Notícias

Criação de novo órgão para combate à crise climática preocupa servidores ambientais

Possibilidade foi anunciada por Marina Silva no final de semana. Antes de criar novos órgãos, servidores pedem do governo valorização da carreira ambiental

Cristiane Prizibisczki ·
20 de maio de 2024

A declaração da ministra Marina Silva, no final de semana, sobre a necessidade de criação de um novo órgão dentro da estrutura do governo para comandar o futuro Plano de Prevenção a Desastres Climáticos não agradou os servidores da carreira ambiental. Em negociação com o Executivo desde outubro de 2023 por melhores condições de trabalho e salário, eles temem serem preteridos no processo.

A declaração da mandatária da pasta Ambiental foi feita durante o programa CNN Entrevistas, no último sábado. Quando questionada sobre quem vai comandar o ainda embrionário plano de prevenção de desastres, Marina disse:

“Estamos num processo de aprendizagem. O que imaginávamos ter uma magnitude, agora estamos expostos à realidade [de vários eventos climáticos extremos]. Então, no meu entendimento, você tem que ter um operador para dinamizar o plano”, disse a ministra.

Segundo ela, esse novo órgão não seria a anunciada – e  ainda não implementada – “Autoridade Climática”, proposta de autarquia que constava de seu plano de governo como candidata presidencial em 2022 e depois incorporada por Lula no segundo turno da campanha de 2022. 

“Não me apego ao nome Autoridade Climática, quero que tenha um operador [do plano] para poder dinamizar, que seja eficiente […] Precisamos tirar os municípios da UTI climática”, completou.

Apesar de não dar detalhes sobre como seria o plano e quem o comandaria, Marina Silva citou o Plano de Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCDAm), cuja coordenação política é feita pela Casa Civil e a coordenação executiva, pelo Ministério do Meio Ambiente.

“É algo inovador. Não temos um rascunho para nos espelharmos. O que está sendo feito é um esforço para colocar de pé uma sugestão para ser avaliada no centro do governo”, declarou.

Esta não é a primeira vez que Marina Silva fala da criação de uma autarquia para lidar com a questão climática. A possibilidade vem sendo discutida desde o início do governo, mas agora ganhou força por conta da situação vivida no Rio Grande do Sul.

Vista aérea do Bairro Rio dos Sinos, em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, nesta segunda-feira 20 de maio de 2024. Foto: Max Peixoto/DiaEsportivo/Folhapress

Reação dos servidores

A declaração de Marina Silva sobre a possibilidade de criação de uma nova estrutura no governo gerou preocupação entre os servidores da carreira ambiental. 

“Reestruturação da carreira ambiental é a maior ação de combate à crise climática. O mais coerente seria reforçar, estruturar e garantir mais orçamento com concursos para os cargos vagos dos órgãos já existentes do que criar mais um órgão”, disse Cleberson Zavaski, presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira Especialista em Meio Ambiente (Ascema).

“O que será rachado agora? Ibama ou ICMBio? Se bobear, vão criar uma carreira nova, turbinada, ganhando mais que a ANA [Agência Nacional de Águas] e fazer novo concurso. E quando o bicho pegar, seremos nós a ir lá resolver o problema”, disse outro servidor, que preferiu não se identificar.

Há seis meses os servidores ambientais estão em negociação com o Executivo pela reestruturação da carreira. As três propostas feitas pelo governo foram rechaçadas pelos servidores e ainda não há previsão de que a negociação chegue ao fim.

No dia 10 de maio, a Ascema fez uma nova contraproposta. “Importante que o governo compreenda que a nossa demanda não é por um percentual específico de reajuste, mas de uma verdadeira reestruturação de carreira que nos reposicione o mais próximo de outras carreiras com atribuições de nível de responsabilidade e complexidade semelhante ao nosso”, disse a Ascema, na ocasião.

