Um ano de pandemia trouxe pequenas mudanças na qualidade de rios e córregos urbanos. É o que aponta o relatório “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica“ realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e divulgado nesta segunda-feira (22), quando é celebrado o Dia Mundial da Água. A pesquisa avaliou 130 pontos de monitoramento, distribuídos em 77 trechos de cursos d’água, em 64 municípios dentro dos 17 estados do bioma entre março de 2020 e fevereiro de 2021.
A Mata Atlântica abrange nove regiões hidrográficas brasileiras, oito delas monitoradas pelo projeto Observando os Rios. Dos 130 pontos monitorados, 95 (73,1%) apresentaram qualidade da água regular, 22 (16,9%) e 13 (10%) estão em boa condição. Não foram identificados trechos de qualidade ótima ou péssima.
De acordo com os especialistas da SOS Mata Atlântica, os dados do monitoramento indicam uma “tendência de melhoria na qualidade ambiental de rios e córregos urbanos ao longo de 2020 por conta de avanços nos índices de coleta e tratamento de esgoto e do isolamento social que resultou na redução de fontes difusas de poluição, como lixo e material particulado proveniente da fuligem de veículos automotivos”. Os analistas alertam, entretanto, para o fato de que a melhoria só se tornará perene se for acompanhada de investimentos contínuos em saneamento ambiental e na proteção de matas nativas e áreas verdes.
Apesar da ligeira melhora nos índices, o relatório aponta que os dados retratam a fragilidade da condição ambiental em 73% dos principais rios monitorados do país. Outro ponto de ressalva dos especialistas foi sobre a pressão do uso doméstico da água durante a pandemia, principalmente em regiões impactadas por secas e vazões hidrológicas reduzidas.
“A qualidade da água doce superficial é sazonal e muito suscetível às condições ambientais das suas bacias hidrográficas; às variações e impactos do clima; aos usos do solo e às atividades econômicas predominantes nas regiões hidrográficas. Por isso, os índices de qualidade da água apontados neste ciclo de monitoramento são calculados com base na média dos indicadores obtidos em cada ponto de coleta, nas análises mensais, realizadas de forma continuada no período de 12 meses. A precariedade dos índices de qualidade da água está diretamente ligada à saúde das populações, do ambiente e à sustentabilidade das regiões monitoradas”, descreve o documento.
O relatório reforça ainda a importância estratégica de investir na recuperação da Mata Atlântica e nas áreas verdes para garantir os serviços ambientais essenciais à qualidade da água e à perenidade de nascentes e mananciais, assim como a necessidade de universalizar os serviços de tratamento de água e esgoto.
Os 13 pontos que alcançaram o índice de qualidade de água boa são: no estado de Alagoas, os rios Coruripe e Pratagy, nos municípios de Coruripe e Maceió; no Espírito Santo, o rio Biriricas, no município de Domingos Martins; em Goiás, dois pontos do rio Corumbá, ambos no município de Água Limpa; no Mato Grosso do Sul, o córrego Bonito, no município de Bonito; na Paraíba, os rios Paraíba e Sanhuá, nos municípios de Cabedelo e João Pessoa; e no estado de São Paulo, o rio Piray, em Indaiatuba, o rio Caiacatinga e o córrego São Luiz, ambos no município de Itu, o rio Tietê, em trecho no município de Salesópolis — onde fica sua nascente — e o rio Jundiaí, em Salto.
O relatório também comparou a situação de 95 pontos que já eram monitorados desde o ciclo anterior (2019-2020). Em 10 pontos houve melhora na condição da qualidade da água e em outros 10 houve piora, e em 75 pontos os indicadores se mantiveram estáveis.
No caso do rio Tietê, dos 14 pontos de monitoramento fixos, quatro apresentaram melhora e um deles piorou seu indíce. Além do ponto na cidade de Salesópolis, o rio saiu da condição ruim para regular nas cidades de Itu, Salto e Santana de Parnaíba. Já no município de Itaquaquecetuba, foi de regular para ruim.
A diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, reforça que apesar do Tietê sempre ser associado às altas cargas de poluição que recebe, apenas um ponto do rio paulista apresentou piora de qualidade. “Esse ponto, localizado no município de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, vem sofrendo com o aumento acelerado de ocupações irregulares entre as cidades de Mogi das Cruzes e Suzano, em área de risco para as populações. Conseguir que um grande rio como o Tietê apresente esses indicadores, pode parecer pouco, mas reforça a importância de investir de forma contínua em saneamento básico”, aponta Malu Ribeiro.
Entre os pontos que pioraram de situação estão oito locais que passaram da condição regular para ruim, localizados nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco (dois pontos), Rio Grande do Sul (dois pontos) e São Paulo (dois pontos). No estado paulista estão ainda outros dois pontos onde a qualidade da água passou de boa para regular.
“A gente já fala há muitos anos que a situação de um rio é o espelho do comportamento da sociedade. O processo de degradação de um corpo d’água, por lançamento de esgotos sem tratamento ou desmatamento de suas margens é rápido, mas, a recuperação pode demandar muitos anos. Por isso, os indicadores e dados mudam pouco, mas os rios têm, em geral, boa capacidade de se recuperar, desde que não fiquemos parados. É preciso agir agora, mudar a nossa forma de gestão e governança e como consumimos a água“, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios da Fundação SOS Mata Atlântica.
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