A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) foi eleita nesta quarta-feira (15) para presidir a Comissão da Amazônia e Povos Originários da Câmara dos Deputados. O colegiado terá como principal função discutir e votar propostas relativas ao desenvolvimento da região amazônica e assuntos indígenas, como regime das terras tradicionalmente ocupadas por esses povos. É a primeira vez que uma pessoa indígena assume a presidência de uma comissão no Congresso.
Cèlia Xakriabá dedicou-se, a partir da liderança consolidada dentro e fora do movimento indígena, a articular uma perspectiva de defesa aos territórios para outros biomas, além da Amazônia, com destaque para o Cerrado, onde está seu povo, os Xakriabás. Mestra em Desenvolvimento Sustentável e doutoranda em antropologia na Universidade Federal de Minas Gerais, Célia foi a primeira mulher indígena a integrar a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, onde permaneceu de 2015 a 2017.
Em 2019, passou a atuar como assessora parlamentar no Congresso Nacional no mandato da deputada federal Áurea Carolina (PSOL) e, em 2021, foi uma das representantes indígenas que compareceram na 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, a COP-26, em Glasgow, no Reino Unido. Foi eleita deputada federal por Minas Gerais com mais de 100 mil votos.
“Quem é que vai ter condições de enfrentar a bancada ruralista se não a bancada indígena e a bancada do cocar?”, questionava Célia ainda durante as eleições, em 2022. Ao todo, sete indígenas foram eleitos para esfera federal no último pleito.
Vozes dos territórios
Ao assumir a presidência da Comissão Amazônia e Povos Originários, Célia Xakriabá reafirmou a necessidade de proteção mais ampla, com políticas que potencializem os saberes dos povos e a conservação em todos os biomas, não apenas na Amazônia. A parlamentar citou ainda os danos causados pela mineração no estado de Minas Gerais. “Assumir o protagonismo da luta não é assumir a voz de uma parlamentar indígena, mas é assumir as vozes do território”, pontuou em seu discurso.
A deputada lembrou, ainda, que a Organização das Nações Unidas (ONU) aponta a demarcação de terras indígenas como um dos principais instrumentos para o enfrentamento às mudanças climáticas. E destacou o fomento à agricultura indígena como uma dentre as várias tecnologias sociais ancestrais que podem ser utilizadas como dispositivo de proteção territorial. “Todo mundo fala tanto de economia, mas é importante a gente falar também da bioeconomia”, completou Célia.
A depender do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desenvolvimento da agricultura indígena demandará atenção. Lula prometeu, na abertura da Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, na última segunda-feira (13), que criará meios para a agricultura indígena também receber subsídio governamental para se desenvolver – atualmente esse investimento não existe. A fala ocorreu após o presidente conhecer os métodos produtivos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, juntamente com a presidenta da Funai, Joênia Wapichana, que é original do local, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e o líder Yanomami, Davi Kopenawa, entre outras lideranças locais.
Leia também
Sônia Guajajara, Célia Xakriabá e mais cinco indígenas se elegem ao Congresso Nacional
Sete representantes dos povos originários foram eleitos na esfera federal, e dois na esfera estadual. Sônia e Célia prometem liderar a ‘bancada da terra' →
“Precisamos mais do que um Ministério Indígena”, diz Sônia Guajajara
Em entrevista exclusiva ao ((o))eco, a candidata a deputada federal pelo PSOL de São Paulo, diz que não aceitaria o ministério indígena, mas sim o do meio ambiente →
Indígenas buscam eleger bancada para “aldear” Congresso e Assembleias
Representantes de povos de todo o país buscam candidaturas nos legislativos estaduais e federal. O movimento reforça o debate das questões ambientais →