar que seja levado em correntezas.

O soberano Ituglanis boticario. Foto: Pedro Rizzato.

Apesar do tamanho, o Ituglanis é um predador que está no topo da cadeia alimentar do habitat onde vive. “Ele é carnívoro, alimentando-se de invertebrados como larvas e besouros. Se você retirá-lo da caverna, criará grande desequilíbrio, pois eles exercem controle populacional de diversas espécies”, explica a doutora Maria Elina Bichuette, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e uma das responsáveis pela pesquisa.

Como é um peixe troglóbio, isto é, adaptado para viver em ambientes subterrâneos, é natural que não possua uma visão muito apurada. Isto não é problema, já que a natureza o adaptou para viver (e sobreviver) no habitat restrito onde vive. O que lhe falta de percepção visual, sobra de percepção sensorial: o Ituglanis boticario percebe cheiros e possui canais sensoriais na pele que permitem distinguir distúrbios na água. Uma vantagem na hora da caça.

Apesar de reinar absoluta nas duas grutas (Tarimba e Nova Esperança) onde foi encontrada, a nova espécie já é apresentada à ciência como animal ameaçado de extinção. Seu habitat está ameaçado pelo desmatamento e expansão do pasto. “A deterioração diminui a capacidade desse ambiente de drenar a água para dentro da caverna, o que reduz a quantidade de alimento disponível no seu interior, prejudicando as espécies que vivem ali”, afirma Maria Elina.

Outra preocupação é o gado das fazendas vizinhas. A urina destes animais aumenta a concentração de ureia e amônia na água, o que pode matar os peixes.

 

*Com informações da Assessoria de Imprensa da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

 

Saiba Mais
Ituglanis boticario, a new troglomorphic catfish (Teleostei: Siluriformes: Trichomycteridae) from Mambaí karst area, central Brazil

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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