O impacto da febre amarela na população de micos-leões-dourados foi mais devastador do que poderiam supor especialistas que acompanham o primata endêmico (exclusivo) da Mata Atlântica. A população silvestre de micos-leões-dourados foi reduzida em 32,4% desde 2014, ano do último censo da espécie. É o que informa estudo publicado nesta terça-feira no periódico “Nature Scientific Reports”, que aponta queda de na população do primata de 3.700 para 2.500, efeito do pior surto de febre amarela no Brasil dos últimos 80 anos.
Esse é o primeiro caso de um surto de febre amarela na área dos micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia), diz a Associação Mico Leão Dourado. Na Reserva Biológica de Poço das Antas, em Silva Jardim, Estado do Rio, o impacto do vírus foi arrasador: de 380 micos foram registrados apenas 32 no último levantamento. Um decréscimo de 91%. Os primatas, ameaçados de extinção, estão espalhados por oito municípios fluminenses, sendo que a maior concentração está em Casimiro de Abreu, Rio Bonito e Silva Jardim.
Em Pirineus, localidade serrana em Silva Jardim inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) São João, a queda populacional do mico também foi significativa: de 1303 em 2014 para 125 em 2018. As quedas populacionais foram baseadas em estimativas calculadas multiplicando-se a área florestal da unidade de conservação por densidade de mico-leão-dourado.
“Todas as florestas de Terras Baixas do Rio estão sob impacto da doença”, alerta a ((o))eco o geógrafo Luís Paulo Ferraz, secretário-executivo da Associação Mico-Leão-Dourado (AMDL). “A gente não sabe ainda como a população de micos vai se comportar no futuro, e os efeitos [da febre amarela] ainda estão sendo avaliados”.
Antes do surto de febre amarela, a população de micos-leões-dourados vinha aumentando de forma consistente no Brasil: de cerca de 200 nos anos 1970 para 3.700, de acordo com o último censo. Se em humanos os sintomas da febre amarela podem não ser tão severos, a maioria dos macacos que contraem a doença morrem poucos dias após serem expostos ao vírus. O símio não transmite a doença, e não afeta o ser humano de nenhuma forma.
O cientista da Universidade de Maryland, líder da pesquisa e vice-presidente da Ong Save the Golden Lion Tamarin (nome em inglês do mico-leão-dourado), Dr. James Dietz, ressalta que o surto de febre amarela torna mais complicada a meta de salvar a espécie: “Temos que mobilizar recursos humanos e financeiros adicionais para implementar ações de curto prazo para reduzir o impacto dessa nova ameaça antes que seja tarde”.
Associação desenvolve vacina
Já existe uma vacina eficaz contra a doença para humanos, e a AMLD e seus parceiros estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina para os símios. A primeira morte de um mico-leão-dourado no Rio – em local não informado – foi verificada em 17 de maio de 2018. A febre amarela silvestre é causada por um vírus transmitido por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes a primatas não humanos e ocasionalmente ao ser humano, quando este adentra ou vive nos arredores de regiões de mata.
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