O desmatamento e a transformação da natureza em áreas antrópicas têm um forte impacto nas relações entre fauna e flora. Polinizadores importantes, abelhas e vespas são animais muito sensíveis a essas mudanças no ambiente natural. Pesquisadores da Unicentro e Unesp realizaram um estudo para entender como esses insetos, tão fundamentais para agricultura, reagem a essa transição entre plantações e florestas e aos impactos do “efeito de borda” na biodiversidade.
Os efeitos de borda são os impactos que ocorrem no ambiente que foi modificado para uso antrópico. As mudanças feitas pelo homem na natureza alteram as características do local, podendo gerar interfaces entre ecossistemas naturais e antrópicos, as chamadas “bordas”. Exemplos dessas modificações são pastagens e campos agrícolas. Esses ambientes de transição causam alterações na biodiversidade local.
Conforme a degradação e a mudança da paisagem acontecem, algumas espécies podem ser favorecidas ou não com esses novos ambientes de transição. Não há uma regra para o que pode acontecer e a ciência ainda sabe pouco sobre esses efeitos, explica o pesquisador Milton Ribeiro, da Unesp de Rio Claro, um dos autores da pesquisa. É por isso que, segundo ele, entender as consequências dessas interfaces entre ambientes é importante para influenciar não só as práticas produtivas como também os tomadores de decisão na formação de políticas públicas que levem em conta o meio ambiente.
“Enquanto não se prova para o produtor que ele pode ter um benefício, ele não muda suas práticas, precisa existir uma materialidade, um estudo para provar que, por exemplo, não é apenas a questão da conservação da natureza, mas também que quanto mais floresce em torno do seu sistema produtivo, maior será a sua produção e menor serão os gastos com agroquímicos, como herbicidas e fungicidas. Trazemos uma nova perspectiva de manejo para eles”, pontua o pesquisador.
O estudo foi conduzido em fragmentos da Mata Atlântica no município de Guarapuava, Paraná. Para investigar os efeitos potenciais da distância da borda da floresta em espécies de vespas e abelhas solitárias e de seus inimigos naturais associados, os pesquisadores coletaram amostras numa faixa de transição entre áreas florestais e de uso humano.
Ao todo, foram identificadas 16 espécies de vespas, cinco de abelhas e 24 de parasitas desses insetos, em um total de 1.674 organismos.
De forma geral, as espécies generalistas foram as beneficiadas pela proximidade das bordas florestais, porque são mais adaptáveis devido à maior variedade de hábitos alimentares e habitats em que podem sobreviver. Já com as espécies mais especialistas, com hábitos alimentares e habitats mais restritos, aconteceu o contrário.
Os inimigos naturais dessas espécies foram mais influenciados pela distribuição das vespas e abelhas do que pelo efeito de borda em si. “Pela primeira vez estamos quantificando os efeitos internos e externos das florestas sobre esses insetos essenciais para os serviços ambientais em contexto de agroecossistemas”, destaca a pesquisadora Maria Luisa Tunes Buschini, da Universidade Estadual Centro Oeste (Unicentro) do Paraná.
Para Milton Ribeiro, a principal contribuição do estudo à ciência é a importância destes ambientes de transição, que não podem ser negligenciados na pesquisa científica. Entender como esses ambientes funcionam, como se comportam as espécies que vivem ali e como foram seus processos de adaptação às mudanças no local é fundamental para a decisão do manejo da paisagem, afirma o pesquisador.
“Não se pode deixar de ressaltar que os insetos em geral são fontes alimentares para vários grupos de organismos. Existe um grupo de aves por exemplo que são insectívoras, elas adoram viver nessa zona de borda exatamente pela quantidade de insetos. Então essas interfaces são importantes não só para os insetos, mas também para a cadeia trófica do local. A ideia é pensar em uma proposta de manejo que inclua paisagens mais sustentáveis, pensando nas interfaces e sem entrar em conflito com um sistema produtivo”, completou Ribeiro.
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