Circula nas redes sociais um vídeo da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, com águas límpidas e tartarugas nadando próximas à margem. As imagens, de autor ainda desconhecido, foram gravadas próximas do aeroporto Santos Dummont, um trecho famoso por apresentar águas turvas e poluição plástica. A melhoria na qualidade visível da água está sendo atribuída à quarentena por causa do coronavírus, mas especialistas ouvidos por ((o))oeco esclarecem que se trata de um fenômeno mais corriqueiro: a do ciclo da maré.
“Não tem nada a ver com a quarentena… Conforme publicamos em 1998, os ciclos de maré diários têm influência na qualidade das águas na baía. Estamos em ciclos de maré cheia, e a gravação certamente foi feita em um momento de maré alta e águas mais claras. Somente isso”, explica Rodolfo Paranhos, coordenador do Laboratório de Hidrobiologia da UFRJ, que há 20 anos acompanha a qualidade das águas da Baía.
O ciclo natural da mudança na maré e a ocorrência de duas ressacas no início de abril – que trouxe mais água limpa pra dentro da Baía – ajudaram a dar esse gostinho do que seria rotina caso a região metropolitana do Rio de Janeiro não depositasse mais da metade do esgoto in natura ali.
“Eu já observei isso dezenas de vezes, até na filmagem do [documentário] Baía Urbana, quando eu fiz as filmagens na Praça XV, quando filmei as arraias, foi logo depois daquela ressaca que derrubou a ciclovia [em 2016]. Fui na praça XV e filmei embaixo das barcas. Então não muito a ver com a quarentena, na verdade, não tem nada a ver com a quarentena”, explica o biólogo e documentarista Ricardo Gomes, que por mais de 20 anos mergulha na Baía de Guanabara. “Se tem alguma coisa que a quarentena está fazendo pra Baía de Guanabara é o carioca acordar o quanto nós somos insignificantes em relação ao Meio Ambiente e quão importante é o oceano para a gente continuar sonhando em habitar esse planeta”, diz.
Sem a mudança na causa da poluição, a falta de saneamento, o respiro de ter água transparente e fauna marinha próxima do coração da cidade continuará episódico.
“Está todo mundo dentro de casa e o esgoto está indo da mesma maneira para Baía de Guanabara”, explica Gomes.
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Mentira. Caminho no Aterro sempre, e as águas estão cristalinas. Só foi começar essa quarenta e as pessoas pararem de frequentar as praias e elas ficaram limpas. O ser humano polui as praias.
Você não entendeu. O ciclo comentado acima pode estar coincidindo com a quarentena, por isso você notou a diferença. Eles não comentaram nada sobre praias.
Infelizmente nem com a quarentena a água dos rios e corregos da região melhorou a qualidade. Enquanto não tivermos 100% do esgoto doméstico tratado não resolveremos essa questão.