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Litoral brasileiro perdeu mais de 60 mil hectares de praias e dunas em 37 anos

Especulação imobiliária e expansão urbana são principais fatores por trás da redução de 15% na cobertura de praias e dunas no país, mostram dados do MapBiomas

Michael Esquer ·
18 de novembro de 2022 · 2 anos atrás

Com mais de 7 mil quilômetros, o Brasil está entre os países com maior litoral do mundo. Enquanto manguezais apresentaram comportamento estável nos últimos 37 anos, as áreas de praias e dunas tiveram retração de 15% na costa brasileira. Em contrapartida, as de aquicultura cresceram 36%. Os dados são do mais recente levantamento do MapBiomas sobre a zona costeira do país, feito a partir de imagens de satélite. 

O documento foi compartilhado nesta sexta-feira (18). De acordo com o estudo, as áreas de manguezais saltaram de 970 mil hectares em 1985 para mais de um milhão de hectares em 2021. Os manguezais se estendem por toda a costa brasileira, do Amapá até Santa Catarina. Entre os estados, Amapá, Pará e Maranhão – estados da Amazônia – respondem por 80% da cobertura atual de manguezais do país. 

“Os manguezais do norte crescem sob um regime de macromaré, cujo nível de água tem variação diária superior a 4 metros, e desenvolvem-se sobre uma planície de lama que chega a medir 30 km de largura, ocupada por árvores de até 30 metros de altura”, afirma Pedro Walfir, da equipe de mapeamento da zona costeira do MapBiomas. De acordo com a rede colaborativa, 0 manguezal torna este ecossistema naturalmente resiliente às mudanças antrópicas. 

Cinco estados brasileiros com maior área de mangue. Foto: Reprodução/MapBiomas

Áreas de apicuns 

Os apicuns são superfícies dinâmicas, hipersalinas que estão associadas ao regime de marés. Esta categoria, também analisada pelo MapBiomas, é uma das formações naturais sobre as quais o mangue se expande. De 1985 a 2021, os apicuns caíram de 57 mil para 54 mil hectares de área, o que configura certa estabilidade. Entre os estados, o Maranhão concentra 60% da superfície de apicuns.  

“Essa diminuição do apicum, coincidentemente a partir da liberação do Código Florestal atual, é muito significativa. Isso aí já indica fortemente uma necessidade de revisão, e a inclusão dos apicuns como partes significativas e funcionais do ecossistema manguezal”, comentou Luiz Drude de Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante a apresentação do levantamento. 

Ainda de acordo com a rede colaborativa, 70% da área de apicuns encontra-se dentro de alguma das 340 Unidades de Conservação (UC) da zona costeira brasileira. Isso, no entanto, não impediu que, entre 1985 e 2021, 1,8 mil hectares de apicuns fossem convertidos para atividades de aquicultura — transformação do ambiente aquático para a criação de peixes – e infraestrutura urbana, o que representa o principal risco para este tipo de formação natural. 

Áreas de aquicultura

A ocupação da zona costeira brasileira que mais cresceu nos últimos 37 anos foi justamente a aquicultura. De acordo com o MapBiomas, a área dessa categoria saltou de 36 mil hectares em 1985 para 56 mil em 2021, um aumento de 36%. Esse crescimento se deu, sobretudo, sobre superfícies de água (28%), mosaico de agricultura ou pastagem (25%) e formações savânicas (14%), com nítida preferência por regiões não vegetadas, como apicuns ou, quando vegetadas, de porte arbustivo. 

Rio Grande do Norte (67%) e Ceará (15,4%) concentram 82% da área de salicultura (produção de sal) e aquicultura no Brasil. Com 11 mil hectares, a cidade de Mossoró (RN) possui a maior área de aquicultura e salicultura no país. O número equivale ao dobro da área urbanizada do município. 

“No Nordeste e Norte, a aquicultura é de longe o principal vetor de pressão ambiental. […] É urgente que a gente pense na aquicultura de uma forma um pouco mais ampla, não só como uma conversão de área de mangue, que realmente é muito pouca, até porque não é vantajoso fazer aquicultura em manguezais, mas a emissão de efluentes, a alteração de fluxo hidrológicos, prejudica e muito, e causa um grau de degradabilidade muito significativo”, acrescenta Lacerda. 

Áreas de praias, dunas e areais 

Se em 37 anos os manguezais e apicuns apresentaram estabilidade e as áreas de aquicultura o maior aumento, a área de praias e dunas arenosas caiu, no mesmo período, de 457 mil para 389 mil hectares, uma retração de 68 mil hectares (15%). O MapBiomas destaca que 47% dessa categoria está inserida em UCs. Para a rede colaborativa, entre os fatores que levam a esse cenário de perda de área está a pressão do mercado imobiliário e o consequente avanço de infraestruturas urbanas (11%), silvicultura (7,4%), pastagens e mosaicos de agricultura e pecuária (10%). 

“Essa perda é preocupante porque praias e dunas têm papel estratégico no controle da erosão costeira e preservação da biodiversidade”, explica César Diniz, também da equipe de mapeamento de zona costeira do MapBiomas. “A praia e a duna normalmente protegem os manguezais das ações das ondas, criando um ambiente calmo, onde a lama pode ser depositada e colonizada pela vegetação de mangue”, conclui. 

Área de praia, duna e areal (em mil hectares) no Brasil entre 1985 e 2021. Foto: Reprodução/MapBiomas
  • Michael Esquer

    Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com passagem pela Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, tem interesse na temática socioambiental e direitos humanos

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