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Estudo sobre impacto das alterações no clima em aves pode ajudar espécies na crise atual

Alterações climáticas reduziram diversidade genética de pássaros na Amazônia nos últimos 400 mil anos, mas algumas espécies apresentaram resistência à mudança

Cristiane Prizibisczki ·
2 de maio de 2024

Estudo genético realizado com pássaros que ocorrem nas regiões sul, sudeste e leste da Amazônia pode contribuir para o aprimoramento de trabalhos de conservação diante da crise climática atual.

Realizado com pássaros do gênero Willisornis, conhecidos no Brasil como rendadinhos ou formigueiros, o estudo analisou os efeitos provocados pelas mudanças climáticas ocorridas ao longo dos últimos 400 mil anos no genoma das aves.

De acordo com o trabalho, as diferentes linhagens do gênero na área estudada têm menor diversidade genética e padrões de flutuação populacional mais variados em relação a grupos de outras regiões do bioma. Isto indica reduções bruscas no tamanho da população e fortes eventos de migração nos últimos milênios.

Essas variações genéticas foram provocadas em consequência do mecanismo natural de contração e expansão da cobertura vegetal da floresta amazônica.  “A Amazônia é como uma sanfona que se expande e contrai dependendo do clima”, diz Alexandre Aleixo, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e autor líder do trabalho.

Nas regiões sul, sudeste e leste da Amazônia, localizadas sobre essas faixas de “sanfona”, durante os períodos históricos secos, a floresta úmida se transforma em ambientes abertos, como cerrados. Quando tem floresta – nos períodos úmidos – as populações de aves se instalam e, quando não tem, desaparecem ou diminuem bastante.

Cada um desses eventos de migração ou redução populacional deixa uma marca no material genético das diferentes espécies e populações que habitam a região estudada. 

Grupos menores, por exemplo, tendem a apresentar taxas maiores de cruzamentos entre parentes, o que resulta em uma baixa diversidade genética e, consequentemente, menor resistência a possíveis mudanças do ambiente. 

O estudo, no entanto, mostrou que, mesmo com a baixa variabilidade genética, as populações de Willisornis foram capazes de resistir às contínuas perturbações climáticas na floresta tropical, o que pode significar que existem neste gênero genes relacionados com a maior resistência às alterações.

Com a iminência da mudança nos padrões da floresta, provocadas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem, expandir a investigação sobre a resiliência genética das aves pode contribuir para estratégias de conservação.

“Podemos encontrar no genoma das populações que sobreviveram às mudanças climáticas passadas características que permitam que elas resistam às mudanças futuras, assim como identificar grupos mais diversos que podem ser matrizes para reintrodução em outros locais”, diz Alexandre Aleixo.

A pesquisa tem participação de instituições nacionais, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Instituto Tecnológico Vale (ITV), e de instituições internacionais como a Universidade de Toronto.

A ideia é expandir o trabalho para outras espécies de fauna e flora.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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