O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, publicou nesta quinta-feira (23) a oitava carta endereçada à comunidade internacional. O tema em destaque nesta comunicação foi a adaptação climática, considerada por Corrêa do Lago a “própria essência” do desenvolvimento sustentável em um mundo de mudanças climáticas.
“Nesta carta, convido as Partes e demais atores a refletirem sobre a adaptação sob novas lentes: como o próximo passo da evolução humana. À medida que a era dos alertas dá lugar à era das consequências, a humanidade se depara com uma verdade profunda: a adaptação climática deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação; ela é a primeira parte de nossa sobrevivência”, diz o embaixador, no documento.
Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, Corrêa do Lago e a CEO da COP30, Ana Toni, explicaram que o tema da adaptação, até então visto como secundário no âmbito das negociações, tem ganhado novos contornos e relevância, conforme os impactos das mudanças climáticas se asseveram ao redor do globo.
“A gente sempre apresentou a mitigação como uma coisa local e a adaptação é vista como algo localizado. No entanto, a aceleração dos eventos climáticos colocou a adaptação dentro de uma nova lógica, que é a mesma lógica [de importância] que a mitigação”, disse o presidente designado da COP30.
Sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador de pobrezas, complementam o presidente e a CEO da Cúpula de Belém. De fato, dados do Índice Global de Pobreza Multidimensional de 2025, publicados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 17 de outubro, revelam que 1,1 bilhão de pessoas, de um total de 6,3 bilhões em 109 países, vivem em pobreza multidimensional aguda – mais da metade delas crianças. Desses 1,1 bilhão, 887 milhões vivem em regiões que já enfrentam ao menos um grande risco climático, e 309 milhões enfrentam três ou mais riscos simultaneamente.
Adaptação subfinanciada e subestimada
Segundo a carta, apesar da importância crescente, a adaptação é subestimada e subfinanciada. Embora haja compromissos sucessivos de países para o tema, o financiamento para tal fim ainda representa menos de um terço do total do financiamento climático.
“A falta crônica de investimentos deixa os países vulneráveis, obrigando-os a desviar recursos escassos da saúde, da educação e da infraestrutura para respostas emergenciais e ações de recuperação”.
Atualmente, a meta que existe para recursos em adaptação é de US$ 20 bilhões por ano, mas ela nunca foi cumprida, diz Corrêa do Lago. A demanda dos países menos desenvolvidos é para que este financiamento seja triplicado, o que ainda não chegará nem perto do que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estima que sejam necessários para tal fim: entre US$ 320 a US$ 400 bilhões por ano.
Além disso, Corrêa do Lago e Ana Toni esperam que COP30 avance nas formas que esse financiamento será dado. O ideal é que seja um financiamento concessional – empréstimo que oferece condições muito mais favoráveis do que as praticadas pelo mercado, com taxas de juros baixas ou nulas, e prazos de pagamento mais longos – ou público.
“A conta que temos muito claro para mitigação [o valor necessário para as ações de mitigação], não está claro para adaptação, mas o que estamos propondo é não pensar num valor, mas em quais instrumentos darão acesso a países a este valor”, diz Ana Toni.A 8ª Carta da Presidência da COP pode ser conferida aqui.
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