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Galeria de fotos: soltura de papagaios-verdadeiros colore o céu mineiro

Grupo de 22 papagaios-verdadeiros, uma das aves mais traficadas do Brasil, ganha nova chance no Cerrado mineiro com soltura após reabilitação e aclimatação

Duda Menegassi (Texto) · Mariana Bertrand (Fotos) ·
14 de fevereiro de 2023 · 1 anos atrás

Uma das aves mais traficadas do Brasil, um grupo de papagaios-verdadeiros ganhou uma nova chance de viver na natureza. A soltura de 22 indivíduos foi realizada em janeiro, na região de Jaboticatubas, no Cerrado mineiro. Num belo e colorido voo, as aves deixaram, cada uma no seu próprio tempo e coragem, o recinto onde faziam aclimatação pelos últimos vinte dias. Com sorte, a última gaiola que conheceram.

A maioria das aves vieram do Centro de Triagem de Animais Silvestres de Belo Horizonte (CETAS/BH), onde vão parar por meio de apreensões ou entregas voluntárias, e outras do Zoológico de Belo Horizonte. A ação foi realizada pelo Projeto Voar, criado pelo Waita Instituto de Pesquisa e Conservação, em parceria com o Ibama, Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG) e apoio do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais (CAOMA/MPMG).

Até chegar a soltura, os papagaios, muitos deles vítimas do tráfico, precisaram passar por uma série de exames sanitários, físicos e laboratoriais e uma fase de reabilitação para reaprender a vida na natureza. Durante este período, foram treinados para reconhecer predadores e buscar alimentos por conta própria. Na última etapa antes da soltura, passaram um período de cerca de 20 dias no viveiro de aclimatação, instalado na zona rural de Jaboticatubas para se acostumarem ao clima e sons da região, onde foram soltos.

Para dar apoio aos recém-libertos papagaios, o viveiro permanecerá aberto para servir como abrigo e ponto de suplementação alimentar – aos poucos reduzida para estimular os papagaios a buscarem comida no novo ambiente.

Biólogo Wander Ulisses de Mesquita instalando uma caixa-ninho no alto de uma das árvores próximas ao local de soltura. Foto: Mariana Bertrand

Todos os indivíduos soltos serão acompanhados pela equipe do projeto ao longo de, no mínimo, um ano, para coletar dados comportamentais e avaliar a adaptação dos papagaios-verdadeiros ao novo ambiente (área de vida, deslocamento, sucesso reprodutivo e, claro, sobrevivência). O monitoramento é feito por meio de rádio-transmissores VHF e observações diretas, com auxílio de binóculo e câmera fotográfica. Além disso, os moradores do entorno da área de soltura foram convidados a compartilhar informações sobre as aves, que costumam viver em casal ou pequenos bandos.

Com uma fronte amarela e tons de azul, um corpo majoritariamente verde, que contrasta com a ponta das asas, vermelho e azul, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é uma ave cobiçada tanto por sua beleza quanto pela sua capacidade de reproduzir palavras e frases. A espécie, que sempre foi relativamente comum e ocorre amplamente na região central e litoral do Brasil, é um alvo frequente do tráfico. Tanto a captura – principalmente de filhotes – quanto a destruição dos ocos nos quais faz seu ninho, ameaçam as populações de papagaio. Apesar de ainda ser considerada como “Pouco Preocupante” na avaliação nacional da fauna ameaçada, especialistas alertam para o declínio populacional da espécie.

Papagaios-verdadeiros no recinto de adaptação fazem seu treinamento de voo. Foto: Mariana Bertrand

Papagaios-verdadeiros aguardam o momento da soltura, cada um recebeu uma pintura de diferentes cores na região peitoral e um colar de radiotelemetria. Foto: Mariana Bertrand
Papagaio-verdadeiro em liberdade se alimentando de frutas nativas da região. Foto: Mariana Bertrand
Biólogas Nathalia Alves e Alice Lopes fazem em campo o monitoramento e a coleta de dados comportamentais dos papagaios após a soltura. Foto: Mariana Bertrand
A instalação de caixas-ninho é feita para complementar a falta de árvores com cavidades adequadas próximas a área de soltura. Foto: Mariana Bertrand
Pesquisadores colocando alimentação nos comedouros com roupas que disfarçam a silhueta humana. Foto: Mariana Bertrand
Pesquisadoras(es) debatem sobre o monitoramento. Foto: Mariana Bertrand
Pesquisadores do Instituto Waita e a ornitóloga Magda Rocha analisam os comedouros que serão instalados nas árvores próximas ao viveiro que servirão como um suporte inicial de alimento e água para a adaptação dos papagaios. Foto: Mariana Bertrand
Bióloga Ariela Castelli e a estudante de biologia Laura Fonseca fixam um colar de radiotelemetria. Foto: Mariana Bertrand

Papagaio-verdadeiro no seu primeiro voo em liberdade, a antena é para seu monitoramento pelo colar de radiotelemetria. Foto: Mariana Bertrand

  • Duda Menegassi (Texto)

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

  • Mariana Bertrand (Fotos)

    fotógrafa de natureza e vida selvagem, pesquisa sobre temas que envolvem a fauna, pesquisa científica, a conservação da natureza e da biodiversidade e as suas relações com a sociedade.

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Comentários 3

  1. Beatriz diz:

    Desde quando papagaio é indivíduo???????? Pelo que eu sei são animais!!!!!


    1. Edinilson Fernandes Souza diz:

      Igual a você Beatriz, irracional né!


  2. Marcos Alves diz:

    Muito boa a reportagem, entre muitas notícias rins, vem uma boa para alegrar o coração. Parabéns a todos que se envolveram nesse lindo trabalho.