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Sônia Guajajara, Célia Xakriabá e mais cinco indígenas se elegem ao Congresso Nacional 

Sete representantes dos povos originários foram eleitos na esfera federal, e dois na esfera estadual. Sônia e Célia prometem liderar a ‘bancada da terra'

Débora Pinto ·
7 de outubro de 2022 · 1 anos atrás

Joênia Wapichana não se reelegeu, mas a presença indígena no Congresso será ampliada a partir de 2023. Sete candidatos declarados indígenas conseguiram se eleger ao legislativo federal e dois ao estadual. No congresso cinco são representantes de partidos progressistas e dois de direita. 

Sônia Guajajara (PSOL/SP) e Célia Xakriabá (PSOL/MG), foram as candidatas que contaram com votações expressivas em seus estados e foram as únicas eleitas dentre os apoiados pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) Apib

No total, os indígenas contabilizaram 182 candidaturas, a maior quantidade desde que a declaração étnica passou a ser realizada em 2014.  Joênia Wapichana (REDE/RR), foi a única pessoa indígena a atuar como congressista durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL), após um jejum de 35 anos sem um representante dos povos tradicionais ocupar uma vaga de parlamentar desde que Mário Juruna foi deputado federal, entre 1981 e 1987.

Para o Senado Federal foram eleitos Wellington Dias (PT-PI) e o atual vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos/RS), que teve sua identidade indígena colocada em dúvida durante a campanha e apoia a reeleição de Jair Bolsonaro à presidência no Segundo Turno, em 30 de outubro.

Já para a Câmara, além de Sônia e Célia, elegeram-se Juliana Cardoso (PT/SP) – que já tinha conquistado uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo como primeira vereadora indígena do estado; e Paulo Guedes (PT/MG) que se autodeclarou indígena este ano, porém em 2018 se elegeu como pardo. 

Somando a ala de direita entre os indígenas também está Silvia Waiãpi (PL/AP), que é próxima da senadora eleita pelo PL do Distrito Federal, Damares Alves. Waiãpi é Segunda Tenente do Exército e na gestão de Bolsonaro chegou a chefiar a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), envolvendo-se em polêmicas e acusações do Ministério Público de criar entraves na saúde indígena. 

Nesta mesma direção, conseguiram cadeiras para as Assembleias estaduais Capitão Assumção  (PL/ES) e Amanda Armelau, conhecida como Índia Armelau (PL/RJ). 

A candidatura indígena, promovida pela APIB apoiou um total de 30  candidatos em uma articulação eleitoral inédita no país com a intenção de levar a representatividade política dos povos originários ao Congresso Nacional e às Assembleias estaduais. O protagonismo feminino já era reconhecido como parte importante desse processo, mas dentre os critérios para o apoio institucional, também estavam o comprometimento com a defesa das pautas ambientais, o alinhamento com a defesa dos indígenas e seus territórios e a representatividade aprovada pelas comunidades de origem, além da filiação partidária a partidos do campo progressista.

Bancada do cocar

Sonia Guajajara, que recebeu aproximadamente 155 mil votos,  é originária da Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, mas candidatou-se em São Paulo por entender a responsabilidade do estado na preservação dos biomas brasileiros, em especial da Amazônia, devido ao grande poder econômico do estado. 

Em entrevista ao ((o)) eco, a liderança afirmou que estará no Congresso para compor a ‘bancada da terra’, uma frente voltada à defesa do meio ambiente e que espera unir também os não-indígenas no enfrentamento à bancada ruralista.

“Fico extremamente feliz e orgulhosa de ver que São Paulo atendeu ao chamado de aldear a política e me elegeu para honrar a missão de levar ao Congresso a força e a ancestralidade dos povos indígenas. Farei valer cada voto e não medirei esforços para garantir a demarcação de terras indígenas, a proteção da Mata Atlântica, da Amazônia e de todos os biomas brasileiros, defendendo a agroecologia para combater a fome e garantir comida sem veneno no prato de todo brasileiro. Por fim, de tantas possibilidades estatísticas que eu, mulher indígena, poderia ocupar, fico muito feliz e orgulhosa em saber que hoje faço parte da estatística de mulheres que ocupam uma cadeira no Congresso Nacional lutando pela mãe de todas as lutas: a luta pela Mãe Terra”, declarou Sônia à imprensa após a vitória.

A mineira Célia Xakriabá recebeu aproximadamente 100 mil votos e chega ao posto parlamentar com a experiência de ter representado os povos indígenas na 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, no Reino Unido, além de ter participado ativamente da denúncia contra o Jair Bolsonaro pelo genocídio contra os povos indígeas no Tribunal de Haia. É professora, mestre, e foi a primeira mulher indígena a entrar no doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais  (UFMG). Trabalhou ainda na Secretaria de Estado de Educação com as escolas indígenas, quilombolas e do campo e foi assessora parlamentar da deputada Áurea Carolina. 

“Sempre lutamos do lado de fora do Congresso. Fugir da luta não é uma opção para nós, que temos nossos territórios constantemente atacados. Decidimos então, fazer esse enfrentamento do lado de dentro, contra a bancada ruralista, contra o agronegócio, pela demarcação dos territórios indígenas e comunidades tradicionais e pelo meio ambiente”, afirmou  a futura deputada em seu discurso de vitória.

  • Débora Pinto

    Jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, atua há vinte anos na produção e pesquisa de conteúdo colaborando e coordenando projetos digitais, em mídias impressas e na pesquisa audiovisual

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Comentários 2

  1. Nathan Oliveira diz:

    Tenho uma Phyllomedusa como pet
    É uma perereca e acredite, entre gatos, cães e ela, ela é o animal mais carinhoso e amigável que já tive
    As pessoal gostam de falar que elas não sente afeição (coisa que é pura mentira), mas Alice é simplesmente um animal incrível


  2. Nilza Dias diz:

    Estou numa situação parecida, não suporte pássaros em gaiolas, mas resgatei um em uma gaiola minúscula, não acredito que seja domesticado pois não deixa eu passar a mão, quero muito soltar ele, sofro todos os dias vendo ele preso, mas ao mesmo tempo tenho medo dele morrer se soltar, estou num dilema enorme, me ajude, solto ou não