“Se o governo não cuida nem do Ministério do Meio Ambiente, do Serviço Florestal Brasileiro, do Ibama e do ICMBio, vai cuidar de mais [um órgão]? Isso é demagogia”, disse outro servidor.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Reportagens
20 de maio de 2024

Chuvas no Rio Grande do Sul: o que as águas barrentas que tudo arrastam sinalizam?

Perda de vegetação nativa, desmonte de políticas públicas ambientais e crise climática potencializam os efeitos das enchentes e colocam em xeque o modelo de desenvolvimento gaúcho

Notícias
2 de maio de 2024

Chuvas no RS – Mudanças climáticas acentuam eventos extremos no sul do país

Cheias batem recordes históricos e Rio Grande do Sul entra em estado de calamidade. Mais de 140 municípios foram atingidos e barragem se rompeu na serra

Reportagens
9 de maio de 2024

Mudanças climáticas atingem a população de forma desigual, lembram especialistas

Participante do 3º dia dos “Seminários Bússola para a Construção de Cidades Resilientes” debateram o papel das cidades na mitigação e adaptação às mudanças do clima

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 8

  1. Flávio Cerezo diz:

    Apesar da falta de recursos, da precariedade e da desvalorização dos seus Servidores, IBAMA e ICMBio vêm atuando exemplarmente na prevenção e no enfrentamento de inúmeras crises ambientais. Porque criar mais um órgão? Melhor investir nesses órgãos e no Serviço Florestal Brasileiro e valorizar os seus Servidores, que já possuem expertise, reestruturando a carreira ambiental federal e realizando novos concursos.


  2. Natanael Saulo diz:

    Na boa… Conheço Marina de perto! E sei muito bem como são as práticas desses servidores antigos, meu… Passa um certo tempo os caras só falam em salário, salário, salário…kkk essa galera é insana!


  3. José Miguel Auer diz:

    Mas me diga uma coisa, o ministério do meio ambiente não tem competência para trabalhar a questão ambiental??? Para que serve esse ministério??? Acabem com essa merda então….e com essa ministra incompetente e delegue a responsabilidade para os funcionários de carreira que tem plena capacidade de trabalhar essa questão.


  4. DAMIÃO RIBEIRO SOARES diz:

    Como certa vez disse presidente do PT,Gleise Hoffma, que os bolsanaristas aproveitavam as tragédia para fazer política.
    Agora, eles estão aproveitando a ” desgraça ” que se abateu sobre o povo gaúcho para tentarem se ” capilarizar” e fazer politicalha, um povo que em sua maioria tá se lixando para o PT, tirar mais dinheiro dos cofres públicos e dar emprego com salários absurdos para seus comparsas e servidores de ONG que trabalham para ela.
    É uma ministra que só servi para dar o esclarecimento as ONGs do exterior e abocanhar o dinheiro do fundo da Amazônia.
    Até o final do seu governo, o Estado vai está inchado, o que arrecadar só vai dar para ” festas”, nenhum investimento de fato. Dessa vez, a” vaca vai pro brejo”.


  5. Luiza diz:

    Marina sempre dividindo e enfraquecendo quando deveria fazer o contrário. Servidores seguem aguardando uma proposta justa de reestruturação e agora lá vem mais um órgão. E vem aí a saída em manada pro CNU.


  6. José Augusto diz:

    O exemplo do último órgão criado pelos marinistas, o icmbio, está aí pra qualquer um ver. Vergonhosa esta gestão atual do MMA, como já era de se esperar.


  7. Danielle Paludo diz:

    É um absurdo criar mais um órgão para o meio ambiente quando ibama, icmbio e seeviço florestal encontram-se abandonados e enfraquecidos. Os servidores ambientais destes órgaos -fundamentais ao enfrentamento da crise climática, reivindicam reestruturação da carreira e valorização há meses e são completamente ignorados pela Ministra Marina e gov Lula.


  8. Flávio Zanchetti diz:

    Não cuidam e valorizam o que já existe e agora vão fazer um novo puxadinho. É muita hipocrisia isso. Valorizem os servidores ambientais e fortaleçam Ibama e Icmbio antes de qualquer coisa.