À frente de centenas de pecuaristas paraenses, reunidos em encontro para o setor na cidade de Marabá/PA, o consultor de agronegócio Maurício Palma Nogueira defendeu que a pecuária é consequência e não causa do desmatamento na Amazônia. Foi ovacionado pela plateia presente.
“O pecuarista é a grande vítima do desmatamento ilegal […] A pecuária sempre foi consequência, não foi causa. O desmatamento ilegal é feito com outro proposito”, disse, durante a palestra “Futuro e Conquistas da Pecuária Brasileira”, que integrou a agenda do 1º Pecuariando nesta sexta-feira (29). O encontro reúne, desde a última quarta-feira (27), vários atores do setor em prol de uma “pecuária sustentável” em território paraense.
A fala contraria a maioria das pesquisas sobre o assunto, que apontam a pecuária como o principal vetor do desmatamento na Amazônia. Historicamente, a atividade foi – e ainda é – utilizada para ocupação de terras para fins de titulação. Estudo lançado em setembro de 2021 pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que os pastos cobrem cerca de 90% das áreas desmatadas no bioma Amazônia.
Mas este não é o entendimento do consultor. Para ele, o que movimenta o avanço ilegal sobre a floresta, inclusive em áreas protegidas, é a “operação imobiliária”, conhecida como grilagem de terras.
“Atribuir a causa do desmatamento ilegal à produção de carne é um erro de diagnóstico. E diagnósticos errados não levam a soluções corretas […] Se alguns ‘especialistas’ continuarem focados apenas em autopromoção através do sensacionalismo midiático, o desmatamento ilegal não será combatido de forma eficiente”, defendeu o consultor, também em sua página no Linkedin.
No entendimento de Nogueira, o setor da carne bovina exerce o papel de defensora da floresta, e não o contrário. “A pecuária brasileira evitou, nos últimos 30 anos, o desmatamento de 290 milhões de hectares. Os ambientalistas podem ficar bravos comigo, podem me xingar, mas não vai mudar a realidade, nós fizemos isso”, defendeu.
Para chegar a essa conta, o consultor citou a evolução da produção da pecuária. Segundo ele, se o setor quisesse produzir os atuais 9,7 milhões de toneladas de carne por ano, com a produtividade de 1990, seriam necessários de 400 a 500 milhões de hectares de terras. Na lógica dele, o aumento da produção reduziu a área necessária, o que teria poupado os 290 milhões de hectares citados.
Segundo o pesquisador Paulo Barreto, do Imazon, o setor poderia ter poupado muito mais. “A produtividade média da pecuária brasileira continua abaixo do potencial. Em 2020, havia 80 milhões de hectares degradados no país, o equivalente a quatro vezes a área do estado do Paraná”, disse, a ((o))eco.
O Brasil possui atualmente cerca de 218 milhões de cabeças de gado, sendo que 4 em cada 10 cabeças estão na Amazônia. O estado do Pará tem hoje o 3º maior rebanho do país, com 22,3 milhões de cabeças. É mais boi do que gente: 2,5 cabeças por habitante do solo paraense.
De acordo com levantamento realizado pelo MapBiomas, a pecuária avançou 38 milhões de hectares na Amazônia entre 1985 e 2020, um aumento de cerca de 200%. A Amazônia é, segundo os dados deste estudo, o bioma com maior extensão de pastagens cultivadas no país: 56,6 milhões de hectares.
Além disso, outro estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) apontou que as pastagens ocupam 75% do que foi desmatado em florestas públicas invadidas na floresta tropical, no ano de 2020, o que corresponde a cerca de 2,6 milhões de hectares.
“Parte do desmatamento é especulativo, mas o vetor da especulação é a expectativa de que haverá demanda da pecuária. Se a pecuária deixasse de ocupar a terra, não haveria desmatamento especulativo. Além disso, a atividade ocupa novas áreas e deixa um imenso estoque de terras degradadas”, explica Paulo Barreto, do Imazon.
Carne para a “população real”
Durante o evento desta sexta, o consultor também defendeu que o consumo de carne bovina vai continuar aumentando no mundo e que o Brasil é o país que tem melhores condições de atender a essa demanda.
Segundo ele, a mudança de atitude em relação ao consumo de carne só atinge as classes mais altas da sociedade, que têm condições financeiras de ter uma dieta saudável sem incluir proteína animal.
“A população real, a população pobre, população classe média, quer carne e vai comer mais carne […] nossa capacidade de produção é maior do que a de outros países. Temos que jogar a produtividade média em 4,2 arrobas por hectare. No rally [Rally da Pecuária, expedição técnica que anualmente percorre principais regiões produtoras] já tivemos 18, 25 arrobas por hectare”, disse.
De acordo com Almeida, o setor da pecuária tem de ser o primeiro a combater o desmatamento ilegal, que seria praticado apenas por grileiros, e deve se orgulhar dos resultados que tem hoje.
“Nós não temos que temer nenhum debate. Se puder dar um conselho para vocês, não percam a cabeça quando alguém vier com conversa estúpida, Luiza Mell [ativista dos direitos dos animais], essas coisas aí. Nós temos que começar a informar, a trabalhar entre nós. Enche o pulmão de orgulho, não é pra gente amolecer”, disse, em meio a aplausos da plateia.
“A primeira bala a atirar no desmatamento ilegal, no bom sentido, tem que vir do nosso setor, pecuária e frigorífico, porque nós somos os primeiros vitimados pelo desmatamento ilegal”, finalizou.
*Reportagem: Fernanda Soares, enviada especial a Marabá, e Cristiane Prizibisczki.
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E cada insanidade que a gente tem que ler
Este , sr. comeu carne estragada. Infelizmente esta em delirio pos toxina.
Precisa de tratamento médico.