Manaus, AM — Fugir da água para acasalar é bem mais seguro, como já imaginavam os biólogos. O que eles ainda não tinham se dado conta é que os antepassados de anfíbios que vivem hoje fugiam dos principais cursos d’água também para escapar da concorrência de outros machos e garantir que os descendentes carregassem o seu DNA. A descoberta foi publicada na revista The American Naturalist, por pesquisadores brasileiros e americanos, esta semana (26 de julho).
“Além de evitar predadores aquáticos, o benefício de depositar seus ovos na terra longe do corpo principal de água — se você é um sapo macho — é que você mantém a fêmea longe do frenesi reprodutivo onde há centenas de outros machos, todos competindo por acesso às fêmeas”, afirma a bolsista de pós-doutorado Rayna Camille Bell, da universidade UC Berkeley, uma das autoras do artigo.
A conclusão veio depois dos pesquisadores analisarem o tamanho dos testículos de espécie tropicais de rãs de dois grupos diferentes, Hylidae e Leptodactylidae. Eles imaginaram, e depois confirmaram, que machos sujeitos a uma concorrência mais feroz devem ter testículos maiores e de tamanhos mais variáveis, a exemplo do que acontece com outros animais cujos machos enfrentam grande disputa para encontrar uma companheira.
Algumas espécies de rãs, por exemplo, acasalam na água guardada em folhas de bromélias. Há casos até em que machos constroem ninhos de barro, em forma de vulcão. Rayna Bell e colaboradores acreditavam que, se a busca por segurança de ovos e girinos era o principal fator de evolução para a reprodução terrestre, eles deveriam encontrar também outras estratégias para proteger os futuros filhotes. Ele descobriram que não essa isso o que acontecia.
Conforme as pesquisas demonstraram, a maior parte da diversidade de estratégias de reprodução envolve a fase de ovo, que mesmo em terra estão susceptíveis a predadores. Além disso, os girinos rapidamente buscam águas perigosas. Esse padrão, na visão dos responsáveis pelo artigo, indica que a seleção natural age de forma diferente quando se trata de proteger os ovos ou os girinos.
“Os trópicos têm a maior diversidade de espécies de anfíbios, bem como a maior diversidade e complexidade nos modos reprodutivos das rãs”, destaca Rayna Bell, “Mas nós sabemos o mínimo sobre a biologia, comportamento e diversidade destas espécies tropicais, embora muitas estejam ameaçados e só agora algumas estejam sendo descobertas”, completa.
A pesquisa foi financiada por doações e bolsas da National Science Foundation, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Universidade da Califórnia.
Saiba Mais
Leia Também
Leia também
Espécie rara de anfíbio é registrada em Minas Gerais
Medindo o tamanho de uma unha, o sapo vive dentro de bromélias é encontrado apenas no Parque Estadual do Pico do Itambé, em Minas Gerais. →
Uma nova perereca e o sapo que copula com a fêmea morta
Entre as espécies descritas no início de abril, está uma perereca de cores fortes e chamativas, que vive nas florestas da Colômbia. →
Nova espécie de mini sapo é descoberta e já está ameaçada
Descoberto em Santa Catarina, pequeno anfíbio com cerca de 1 centímetro de comprimento é vulnerável às mudanças climáticas e alterações no habitat. →