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Conheça oito espécies da flora invasora que ameaçam a biodiversidade brasileira

Desde a jaqueira ao lírio-do-brejo, ((o))eco lista as espécies invasoras de plantas que ocupam o maior número de unidades de conservação federais do país

Vinicius Nunes ·
25 de abril de 2025

Espécies invasoras simbolizam uma das principais ameaças à biodiversidade nativa. A chegada desses intrusos compromete o equilíbrio ecossistêmico, na medida em que competem por recursos e território com as espécies locais. Este é um desafio tanto para a fauna quanto para a flora.

No início deste ano, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou uma lista com as Espécies Exóticas Invasoras presentes nas Unidades de Conservação (UCs) federais. Entre fauna e flora, são mais de 2.900 registros de um total de 290 espécies invasoras espalhadas em mais de 200 UCs federais pelo país. Ao todo, foram 156 UCs com ocorrência de espécies invasoras da flora.

As espécies invasoras – quase sempre – são resultado de dispersão acidental ou intencional de atividades humanas. Sua capacidade para se adaptar ao novo ambiente, facilitada às vezes pela ausência de predadores ou de competição naquele local, põe em risco a biodiversidade nativa a partir de fatores como a competição, predação e até transmissão de doenças.

Da jaqueira ao lírio-do-brejo, ((o))eco apresenta abaixo as oito espécies invasoras da flora presentes no maior número de unidades de conservação federais do Brasil. Confira a lista:

1. Mangueira (Mangifera indica)

A mangueira é a espécie invasora de flora presente em mais UCs federais pelo Brasil. Foto: Maria Marinho/Wikimedia/CC BY-SA 3.0

Não se iluda: o gosto saboroso da manga não é fruto de sua brasilidade. A mangueira é uma árvore originária da Ásia e foi transportada ao Brasil a partir da chegada de Dom João VI, em 1808. O monarca trouxe consigo alguns exemplares vindos de terras conquistadas pelos portugueses, como da cidade de Goa, na Índia.

Das mãos do rei pro Brasil, a mangueira está presente em pelo menos 53 unidades de conservação federais no Brasil. Por ter origem em um ambiente tropical, a mangueira mostrou facilidade para se adaptar à realidade do país. Já incorporada ao cardápio dos brasileiros, a espécie é cultivada em todas as regiões do país, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

2. Capim-gordura (Melinis minutiflora)

A ampla dispersão de sementes do capim-gordura o coloca como uma ameaça à biodiversidade nativa. Foto: Nicolas Ramirez/Wikimedia/CC BY-SA 4.0

Presente em 43 UCs federais, o capim-gordura é mais uma espécie de flora que ameaça a biodiversidade nativa e aumenta os riscos de incêndios em áreas naturais. Com origem africana, este representante da família gramínea foi introduzido ao Brasil como fonte de alimento para animais de pastagem. O óleo produzido pelas glândulas presentes em sua folha e talo possui um odor que repele carrapatos, o que mostrou-se um atrativo para a pecuária.

Com tamanho médio de 40 a 60 centímetros, o capim-gordura produz grande volume de sementes, e possuem alto poder de germinação. Em um quilograma, são encontradas entre 13 a 15 milhões de sementes.

Pesquisadores apontam que o capim-gordura apresenta comportamento agressivo e compete sobretudo com a flora do Cerrado. No Parque Nacional de Brasília, por exemplo , a gramínea já se espalhou por  aproximadamente 15% da área do parque.

3. Capim-colonião (Megathyrsus maximus)

Uma das principais ameaças trazidas com o capim-colonião é seu risco de combustão. Foto: Harry Rose/Flickr/CC BY 2.0

O capim-colonião é outro representante da família gramínea na lista de espécies invasoras. Nativo da costa leste africana, esta espécie é mais um exemplo de planta trazida para fins forrageiros – ou seja, alimentar animais de pastagem agrícola. Sua ampla capacidade de dispersão a coloca como uma ameaça à biodiversidade brasileira, já encontrada em 41 UCs federais.

Além da sua rápida dispersão e crescimento, o capim-colonião se destaca pela capacidade de acumular biomassa. Isso significa que em períodos de seca, está suscetível à combustão e, com isso, pode causar incêndios de grandes proporções. Uma ameaça com potencial catastrófico para qualquer unidade de conservação.

No Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras, na costa do Rio de Janeiro, por exemplo, o ICMBio realiza ações para remoção do capim-colonião junto ao replantio com mudas nativas da região para conter o avanço da invasora.

4. Goiabeira (Psidium guajava)

A preferência de animais frugívoros pela goiaba impacta na dispersão de plantas nativas. Foto: Mauricio Mercadante/Flickr/CC BY-NC-SA 2.0

A goiabeira é outra árvore invasora tão amplamente cultivada no Brasil que muitos nem imaginam que se trata de uma forasteira. Presente em 40 UCs federais, a espécie é natural da região da América Central, entre o sul do México e o norte da América do Sul. Sua chegada às terras tupiniquins foi antes mesmo dos portugueses e acredita-se que o fruto teria acompanhado o ser humano desde as primeiras migrações pelo continente.

