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Desmate em região da BR-319 pode fazer o país perder R$ 15 bi em economias sustentáveis

As estimativas são de que uma área de florestas públicas similar à metade do estado de Alagoas desapareça, em até três décadas

Aldem Bourscheit ·
21 de abril de 2025

Persistindo o desmate no território da BR-319, os brasileiros podem perder ao menos R$ 15 bilhões em economias menos lesivas à floresta, nas próximas três décadas. A estimativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) olhou para a região sul do Amazonas.

A análise indica que 14 mil km2 de florestas públicas não destinadas naquele território podem ir ao chão no período, “resultando em perdas econômicas e ambientais irreversíveis”. A área é similar à metade do estado de Alagoas.

“A exploração ilegal de madeira compromete o potencial de manejo sustentável. O desmatamento emite carbono, prejudica a biodiversidade e afeta o regime de chuvas. A grilagem e a ocupação ilegal geram conflitos fundiários e desestabilizam economias”, descreve uma nota da entidade.

Dar outras cores a esse cenário seria possível com economias que valorizem a floresta em pé, como o manejo florestal licenciado e fiscalizado. O Imaflora diz que isso traria benefícios superiores aos da pecuária e das atividades predatórias.

Segundo a entidade, só as concessões para produzir madeira e carbono podem gerar R$ 6,5 bilhões, ou 43% das perdas projetadas em 30 anos. Outros potenciais bilhões viriam do comércio de créditos de carbono, de itens não madeireiros e de ações conservacionistas.

De volta ao sul do Amazonas, desde os anos 2000 a BR-319 é um dos principais motores do desmatamento regional. Além disso, estudos mostram que 87% da destruição florestal na Amazônia ocorre numa faixa a menos de 25 km de rodovias.

Ainda conforme o Imaflora, em 2022 o sul do Amazonas foi palco de nove em cada dez hectares desmatados no estado todo, um drama que tende a crescer com a pavimentação total da BR-319, com a abertura de outras rodovias e ramais clandestinos a elas conectados. 

Entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM), a BR-319 foi aberta entre 1968 e 1973, com quase 900 km, então todos transitáveis. Contudo, já em 1988 estava abandonada. Iniciativas para reformá-la, desde 2015, sofrem forte resistência socioambiental pelos projetados danos à Amazônia.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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