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((o))eco nas Eleições 2022

Debater, checar e traduzir como os temas ambientais surgem nos discursos e compromissos dos candidatos será o foco desta cobertura especial

Juliana Arini ·
15 de agosto de 2022 · 2 anos atrás

As pautas ambientais e a política sempre caminham juntas. Não é à toa que grande parte dos mecanismos de aumento e controle do desmatamento saiu dos corredores de Brasília. E, para o bem ou mal, com forte impacto em cadeia nas decisões dos estados. 

Traçar essa conexão sempre foi considerado um papo chato. Política nunca foi o tema preferido do brasileiro. Mas, tudo indica que os solavancos sociais e econômicos dos últimos anos despertaram o gigante adormecido. 

O brasileiro decidiu reagir e votar. Após uma pandemia mortal que ceifou quase 700 mil vidas, o aumento descontrolado do desmatamento, a volta da fome na mesa de 30 milhões de pessoas e a constatação de que mesmo lucrando bilhões, a riqueza do “agro pop” com exportações apenas joga osso no prato do cidadão comum.

Dure muito ou pouco, o movimento já é o maior processo eleitoral da história nacional. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o país tem o maior número de eleitores cadastrados de todos os tempos. 

São 156.454.011 votantes, sendo 52,65% mulheres para escolher os próximos presidente da República, governadores, deputados estaduais, federais e distritais e senadores da República. Os maiores colégios eleitorais estão no Sudeste (42.64%), Nordeste (27,11%), Sul do país (14,42%), Norte (8,03%) e Centro-Oeste (7,38%).

De olho no que as decisões das urnas podem produzir no campo do real, ((o))eco acompanhará as Eleições 2022. Com foco nas propostas e passado político dos candidatos, vamos caçar e puxar capivaras! 

Não os amados super roedores que se multiplicam nos parques e banhados, mas o passado escondido nos armários dos políticos e esquecido nos discursos dos que posam de bons moços, mas já passaram a boiada, o correntão, o trator esteira, a rede de arrasto e a caneta sobre florestas, rios e oceanos.

A proposta é contribuir com o debate e por a pauta ambiental na mesa de quem poderá decidir o nosso futuro comum.  Afinal, desde 1972, quando os astronautas da Apollo 17 fotografaram a Terra na célebre Apollo 17, o mundo está de olho na relação entre a política brasileira e o meio ambiente.

O momento poético para a humanidade foi um choque indigesto para o país. Ao invés de imensas florestas, os astronautas enxergam o resultado da política desenvolvimentista da Ditadura Militar que nos endividou financeiramente e ambientalmente em prol do Milagre Econômico. O integrar para não entregar deste período nos custou 55% do Cerrado.   

O começo de alguma mudança só foi possível com a queda dos generais em 1985. O vento democrático nos brindou com uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo, investimentos para um sistema inédito de monitoramento do desmatamento, o projeto PRODES de 1988, a demarcação de grandes territórios indígenas e inúmeras unidades de conservação em áreas estratégicas. 

A recessão econômica dos anos de 1990 trouxe o fantasma do desmatamento de volta. Do canto do desenvolvimento a qualquer custo o país passou a se equilibrar entre extremos. Do peso das canetas dos políticos saíram duvidosas megaobras de infraestrutura com impactos irreversíveis nos rios, florestas e na vida dos cidadãos, que pagam a conta e ficam com o ônus de um futuro climático incerto. 

Por outro lado, também vestimos uma moldura de austeridade verde. Recebemos duas Conferências Mundiais de Meio Ambiente (ECO92 e RIO+20) e assinamos acordos internacionais por menos derrubadas – a parte mais pesada da nossa conta no cheque especial do planeta.

Esse descompasso de compromissos até parecia dar certo. No mesmo mote do rouba, mas faz, o desmata, mas protege seguiu por anos. Para a tristeza dos políticos que gostam de esconder capivaras no armário, a Terra é redonda e ainda existem missões espaciais.

Veio lá do céu outro sinal de alerta. Em 2019, o astronauta italiano Luca Parmitano divulgou (novamente) fotografias de incêndios que atingiram a Amazônia e outros biomas, capturadas da Estação Espacial Internacional. O próprio Parmitano nomeou a foto como NoPlanB, ou não há um segundo planeta em uma tradução não literal. 

A constatação vergonhosa é que passados 50 anos da primeira foto do planeta retrocedemos nos poucos avanços.  Além do Cerrado, 30% do Pantanal queimou, as derrubadas avançam como nunca, seguidas de crises hídricas nas maiores capitais, aumento da violência contra povos indígenas e defensores da floresta e um histórico de catástrofes socioambienta, como Mariana, Brumadinho e Petrópolis.

As pautas ambientais e a política sempre caminham juntas. Debater, checar e traduzir como temas tão complexos surgem nos discursos e compromissos dos candidatos será o papel de ((o))eco durante este processo eleitoral. 

  • Juliana Arini

    Repórter, fotógrafa e documentarista há duas décadas cobre a questão energética, a crise climática, o desmatamento e as queimadas.

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