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Bagre de cor rara é encontrado pela primeira vez no Parque Nacional da Tijuca

A aparência toda dourada é uma variação de coloração raríssima apresentada por uma espécie de bagre nativa da Mata Atlântica e só havia sido registrada uma única vez, em SP

Duda Menegassi ·
16 de fevereiro de 2024

Nem tudo o que reluz é ouro, já avisa o ditado popular. Mais raro do que a pedra preciosa, entretanto, foi o encontro de pesquisadores com um bagre de corpo dourado no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. A espécie, em si, não é difícil de achar. Só que normalmente o peixe apresenta padrões de cor amarela com manchas pretas espalhadas pelo corpo em formatos variados. A coloração majoritariamente dourada, sem manchas, encontrada em três peixes nas águas do parque carioca só havia sido registrada uma única vez, em São Paulo.

“Na hora da coleta a gente percebeu esse padrão de colorido que é bem diferente. Nós coletamos majoritariamente indivíduos com manchas de sela [no dorso], esses dourados são diferentes por não apresentarem essas manchas”, explica o biólogo da UFRJ Axel Katz, um dos autores do estudo, publicado no periódico científico Zootaxa

Apenas três bagres – dos cerca de 40 coletados no parque carioca – exibiram esse padrão de cor todo dourado. 

Até então, essa coloração toda dourada só havia sido registrada uma única vez para a espécie, no município paulista de Cajati. A distribuição do bagre (Trichomycterus jacupiranga) está associada à Mata Atlântica e se estende pelos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. 

Para o levantamento, os pesquisadores fizeram coletas em sete pontos diferentes do Parque Nacional da Tijuca, distribuídos ao longo de quatro pequenos rios, além da localidade em que a espécie foi originalmente descrita, na bacia do Rio Ribeira do Iguape, em São Paulo.  

Diante das fotos enfileiradas dos bagres, com variações nas cores e no padrão das manchas, um leigo pode facilmente achar que se tratam de peixes de espécies diferentes. Até mesmo para os especialistas, a resposta não é óbvia – e confirmá-la era parte do objetivo dos pesquisadores do Laboratório de Sistemática e Evolução de Peixes Teleósteos, do Instituto de Biologia da UFRJ. 

Nas letras a, b e c, os bagres “douradinhos”, completamente diferente dos demais padrões da espécie. Fonte: “Chromatic polymorphism in Trichomycterus jacupiranga from eastern Brazilian Coastal basins (Siluriformes: Trichomycteridae)”/Zootaxa/Reprodução

Com análises de DNA, foi confirmado o veredicto científico. Os bagres do Parque Nacional da Tijuca – independente das suas variações de cor – de fato pertencem todos à mesma espécie (Trichomycterus jacupiranga).

“É importante salientar que, desde 2002, o grupo de estudos da UFRJ faz coletas nas bacias costeiras da Mata Atlântica, incluindo a área do Parque Nacional da Tijuca. Nessas coletas, nós já encontramos vários exemplares de Trichomycterus jacupiranga, no entanto, só desta vez que conseguimos obter esses três indivíduos que confirmaram a existência da coloração dourada, pela primeira vez, no estado do Rio de Janeiro”, explica Paulo Vilardo, um dos três autores do estudo.

O “douradinho” representa apenas uma faceta – talvez a mais rara – de uma gama de aparências adotadas pelo pequeno bagre de água doce. Essa característica é chamada pela ciência de polimorfismo cromático. O motivo por trás dessas diferentes aparências do bagres, entretanto, ainda é um mistério para os cientistas.

Os bagrinhos, que medem entre 3 e 4 centímetros, fazem mais do que exibir suas cores por aí e são gigantes quando o assunto é natação. O biólogo Axel Katz reforça a importância dos bagres na colonização de áreas altas e no controle biológico de mosquitos. 

“Esses peixes são capazes de escalar as cachoeiras e chegar até os pequenos rios que ficam acima delas, nadando contra a correnteza. Para conseguir essa façanha, eles utilizam pequenos dentes  chamados de odontódeos , situados fora da cavidade bucal e que, com o movimento do peixe, grudam nas fendas, auxiliando na subida. É desta maneira que eles colonizam as áreas acima das cascatas, onde costumam ser soberanos, sem competirem com outros peixes, o que é uma vantagem do processo evolutivo deles”, detalha o biólogo da UFRJ. 

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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