No domingo (12), uma anta (Tapirus terrestris) foi resgatada na cidade de Rio Verde do Mato Grosso (MS). Com lesões de arma de fogo, o animal foi encaminhado a um centro de reabilitação na capital do estado, Campo Grande (MS). Foram quase dois dias de atenção veterinária até que chegasse esta terça-feira (14), quando o mamífero não resistiu aos ferimentos e morreu.
Entre o ferimento e a morte, porém, o período de agonia da anta pode ter sido muito maior. Isso porque a Polícia Militar Ambiental (PMA), que resgatou o animal no domingo, estima que ele estivesse ferido há pelo menos sete dias, por conta da infestação de larvas que foi encontrada em suas feridas.
“A debilidade era tanta, que o animal que deveria pesar uns 150 kg, se sadio, pesava apenas cerca de 70 kg”, diz trecho de nota divulgada pela PMA. Quem chamou os policiais foi um morador do assentamento São Francisco, em Rio Verde do Mato Grosso (MS), que encontrou o mamífero, um macho, caída dentro de um açude. A anta foi resgatada com o apoio de moradores do assentamento.
“Apresentava vários ferimentos pelo corpo, compatíveis com perfurações de arma de fogo”, diz outro trecho da nota. O animal também tinha arranhões pelo corpo, possivelmente provocados durante a fuga de caçadores que atiraram no mamífero, informou a instituição policial.
A médica veterinária Jordana Toqueto, que confirmou a morte da anta a ((o))eco nesta terça, conta que o animal foi recebido em estado muito crítico. No Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), ele foi sedado e examinado.
Ela conta que as lesões, de fato, eram compatíveis com cortes em cercas e de lesão por arma de fogo. “Isso ocasionou miíases (larvas) no local, fazendo com que agravasse ainda mais os ferimentos”, explica Toqueto, que participou do tratamento do mamífero no CRAS. Em exame radiográfico, não foram encontradas balas no corpo da anta. A médica veterinária explica que, possivelmente, as balas acertaram o animal de raspão.
“Jardineiras da floresta”
Considerada o maior mamífero terrestre da América do Sul, a anta (Tapirus terrestris) está atualmente “Vulnerável” para o risco de extinção tanto pela lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN quanto pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, atualizada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2022.
Toqueto conta que o animal vem sofrendo muitas ameaças, entre elas a perda de habitat, atropelamento e a própria caça. No ano passado, por exemplo, 29 pessoas foram autuadas por caça ilegal em Mato Grosso do Sul. O número é praticamente o mesmo de 2021, no qual foram registrados 30 autuados. Os dados são da PMA.
Conhecidas como “jardineiras da floresta”, diz ela, as antas possuem grande importância na dispersão de sementes. O risco do perigo da sua extinção, potencializado pela caça e as outras ameaças mencionadas, podem provocar um desequilíbrio ecossistêmico.
“Assim como qualquer outro animal, ela possui sua importância e papel na biodiversidade”, conclui a médica veterinária do CRAS, em Campo Grande (MS).
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