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Em carta, presidência da COP30 fala em “preparar-se para o imponderável”

Na segunda carta à comunidade internacional, André Corrêa do Lago fala de metas autodeterminadas. Sociedade civil critica ausência de menção ao fim dos fósseis

Cristiane Prizibisczki ·
9 de maio de 2025

A presidência da COP30, sob o comando do embaixador André Corrêa do Lago, publicou na quinta-feira (8) a segunda carta voltada à comunidade internacional. No texto, ele reforça o chamado ao “mutirão global”, fala em mudar a trajetória de relacionamento com o planeta e conclama a todos para que apresentem suas ações na luta climática. A falta de menção ao fim dos combustíveis fósseis – principal causador do aquecimento global – chamou a atenção da sociedade civil, que criticou a ausência.

Na carta, um documento de seis páginas, André Corrêa do Lago fala em preparar-se desde já para o imponderável, recorrendo à ciência e à sabedoria ancestral.

Segundo ele, os modelos de desenvolvimento atuais podem estar ultrapassados para o enfrentamento da complexa e multinível crise climática. Por isso, ele sugere uma abordagem sistêmica e uma “mobilização sem precedentes” pela mudança do clima, em um “mutirão global” para incentivar mais ação e ambição climáticas. 

“A mudança do clima exige que inovemos em direção a novos modelos para novos desafios, à medida que pressupostos do passado se tornam rapidamente obsoletos em um ambiente que muda exponencialmente, e no qual surgem soluções de forma também exponencial, inclusive tanto em evolução quanto impacto”, diz a carta.

De maneira prática, a presidência da COP convida líderes comunitários, acadêmicos e cientistas a explorar a melhor ciência disponível e a sabedoria ancestral para identificar como a instituições podem ganhar exponencialidade no emprego de soluções e versatilidade na resposta “ao imprevisível”.

Ele também propõe um “experimento pioneiro”, no qual indivíduos e organizações são convidados a apresentar suas “contribuições autodeterminadas”. A ideia é que uma plataforma, a ser lançada na Semana do Clima do Panamá, entre 19 e 23 de maio, congregue iniciativas de enfrentamento às mudanças climáticas – já realizadas, que estejam em andamento ou em vias de acontecer.

O embaixador usou como exemplo as ações regenerativas adotadas por agricultores e projetos liderados por jovens que tenham instalado painéis solares em comunidades carentes.

“Nossa cooperação climática global não deve apenas funcionar na realidade de 2025, mas também estar pronta para evoluir e atender às realidades de 2030, 2035 e 2050 […] A Presidência da COP30 deixa aqui um convite aberto a todos os membros da família humana: venham como são e como podem ser. Na moldura do Mutirão Global serão acolhidos todos, independentemente do nível de engajamento, de especialização ou perspectiva”.

Combustíveis fósseis

Novamente, o grande elefante branco da luta climática – o fim do uso dos combustíveis fósseis – deixou de ser tratado. A primeira carta, lançada em 10 de março, apenas citou o tema, sem detalhamento. Nesta carta, o assunto foi sequer mencionado.

Segundo Corrêa do Lago, o tema vai “aparecer de maneira muito significativa” na próxima carta. 

Segundo Andreas Sieber, diretor associados de políticas globais e campanhas da 350.org, e Stela Hershmann, especialista em políticas climáticas do Observatório do Clima (OC), o problema não foi apenas a ausência do tema na carta, mas também o fato de que o assunto, até o momento, não consta na agenda da COP30.

“Os preparativos para a conferência não estão abordando a principal causa da nossa atual perturbação climática. Os combustíveis fósseis, fonte de 75% dos gases de efeito estufa, não aparecem nas negociações. Isso precisa mudar se o Brasil estiver realmente disposto a fazer do seu mutirão (…) um ponto de virada na luta por um planeta habitável”, avaliam em artigo no Climate Home.

Leia a íntegra da segunda carta aqui.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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