De agosto de 2020 a julho de 2021, período conhecido como “calendário do desmatamento”, a Amazônia perdeu 10.476 km² de florestas, uma área equivalente a nove vezes a cidade do Rio de Janeiro, segundo dados obtidos pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon, divulgados nesta quinta-feira (19).
O número representa um aumento de 57% em relação à cifra registrada no período anterior (agosto de 2019 a julho de 2020) pelo Imazon, quando 6.688 km² foram devastados.
Dentre os estados que mais desmataram, o Pará encabeça a lista: 4.147 km² de área desmatada nos últimos 12 meses, 43% a mais do que o registrado no calendário anterior. O segundo lugar do ranking ficou com o Amazonas, que acumulou 1.831 km² de desmatamento no período, um aumento de 62%.
O Mato Grosso, que por muitos anos esteve entre os estados que mais desmataram a Amazônia, ficou na terceira posição no acumulado dos últimos 12 meses, com 1.536 km² de florestas destruídas, 58% a mais do que no calendário anterior. Em seguida vem Rondônia (1.352 km²) e Acre (927 km²), que tiveram aumentos respectivos de 63% e 95% em relação ao calendário anterior.
Esta mudança de posição entre Mato Grosso e Pará, segundo pesquisadores do Imazon, indica que novas fronteiras do desmatamento estão se abrindo.
“Mato Grosso, por muitos anos, esteve entre os estados que mais desmataram na Amazônia, principalmente devido à conversão da floresta para o plantio de grãos. Porém, desde 2019, o Amazonas ocupou o segundo lugar do ranking, indicando um deslocamento dos desmatadores de áreas consolidadas para regiões com mais florestas disponíveis”, aponta Antônio Fonseca, pesquisador do Instituto.
Desmatamento em julho
Apenas em julho de 2021, a Amazônia perdeu uma área de floresta maior do que a cidade de São Paulo, relevam os números do SAD. No mês, foram desmatados 2.095 km², um aumento de 80% em relação ao mesmo mês em 2020. Este é o prior índice da década para julho.
O Pará segue no topo do ranking de desmatadores no registro mensal, com 771km² de florestas destruídas em julho, o que representa 37% do registrado em todo bioma. Além disso, sete das 10 terras indígenas e cinco das 10 unidades de conservação mais atingidas pelo desmatamento no período estão em solo paraense.
Neste estado, apenas quatro municípios concentram quase metade (48%) de tudo que foi desmatado: Altamira, São Felix do Xingu, Itaituba e Novo Progresso. “São municípios críticos que deveriam estar recebendo ações prioritárias de combate ao desmatamento, pois são regiões que há anos estão entre as que mais desmatam na Amazônia”, explica Fonseca.
Assim como observado nos meses anteriores, a destruição segue avançando pelo sul do Amazonas, o que fez o estado ficar em segundo lugar no ranking dos que mais desmataram em julho. No período, foram devastados 402 km² em solo amazonense, 19% do registrado no bioma.
O terceiro estado que mais desmatou em julho foi Rondônia, com 319 km² (15%), e o quarto foi o Acre, com 313 km² (15%). Ambos ultrapassaram o Mato Grosso, que vinha em terceiro lugar nos últimos meses, mas em julho registrou desmatamento de 203 km² (10%), ficando em quinto no ranking.
Desmatamento por categorias
A análise do desmatamento por categoria do território indicou que 63% ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse, 23% em assentamentos, 11% em unidades de conservação e 3% em terras indígenas.
Já as florestas degradadas – extração de árvores, normalmente para fins de comercialização da madeira ou queimadas, situação que se diferencia do corte raso, quando há remoção completa da vegetação florestal – somaram 32 km² em junho, sendo 75% da degradação detectada no Mato Grosso, 19% no Pará, 3% no Acre e 3% no Amazonas.
Sistema de Alerta de Desmatamento
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é uma ferramenta que utiliza imagens de satélites com vários tipos de sensores para monitorar o bioma, incluindo radar, que permite detectar perda de floresta mesmo quando há concentração de nuvens.
Além do SAD, outras plataformas públicas e privadas vigiam a Amazônia e geram alertas, como o Deter, do Inpe, e o GLAD, da Universidade de Maryland (EUA). Os dados fornecidos por tais plataformas ajudam os órgãos de controle a planejarem operações de fiscalização e identificarem desmatadores ilegais. Eles também são importantes no embasamento de políticas públicas voltadas para o bioma.
Acesse os dados do SAD para julho aqui.
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