O Brasil é o convidado de honra da 36ª Feria Internacional del Libro de Bogotá (FILBo), que acontece de 17 de abril a 2 de maio na capital colombiana. “Ler a Natureza” é a temática que guia o pavilhão brasileiro, que conta com um espaço de aulas de capoeira, contação de histórias em português e aulas de dança. No meio do pavilhão, um labirinto de livros de autores brasileiros compõe o cenário entre exposições, palestras e atividades lúdicas.
Grandes painéis trazem curiosidades sobre os biomas brasileiros, apresentando suas principais características e localizações geográficas. Não por acaso, um desses biomas é compartilhado pelos dois países: a Amazônia. Em ambos lugares, o “pulmão do mundo” clama por um respiro; seja com o aumento de quase 5000% de degradação florestal em março ou com a perseguição a ambientalistas que tentam defendê-lo.
“A Amazônia representa também a garantia de sobrevivência da espécie humana, e para que as espécie humana sobreviva, é necessário a gente saber manter as outras espécies não humanas, que são responsáveis por manter o ar puro, as florestas em pé e os rios limpos.”, destaca Daniel Munduruku, escritor, professor, ativista indígena e um dos nomes que compõem a delegação brasileira de autores da FILBo. O autor reforça o papel fundamental da literatura como ferramenta de “criação da consciência crítica dos dois países, das crianças e jovens sobretudo, porque essas novas gerações são fundamentais para a continuidade da vida no próprio planeta”.
Outras linguagens
O poder da leitura vai além da literatura tradicional: as histórias em quadrinhos também possuem destaque nesta edição. “Eu acho que a nossa geografia, a nossa estética que remete à natureza, ela permeia quase todos os nossos quadrinhos”, comenta Luciana Falcon, curadora da exposição “Brasil en Cómics”, realizada pelo Programa Brasil em Quadrinhos (Itamaraty) em parceria com a Bienal de Quadrinhos de Curitiba. “Tem essa sensibilidade da curadoria nesse sentido, da gente mostrar quadrinhos que retratem um pouco essa nossa geografia brasileira junto com os temas sociais. O ‘Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias’, por exemplo, não traz só um retrato da caatinga, né? Mas também da questão da oralidade, da afrodescendência.”, complementa.
Contradições
No pavilhão brasileiro, dois grandes lounges se destacam: o da Petrobras e o do Banco do Brasil. De acordo com relatório recente divulgado por ((o))eco, instituições bancárias brasileiras financiaram, via crédito rural, propriedades envolvidas com grilagem, desmatamento, criação de gado em áreas protegidas e violação de direitos humanos, entre outras irregularidades. Três bancos públicos concentravam a maioria dessas operações: Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco da Amazônia. O lounge da Petrobras traz em letras garrafais “energia que renova”, enquanto o Presidente Lula – que esteve presente na abertura da FILBo – afirmou na COP 28 que a empresa não tem intenções de parar de prospectar petróleo tão cedo.
Escrever um futuro possível
Se dentro das páginas encontramos um retrato do país megabiodiverso, é fora delas que podemos colocar em ação o que foi lido. Incentivar o conhecimento ambiental em todas as idades é contribuir para a valorização da conservação. Para Daniel Munduruku, “Pertencer significa se sentir parte, e se sentir parte naturalmente nos leva a cuidar, a nos comprometer com o cuidado das coisas, do território. E a literatura pode servir muito bem como esse instrumento de conscientização.”
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