Notícias

Entidades e partidos políticos reivindicam participação no acordo Mercosul-UE

Texto do documento, assinado na gestão Bolsonaro, é desconhecido da sociedade civil. Organizações alertam para impactos ambientais da proposta

Cristiane Prizibisczki ·
8 de fevereiro de 2023 · 2 anos atrás

Parlamentares do Congresso brasileiro receberam na manhã de terça-feira (7) uma carta com pedido para que a sociedade civil passe a integrar as negociações do Acordo Mercosul-União Europeia, atualmente em fase de revisão técnica. Na mesma data, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) protocolou na Câmara dos Deputados um requerimento de informação direcionado ao Ministério das Relações Exteriores solicitando acesso ao texto integral do acordo, cujas cláusulas são desconhecidas da sociedade.

O Acordo Mercosul-UE, tratado que visa facilitar as trocas comerciais entre os dois blocos, foi fechado em julho de 2019 pelo governo Bolsonaro, após 20 anos de negociações. Atualmente, ele encontra-se em fase de revisão jurídica e tradução para os idiomas das partes que o negociaram, e ainda precisa ser assinado e ratificado por ambos os blocos.

“É um absurdo que acordos comerciais tão profundos e que regulam temas tão importantes para o cotidiano da vida das pessoas seja negociado por mais de 20 anos praticamente em sigilo. O que nós demandamos, sobretudo em termos de apoio do Congresso brasileiro, é no sentido de promover maior transparência para acordos comerciais internacionais”, disse a ((o))eco a Assessora Política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Tatiana Oliveira. 

O Inesc faz parte da coordenação da Frente Brasileira contra os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA, rede formada por cerca de 200 organizações e movimentos sociais que assina a carta enviada aos parlamentares brasileiros nesta terça-feira.

Impactos ambientais do acordo

O acordo Mercosul-UE foi tema de um encontro realizado em Brasília nos últimos dois dias que reuniu organizações da sociedade civil e organizada, setores industriais e políticos do Brasil e exterior. Entre eles, uma preocupação comum: os impactos do tratado para a biodiversidade Amazônica e para as populações tradicionais que vivem no bioma.

O Acordo, naquilo que é conhecido da proposta, incentiva a ampliação da produção agropecuária para exportação nos países do Mercosul, acelerando a destruição ambiental e limitando as possibilidades de melhorias sociais e econômicas para pequenos agricultores, povos originários e outras comunidades tradicionais, dizem as organizações que compõem a Frente.

“O Acordo não contém cláusula ambiental compulsória, nem estabelece qual arcabouço legal ou o espaço para litigância em caso de surgirem conflitos, tornando frágil a possibilidade de ações efetivas de reparação para violações de direitos humanos e territoriais”, observa Tatiana Oliveira.

Segundo as entidades, a redução ou eliminação de tarifas comerciais entre os dois blocos pode estimular a expansão da produção de soja, milho, carne e minérios no Brasil, o que provocaria pressão sobre áreas ainda preservadas e desestimularia o mercado de produtos de alto valor agregado.

Além disso, o acordo deve facilitar a importação de agrotóxicos da Europa que são proibidos nos seus países de origem, aumentando a poluição de solos e rios brasileiros. Deve também facilitar a importação de carros a combustão, aumentando a poluição do ar.

“Do ponto de vista ambiental e climático, o Acordo contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa e para a devastação da Amazônia, beneficiam de forma desproporcional as empresas transnacionais europeias e aprofundam a desindustrialização no Mercosul”, diz nota do Inesc.

Segundo Tatiana Oliveira, a reivindicação da sociedade civil foi bem recebida no Congresso Nacional. Em diferentes ocasiões, o presidente Lula (PT) também já se manifestou publicamente a favor da revisão dos termos do acordo.

“Essa é uma promessa de campanha do presidente Lula […] Agora é o momento de o governo passar um pente fino nesse acordo para entender, junto com a sociedade civil, quais serão os reais impactos dele”, finaliza a assessora Política do Inesc.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Reportagens
3 de fevereiro de 2023

Mineração em terras indígenas da Amazônia aumentou 1.217% nos últimos 35 anos

Os dados são de um estudo feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos Estados Unidos. Os resultados do trabalho foram publicados na revista Remote Sensing

Reportagens
31 de janeiro de 2023

Após foco na economia, preservação precisa ser meta de Lula para Pan-Amazônia, dizem especialistas

Em duas décadas de governos petistas na região, propostas foram concentradas apenas para o campo econômico, como a abertura da Rodovia Interoceânica

Reportagens
27 de janeiro de 2023

Degradação provocada por humanos afeta 38% da Amazônia, aponta estudo

Além do aumento das taxas de desmatamento registrado na Amazônia desde 2018, a maior e mais biodiversa floresta tropical do mundo enfrenta outros processos de degradação provocados por humanos que ameaçam seu futuro

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.