Belém (PA) – Representantes de diferentes países reunidos em Belém para a 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30) anunciaram, na tarde desta terça-feira (18), o lançamento de uma coalizão – ou “mutirão”, como tem usado a presidência da COP – pelo abandono do uso de combustíveis fósseis em nível global. Entre os países presentes estavam Alemanha, Colômbia, Reino Unido e Quênia. O movimento é inédito na história das Conferências.
Representantes de 24 países participaram da coletiva de lançamento da coalizão, mas o número de nações que manifestaram apoio à ideia já chega a 80, de acordo com levantamento de organizações da sociedade civil brasileira.
Em sua fala, Tina Stege, enviada climática das Ilhas Marshall – nação ilha da Oceania que sofre com a ameaça da elevação do nível do mar –, disse que o chamado para a construção de um Mapa do Caminho para o fim dos fósseis é parte de uma resposta urgente das nações envolvidas para acelerar a implementação de metas climáticas alinhadas a 1,5ºC, e uma forma de fortalecer o que já existe no âmbito das negociações sobre o assunto.
A decisão de “transicionar para longe dos combustíveis fósseis” foi tomada há dois anos, na COP28, em Dubai. Esta foi a primeira vez, em décadas de Conferências, que a menção ao fim dos fósseis entrou em um texto negocial. O tópico, no entanto, não evoluiu na COP seguinte, no Azerbaijão.
Desde o início da Cúpula de Belém, o presidente Lula e membros do governo federal têm mencionado a necessidade de retomar o assunto iniciado em Dubai e apresentar soluções concretas para a descarbonização das economias. Somente o presidente Lula já conclamou as nações para que ajam nesse sentido em quatro ocasiões diferentes.
A menção entrou em um rascunho lançado na manhã desta terça-feira pela presidência da COP30, na chamada “Decisão de Mutirão” ou “Pacote Mutirão”. Para a enviada do clima das Ilhas Marshall, no entanto, a linguagem precisa ser mais forte.
“A melhor chance que temos de chegar a um acordo [sobre o fim do uso de combustíveis fósseis] é no Pacote Mutirão. Mas a referência atual no texto é fraca, e é apresentada como uma opção. Ela precisa ser fortalecida e adotada. E é por isso que vocês veem todos esses países aqui hoje”, disse.
Para a ministra de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Irene Velez Torres, os países produtores de petróleo – resistentes à transição para o fim dos fósseis e os principais responsáveis pelo bloqueio nas negociações internacionais sobre o tema – precisam reconhecer a necessidade desta mudança.
“Esperamos que eles [nações produtoras de petróleo] reconheçam o que a sociedade que está fora dessa bolha de negociação está pedindo. Esperamos que percebam o quão importante é para o planeta, mas também para as sociedades que estão esperando algo de nós, obter um resultado muito claro, convocando à ação para eliminar os combustíveis fósseis”, disse a ministra colombiana.
Segundo Márcio Astrini, Secretário-executivo do Observatório do Clima, o lançamento do chamado pela construção de um Mapa do Caminho e a coalizão fortalecem o pedido de Lula neste sentido.
“Se no primeiro dia da conferência Lula estava lá sozinho falando no palco, hoje ele está com mais 80 países pedindo o mesmo Mapa do Caminho. Hoje, sabemos que os países não apenas ouviram, mas apoiaram a ideia. Agora é a hora de transformar palavras e apoios em resoluções no texto final da conferência”, reforça.
Na quarta-feira (18), o presidente Lula volta a Belém e é esperado que ele coloque a diplomacia em jogo para tentar angariar mais apoio à ideia do Mapa do Caminho para o Fim dos Fósseis. Se entrar em algum texto negocial, será na Decisão de Capa – chamada pela presidência da COP30 de Dedisão do Mutirão -, que inclui topicos de dificil acordo.
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