O desmatamento na Amazônia em julho chegou a 1.487 km², uma área equivalente à capital paulista (1.521 km²) e um empate técnico em relação a julho do ano passado (1.498 km²). O número se soma aos recordes para o mês atingidos durante o governo Bolsonaro e é o quarto maior da série histórica – todos registrados nos últimos quatro anos. Os números são do sistema DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e foram atualizados nesta sexta-feira (12).
Como a medição oficial do desmatamento na Amazônia é feita sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte, já é possível estimar a área acumulada de alertas em 2022: 8.590 km², a terceira mais alta da série histórica iniciada em 2015, todas também atingidas sob o regime Bolsonaro. A área é equivalente à cidade de Rio Branco, no Acre, a terceira maior capital do Brasil.
O acumulado do ano medido pelo Deter deverá refletir numa taxa oficial de desmatamento acima de 10.000 km² pelo quarto ano consecutivo. Os dados oficiais são medidos por outro sistema do INPE, o Prodes, que é mais acurado que o Deter, mas cujas estimativas são divulgadas somente no final do ano.
Em 2021, o Deter havia emitido alertas para uma área de 8.780 km² no ano, considerando o calendário do desmatamento, o que correspondeu a uma taxa oficial de 13.038 km², segundo o Prodes. Por isso, ainda não é possível descartar uma inédita quarta elevação seguida de destruição na Amazônia. A projeção de especialistas é que esse número possa chegar perto de 15 mil km². Segundo apurou ((o))eco, a estimativa oficial só deverá ser divulgada no final de novembro, portanto, após a Conferência do Clima da ONU, que acontece nas duas primeiras semanas daquele mês.
“É mais um número que estarrece, mas não surpreende: o desmatamento fora de controle na Amazônia resulta de uma estratégia meticulosa e muito bem implementada de Bolsonaro e seus generais para desmontar a governança socioambiental no Brasil”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Desmatamento avança no Amazonas
Pela primeira vez na série histórica do INPE, o Amazonas aparece, em 2022, como o segundo estado mais desmatado na Amazônia (o Pará é o líder), desbancando o Mato Grosso. Foram 3.072 km² de alertas registrados no Pará, 2.291 km² no Amazonas e 1.433 km² no Mato Grosso, no período que vai de agosto de 2021 a julho de 2022.
Segundo o Observatório do Clima, o estímulo ao asfaltamento da BR-319 foi o propulsor desse aumento na destruição da floresta no Amazonas. No último dia 28, foi expedida a licença prévia para o asfaltamento do trecho ambientalmente mais sensível da obra, atropelando pareceres técnicos do próprio governo. A BR-319 corta o maior bloco de florestas intactas na Amazônia.
Os municípios de Lábrea e Apuí, ambos no Amazonas e situados na zona de influência da BR, foram, respectivamente, o 1º e 2º com maior área de alertas de desmatamento de toda região amazônica nos últimos 12 meses.
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