A Mata Atlântica teve a cobertura florestal reduzida de 27,1% para 24,3%, entre 1985 e 2021. No mesmo período, o bioma onde vive cerca de 70% da população brasileira também perdeu quase um quarto de sua floresta madura. Além disso, seis estados e mais da metade dos municípios brasileiros de Mata Atlântica (57%) ainda atingiram o patamar de menos de 30% de vegetação nativa. Esses são os dados divulgados pelo MapBiomas nesta quarta-feira (19).
De acordo com a rede colaborativa, a perda de floresta madura, também chamada de vegetação primária, configura um processo de redução da qualidade de cobertura vegetal. De 1985 a 2021, esse tipo de floresta perdeu 9,8 milhões de hectares na Mata Atlântica, o que configura uma redução de 23%. Ao mesmo tempo, houve incremento de 8,8 milhões de vegetação secundária, que agora ocupa 26% de toda a cobertura florestal do bioma.
Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, explica que apesar de serem essenciais para a proteção de rios, diminuição da distância entre fragmentos e absorção de carbono da atmosfera, florestas secundárias não possuem a mesma biodiversidade de uma floresta madura. “A vegetação secundária também está mais suscetível a novos desmatamentos após um curto período de recuperação e um terço dela não chega a completar 8 anos de idade”, alertou Rosa.
Avanço da agropecuária
Enquanto a Mata Atlântica perdeu floresta madura, cresceu a área destinada à agropecuária, que, até 2021, passou a ocupar 60,1% do bioma. Estão compreendidas nesta categoria as atividades de pastagens, agricultura, áreas de mosaico de usos e a silvicultura. Dentre estas, foi a agricultura que mais cresceu nos últimos 37 anos. Avançando 10,9 milhões de hectares, ela saltou de 9,2% de ocupação para 17,6%, entre 1985 e 2021.
Já a silvicultura ganhou 3,7 milhões de hectares, passando de 0,7% para 3,5% de ocupação da Mata Atlântica. O uso da terra prevalente no bioma continua sendo a pastagem, apesar da atividade ter apresentado uma queda de 10,5 milhões de hectares. De acordo com o MapBiomas, um em cada quatro hectares desse bioma ainda é de pasto, que perde espaço para agricultura, mas ainda avança sobre áreas de floresta.
Urbanização
Nos últimos 37 anos, as áreas urbanizadas na Mata Atlântica aumentaram de 674 mil hectares para 2,03 milhões de hectares – um aumento de 1,4 milhão de hectares. Desse incremento, 87,5% da expansão se deu sobre áreas já alteradas, mas 12,7% cresceu sobre áreas que eram naturais.
Para a SOS Mata Atlântica, os resultados são preocupantes, sobretudo, após sucessivas crises hídricas que afetam cidades no bioma. “A preservação do que restou de Mata Atlântica e a restauração em grande escala são essenciais para preservarmos alguma resiliência dessa região à dupla ameaça da crise climática e da crescente irregularidade do regime de chuvas, decorrente do desmatamento da Amazônia”, ressaltou Luis Fernando Guedes Pinto, diretor da ONG, também na nota publicada pelo MapBiomas.
Acesse o levantamento na íntegra.
Leia também
Mata Atlântica: novas histórias
A Mata Atlântica foi por séculos o palco da destruição predatória da natureza. O resultado é um bioma fragmentado, depauperado ou simplesmente desaparecido. A história da Mata Atlântica, entretanto, ainda não acabou. Nas últimas décadas multiplicaram-se movimentos para não apenas proteger, mas restaurar, tanto quanto possível, a potência ecológica da Mata. São iniciativas de conexão, recuperação e resgate. Esse é o tema de “Mata Atlântica: novas histórias”, especial produzido por ((o))eco com apoio do Instituto Serrapilheira. →
Município do Rio de Janeiro tem mais de 520 espécies ameaçadas de extinção
Lista, divulgada nesta segunda (22), atualiza espécies da fauna e flora do município ameaçadas, após um hiato de 22 anos, e garante proteção para espécies sob risco de extinção →
Plataforma mostra como (e se) o Código Florestal está sendo implementado na Mata Atlântica
Ferramenta, lançada nesta quinta-feira (02), traz dados sobre déficit de vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais no bioma →