Pesquisadores americanos encontraram evidências de uma rede de comércio de animais silvestres, que abastecia rituais e a produção de peles e artesanato da civilização Maia, que existiu entre o Sul do México e Honduras por centenas de anos, até a chegada dos espanhóis por volta do ano 1.500.
Já se sabia que os maias mantinham animais selvagens em cativeiro, mas um artigo publicado esta semana, no jornal científico de acesso aberto PLOS-One, apresenta sinais de que esses animais vinham de outras regiões, indicando que a rede de comércio de animais era bem maior do que se imaginava.
Os pesquisadores analisaram isótopos (variações de uma mesmo elemento químico) de ossos de animais encontrados no sítio ritualístico da antiga cidade maia de Copan, que existiu entre os anos 426 a 822 depois de Cristo), em Honduras. Foram encontrados ossos de pumas, onças pintadas, veados, aves e répteis, usados em rituais ou que serviram de alimento ou para a produção de peles e artesanato.
Alguns felinos submetidos a testes revelaram altos níveis do isótopo de Carbono C4, um indicativo de que receberam uma dieta fornecida por seres humanos. Esta informação combinada com a ausência de evidências do nascimento desses animais em cativeiro reforçam a tese de que tenham sido capturados na natureza e mantidos presos durante um período considerável.
A sugestão de que muitos desses animais eram vítimas do tráfico vem de isótopos de oxigênio, encontrados em amostras de ossos de veados e felinos. Os níveis encontrados indicam uma origem distante do Vale Copan, segundo os pesquisadores.
“Codificado nos ossos de onças e onças-pardas no sítio Maia de Copan, havia evidências tanto de cativeiro quanto de redes de comércio expansivo que trocavam carnívoros ritualizados na dinâmica paisagem mesoamericana”, afirma a autora principal do artigo, a zooarqueóloga Nawa Sugiyama, da Universidade George Mason, Virgínia, Estados Unidos.
Há evidências do uso de animais selvagens por populações da Mesoamérica desde a cultura Teotihuacan, que se desenvolveu na região central do México, entre os anos 1 e 500 da era cristã. Pumas e onças-pintadas eram utilizados tanto em demonstrações simbólicas de status e poder, quando em sacrifícios rituais e produção de artesanato.
Os estudos fazem parte do pós-doutorado de Sugiyama, financiado pelo Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos, Instituto Smithsoniano e Universidade de Harvard.
Saiba Mais
Artigo: Sugiyama N, Fash WL, France CAM (2018) Jaguar and puma captivity and trade among the Maya: Stable isotope data from Copan, Honduras. PLoS ONE 13(9): e0202958.
Leia Também
Ibama identifica 1277 animais vendidos pela internet e monta operação
Leia também
Ibama identifica 1277 animais vendidos pela internet e monta operação
Trabalho com a Polícia Federal resultou no cumprimento de 34 mandados de busca e apreensão, resgate de 134 animais, 12 pessoas detidas e multa de mais de R$ 500 mil →
Tráfico de animais silvestres: Maldade de estimação
Transformar um animal silvestre em pet, além de crime, é maldade. Para cada um que ganha um dono, nove morrem na captura ou no transporte. →
Império Maia entrou em colapso por causa do clima
Estudo publicado na Science reúne evidências de que longo período de secas derrotou civilização que se estendeu do México à América Central. →
Nenhuma novidade. Só os fanáticos –inclusive esses que se consideram cientistas- acreditam seriamente que os antigos habitantes das selvas tropicais eram ecologistas perfeitos que cuidavam da floresta e do ambiente. Eles se comportavam exatamente igual a todos os demais humanos de antes e de agora. Dito seja de passada no Peru também se há confirmado um intenso tráfico pré-colombiano de animais e de seus troféus da Amazônia para a Costa e a Serra.