Notícias

Quase metade das praias do mundo pode sumir até 2100, diz estudo

Elevação do nível do mar é principal componente de ameaça, em processo de erosão que inclui fatores naturais e ocupação humana

Claudio Angelo · Observatório do Clima ·
2 de março de 2020 · 4 anos atrás
Foto: judithhochstrasser/ Pixabay.

Ai de ti, Copacabana! Um estudo publicado nesta segunda-feira sugere que até 49% das praias do mundo correm risco de quase desaparecer do mapa devido principalmente à elevação do nível do mar no fim deste século. O Brasil é um dos países que sofrerão, especialmente no Nordeste. Mas o principal afetado será a Austrália, que no melhor cenário pode perder mais de 11 mil quilômetros de praia – metade do litoral.

A pesquisa foi feita por cientistas europeus liderados por Michalis Vousdoukas, da Comissão Europeia, e publicada na edição on-line do periódico Nature Climate Change. Segundo os autores, a subida dos oceanos causada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa está se tornando o principal causador de erosão marinha no mundo – o processo é natural em alguns lugares, em outros é agravado pela ocupação humana.

Até 2100, escrevem Vousdoukas e colegas, 82% da retração de praias no planeta ocorrerá como resultado direto da subida do nível do mar. O restante se deverá a alterações ambientais locais.

Para fazer seu estudo, o grupo analisou dados sobre o histórico de retração ou aumento de praias no mundo inteiro e extrapolou essa tendência para o fim do século. Em cima disso, inseriu num modelo de computador a variação do nível do mar estimada em dois cenários do IPCC, o comitê de climatologistas da ONU: o chamado RCP 4.5, de emissões moderadas (mas no qual a meta do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento da Terra abaixo de 2oC é perdida), e o RCP 8.5, no qual o mundo falha em reduzir emissões.

No cenário moderado, a linha de praia recua em 1 m a 78 m no mundo todo até o meio do século, e em 15 m a 164 m no fim do século. No pior cenário, o recuo chega a 240 m no fim do século, o que implicaria em perda de 35,7% a 49,5% das praias de areia do planeta.

Morar próximo da praia pode deixar de ser um bom negócio. Foto: Jose Guertzenstein/Pixabay.

No Nordeste do Brasil o recuo seria de mais de 150 metros no pior cenário, no fim do século. Mas já em 2050 as praias nordestinas podem perder 40 metros de faixa de areia, em média, mesmo num cenário de emissões moderadas.

Nada que se compare ao sul da Ásia, que pode ver recuos de 130 metros na faixa de areia no meio do século (no RCP 4.5) e de mais de 400 metros em 2100 no RCP 8.5.

Além da Austrália, figuram na lista dos países mais afetados o Canadá, o Chile, o México (que já precisa “engordar” artificialmente as praias de Cancún todos os anos) e os EUA. Os cientistas lembram que não se trata só de perda de um lugar ao sol: as praias também protegem as populações costeiras contra ressacas – que, aliás, estão cada vez mais fortes também por causa do aumento do nível do mar, como a cidade de Ubatuba descobriu neste Carnaval.

“Além da maior vulnerabilidade a desastres costeiros, vários desses países também tendem a experimentar impactos socioeconômicos sérios devido a economias frágeis e dependentes do turismo, que têm nas praias de areia sua maior atração turística.”

 

 

logo Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

Leia Também 

Manchas de óleo de origem indefinida são encontradas em 43 praias do Nordeste

Bolsonaro quer usar dinheiro saudita para extinguir a Estação Ecológica de Tamoios

Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima

 

  • Claudio Angelo

    Jornalista, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de "A Espiral da Morte – como a humanidade alterou a ...

  • Observatório do Clima

    O Observatório do Clima é uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira criada para discutir mudanças climáticas

Leia também

Análises
1 de outubro de 2019

Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima

Estimativa feita pelo OC mostra que país ficará pelo menos 2% acima de objetivo para 2020 e não tem nem sequer os instrumentos para atingir compromisso no Acordo de Paris

Salada Verde
30 de outubro de 2019

Bolsonaro quer usar dinheiro saudita para extinguir a Estação Ecológica de Tamoios

Plano de transformar local onde foi multado em 2012 em uma espécie de ‘Cancún tupiniquim’ é exaltado em encontro com empresários sauditas

Notícias
25 de setembro de 2019

Manchas de óleo de origem indefinida são encontradas em 43 praias do Nordeste

Identificada pelo MMA como um hidrocarboneto derivado do petróleo, a substância foi encontrada em 8 dos 9 estados nordestinos e já atingiu ou causou a morte de vários animais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.