Na mesma semana em que o Ibama concedeu à Petrobras a licença para exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas, organizações ambientais uniram forças em prol dos mares com o lançamento da Coalizão SOS Oceano. E a defesa da Foz do Amazonas é uma das pautas prioritárias do grupo, assim como a criação de novas áreas protegidas marinhas e costeiras e o fortalecimento das políticas públicas de conservação oceânica. O lançamento foi realizado nesta quinta-feira (24), durante a Rio Ocean Week, no Rio de Janeiro.
Entre as regiões críticas para proteção está o Albardão, no litoral do Rio Grande do Sul, onde pressões políticas seguem travando o processo para criação de um parque nacional. O local, que abrange a Praia do Cassino, é uma das áreas mais isoladas e biodiversas para o ambiente marinho no país, e a criação de uma ou mais unidades de conservação na região é urgente, alerta a SOS Oceano.
Outra pauta de destaque é a ampliação da proteção na região do arquipélago de Fernando de Noronha, que visa proteger ambientes como os Montes Submarinos, uma cadeia de montanhas submersas consideradas estratégicas como berçário e refúgio da fauna marinha.

A aliança apoia ainda a criação de áreas de uso sustentável em zonas costeiras, essenciais para a sobrevivência de populações tradicionais e para frear os impactos do turismo predatório, da pesca excessiva e da especulação imobiliária.
Uma das principais bandeiras da SOS Oceano é o cumprimento da meta internacional – e compromisso assumido pelo Brasil no Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal – de proteger 30% do oceano até 2030, com pelo menos 10% dessas áreas de proteção integral, onde não é permitida a extração de recursos. Atualmente, de acordo com dados do ICMBio, o país possui 233 Unidades de Conservação (UCs) costeiras e marinhas – o equivalente a 26,4% de sua área marinha total.
Atualmente, há cerca de 60 áreas prioritárias para a conservação marinha mapeadas pelo ICMBio, das quais dez estão já envolvidas em processos de criação de UCs.

“A meta de 30% precisa representar proteção real. Não podemos cair na armadilha do blue washing, quando se cria ou amplia áreas marinhas sem garantir gestão, recursos ou fiscalização. É fundamental que essas áreas tenham proteção efetiva e total, capazes de manter a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que sustentam a vida no planeta. Para isso, é indispensável ampliar a criação de zonas no take – áreas onde não se permite nenhum tipo de exploração de recursos naturais –, pois são essas regiões que realmente asseguram a recuperação dos ecossistemas marinhos”, destaca Angela Kuczach, articuladora da aliança e diretora-executiva da Rede Pró-UC.
Ao lado da Rede Pró-UC na coalizão estão outras organizações ambientais e com foco na defesa dos oceanos, como a Sea Shepherd Brasil, Blue Marine Foundation, Projeto Golfinho Rotador, Instituto Baleia Jubarte, Divers for Sharks, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA) e Seaspiracy Foundation.
“Proteger o oceano não é uma opção, é uma necessidade. Sem mares saudáveis, não há equilíbrio climático, nem futuro sustentável. O Brasil, com sua vasta costa e biodiversidade, tem papel estratégico e uma responsabilidade global – e a SOS Oceano representa um passo decisivo nessa direção”, reforça Paul Watson, fundador da Sea Shepherd e embaixador da SOS Ocean.
Junto com a própria aliança, foi lançada a campanha “Bandeira sem vida”, que reforça a relação entre oceano e florestas para o equilíbrio climático do planeta. Com uma bandeira do Brasil “apagada” de suas cores azul e verde, a campanha alerta “sem azul não há verde”.
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