Popular devido ao valor nutricional da fruta e seu sabor, a goiabeira ocupa ambientes urbanos e naturais pelo país, inclusive em áreas de restinga. Além de competir por recursos e espaço com espécies nativas, árvores frutíferas invasoras têm o risco de monopolizar a dieta dos animais frugívoros, o que potencializa a ameaça às nativas.

5. Jaqueira (Artocarpus heterophyllus)

De origem asiática, a jaqueira se adaptou ao ecossistema brasileiro e ocupa 30 UCs federais. Foto: Mauricio Mercadante/Flickr/CC BY-NC-SA 2.0

Árvore que batizou uma cidade no interior de Pernambuco, a jaqueira é outro exemplo de frutífera tão disseminada que é difícil acreditar que ela não é brasileira – e uma grave ameaça à flora verdadeiramente nativa. De origem asiática, a jaqueira chegou ao Brasil ainda no período colonial e se espalhou pelo país. Hoje, a planta invasora já ocorre em 30 unidades de conservação. A Mata Atlântica é um dos biomas mais prejudicados pela árvore. 

A jaqueira destaca-se pela forma agressiva com que se reproduz, com  números exorbitantes de sementes e alta taxa de germinação. Além disso, ela  libera à sua volta uma substância que inibe o desenvolvimento de outras espécies. Suas largas folhas também bloqueiam a luz do sol e a lentidão para se decompor dificulta a germinação de mudas nativas. Todas essas características fazem com que a jaqueira monopolize o território, sem abrir espaço para concorrência.

6. Lírio-do-brejo (Hedychium coronarium)

O lírio-do-brejo está em 29 UCs federais pelo país. Foto: Arthur Chapman/Flickr/CC BY-NC-SA 2.0

Dotada de belas pétalas brancas, o lírio-do-brejo foi trazido dos pés da Cordilheira do Himalaia, entre Índia e Nepal, e hoje ocupa 29 UCs federais pelo Brasil. Ela se destaca entre as espécies de arbustos e herbáceos invasores com a maior presença nas unidades de conservação.

Os registros de lírio-do-brejo estão concentrados nas regiões sul e sudeste do país. Seu caule subterrâneo dificulta o enraizamento de outras espécies vegetais nativas e ameaça a regeneração de plantas no sub-bosque, a exemplo de arbustos, ervas e mudas de árvores.

No sul do país, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) identificaram o impacto negativo do lírio-do-brejo na quantidade de plantas lenhosas e herbáceas nativas, como a samambaia-rabo-de-gato (Christella dentata).

7. Leucena (Leucaena leucocephala)

A leucena é um desafio para a conservação da biodiversidade em Fernando de Noronha. Foto: Vengolis/Flickr/CC BY-SA 3.0

Empatada no ranking de “invasão” das UCs federais com o lírio-do-brejo, a leucena – também conhecida como linhaça – tem origem na América Central. A planta já se encontra em 29 unidades de conservação federais distribuídas por todas as regiões do país.

Caracterizada por sua resistência às secas e solos degradados, a leucena foi introduzida como fonte de alimento para a bovinocultura. Seu banco de sementes disperso inibe o crescimento de plantas nativas, e a espécie se tornou um desafio até mesmo em territórios marinhos como o arquipélago de Fernando de Noronha (PE). 

Pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo (IB-USP) apontam que a leucena está em 60% das áreas de vegetação no arquipélago e sua presença aumenta a taxa de mortalidade de espécies nativas, a exemplo da leguminosa mulungu (Erythrina velutina).

8. Capim-braquiária (Urochloa eminii)

A braquiária é resistente para ambientes secos e com temperaturas elevadas. Foto: Pete Woodall/CC BY-NC 4.0

Assim como os demais integrantes de gramíneas presentes na lista, o capim-braquiária ou capim-congo é outro exemplar da flora africana que “invadiu” o Brasil. Dados do ICMBio mostram que este ocupa 26 UCs federais, a maioria delas concentrada na região sudeste (10).

Introduzida como fonte de alimento para o gado, a braquiária expandiu seu domínio sobretudo em regiões de planície e sua agressividade no processo de colonização tem impactado na biodiversidade nativa. A espécie apresenta resiliência para ambientes secos, com altas temperaturas e maior concentração de dióxido de carbono. Dados indicam que os regimes de queimadas anuais aumentam a ocupação do capim invasor em regiões de floresta.

  • Vinicius Nunes

    Cientista Social pela FGV/CPDOC e estudante de Jornalismo na ESPM-Rio. Entusiasta da pauta ambiental, política e esportes.

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