Manaus, AM — Ambientalistas e pesquisadores do Amapá se mobilizam para garantir a proteção de pelo 30% das savanas amazônicas que cobrem o estado. A paisagem é ameaçada por um zoneamento capenga do governo estadual, que destina praticamente toda a região à produção agrícola.
Apesar de ser o estado mais protegido da Amazônia, com 73% de seu território coberto por unidades de conservação e Terras Indígenas, o cerrado do Amapá foi esquecido. Com quase 207 mil quilômetros de extensão, abriga espécies ameaçadas e endêmicas, além de populações tradicionais, como quilombolas.
Em vez de seguir a lei e fazer um Zoneamento Ecológico-Econômico, seguindo as determinações do Ministério do Meio Ambiente, o governo do Amapá usou critérios bastante questionáveis para apresentar um Zoneamento Socioambiental do Cerrado (ZSC), que deixou de considerar o direito de comunidades tradicionais e a fragilidade de boa parte das terras da região.
“Queremos um zoneamento equilibrado“, defende o ecólogo Renato Richard Hilário, professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap). “Quando você tem menos de 30% de ambiente remanescente, as espécies além de perder ambiente disponível passam a sofrer o isolamento das áreas fragmentadas. A partir daí você tem um aumento mais acentuado na extinção“, completa.
Além de reservar 40% das savanas para a produção de soja, o documento do governo do estado prevê o uso agrícola de terras reconhecidamente vulneráveis, que em estudos anteriores se espalhavam por metade de toda a extensão da savana amapaense. O documento, segundo explica Renato Hilário, recomenda o “uso controlado” em áreas de “complexidade ecológica ou elevada fragilidade ambiental”.
A tentativa de substituir o ZEE por esse documento foi barrada pelo Ministério Público Estadual, segundo Renato Hilário. Agora, o Amapá tem até o fim do ano para completar o zoneamento. Os estudos estão em andamento, enquanto pesquisadores buscam conhecer mais sobre esse ambiente.
Dois artigos foram publicados recentemente em revistas científicas, que descrevem a região e chamam a atenção para as ameaças sobre essas savanas.
Já foram descritas na região pelo menos duas espécies endêmicas de plantas e duas de peixe, o ornamental peixe-tetra Hyphessobrycon amapaensis e o Melanorivulus schuncki. Uma nova espécie de marsupial do gênero Cryptonanus, encontrada também na Guiana Francesa, aguarda a descrição oficial.
A região abriga também espécies ameaçadas como Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Tatu-canastra (Priodontes maximus), anta (Tapirus terrestris), queixada (Tayassu pecari), guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul) e ariranha (Pteronura brasiliensis). Por lá, podem ser vistas também duas aves próximas a estarem ameaçadas, a cigarra do campo (Neothraupis fasciata) e maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus).
Saiba Mais
The Fate of an Amazonian Savanna: Government Land-Use Planning Endangers Sustainable Development in Amapá, the Most Protected Brazilian State. Tropical Conservation Science 10.
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