Gigantes do Atlântico, que podem atingir mais de 2 metros de comprimento, os meros são peixes imponentes de comportamento tranquilo. Este jeitão vagaroso, entretanto, é o que torna a espécie tão vulnerável à pesca e um dos motivos pelo qual hoje ela é considerada criticamente ameaçada de extinção no Brasil. Com sua população em declínio, encontrar meros ficou cada vez mais difícil e por isso, todos os encontros com esse gigante são sempre comemorados por pesquisadores. Na última semana, a equipe do projeto Meros do Brasil teve uma grata surpresa e fez o registro não apenas de um, mas de um grupo de oito meros na costa de Santa Catarina. E a aglomeração destes gigantes, normalmente solitários, tem um motivo bem específico: é hora de acasalar!
A agregação reprodutiva de meros (Epinephelus itajara) ocorre todos os anos, normalmente no verão, entre novembro e março. A avistagem do projeto Meros do Brasil foi feita durante a instalação de um receptor, utilizado para o monitoramento dos peixes, no município de São Francisco do Sul, no litoral catarinense.
“Flagrar uma agregação já é algo que exige muita sorte, pois temos que estar no local certo, na hora certa. No passado, essas agregações chegavam a reunir centenas de meros, porém hoje, com a pesca predatória, os números foram ficando cada vez menores”, comenta Maira Borgonha, gerente geral do Meros do Brasil.
Em fevereiro de 2012, a equipe do projeto – patrocinado pela Petrobras – registrou, no mesmo local, uma agregação de mais de 40 peixes. Agora, março, é o fim do período reprodutivo deles, o que pode justificar esse número menor. Por isso que o monitoramento é tão importante, pois só comparando os dados ano a ano é que conseguimos saber se a espécie está sendo mantida ou segue ameaçada”, explica Áthila Bertoncini, pesquisador do projeto e autor do registro da última semana.
As agregações reprodutivas ocorrem em águas rasas (50 metros) normalmente em recifes rochosos ou artificiais e são um momento chave para recuperação das populações, mas também são oportunidades extremamente atraentes de pesca. A alta fidelidade ao habitat, seu comportamento dócil e seu corpanzil que pode chegar a 2,40 metros de comprimento colaboram para tornar do mero uma presa fácil no oceano. A pesca predatória tem sido o fator determinante para a ameaça de extinção da espécie, pois apesar de viverem até 40 anos, são peixes de taxa de crescimento lenta, com maturação sexual tardia (entre 4 e 7 anos).
Os meros costumam viver em costões rochosos, manguezais ou próximos de naufrágios, onde ficam a maior parte do tempo escondidos em tocas nesses ambientes, comportamento que lhes rendeu a alcunha de Senhor das Pedras.
“Ao longo dos anos, percebemos que a formação das agregações tem acontecido com maior frequência em ambientes artificiais como naufrágios e monoboias, pois são áreas mais protegidas, que oferecem maior abrigo, segurança e alimento”, afirma Áthila.
Desde 2002 o projeto Meros do Brasil atua pela conservação da espécie e monitora as populações de mero no litoral do país, com nove receptores de telemetria acústica já instalados entre Santa Catarina e São Paulo. O monitoramento ajuda a mapear as áreas de reprodução da espécie para garantir a proteção desses locais.
O mero é classificado como Criticamente Ameaçado de Extinção no Brasil. Desde 2002 há uma moratória que proíbe a pesca do mero em todo território nacional. A portaria já foi renovada 4 vezes e o atual prazo expira em 2023.
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Que ótima notícia! Parabéns a todos do projeto Meros do Brasil pelo belíssimo trabalho de vocês, por ajudar a conservar esses bichos maravilhosos. E à Duda por mais este ótimo texto.