Em março deste ano, as águas cristalinas do arquipélago de Alcatrazes foram palco de uma cena fantástica: uma reunião de mais de 40 tubarões-martelo. O cardume numeroso deste tubarão extremamente ameaçado é um bom sinal de que a espécie encontrou um refúgio – literalmente – no litoral norte de São Paulo, já que a vida marinha ao redor das ilhas está protegida desde 2016 pelo Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes.
Antes mesmo desse último avistamento numeroso de tubarões-martelo (Sphyrna lewini), os pesquisadores do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar/USP) e do ICMBio já estavam de olho no aumento dos registros da espécie.
Os primeiros registros datam de 2022, quando foram documentados dois grupos pequenos no arquipélago, um composto por sete indivíduos, e outro por três, sendo um juvenil. Em ambas as ocasiões, os tubarões estavam ao redor da ilha Sapata, na zona de amortecimento do Refúgio – onde também há restrições à pesca, porém ainda há práticas militares, como exercícios de tiros.
As observações mais frequentes do tubarão em Alcatrazes foram divulgadas à ciência, em nota publicada em julho no periódico científico Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems.
O texto reforça a importância de áreas protegidas “no-take” (sem captura), ou seja, onde a pesca é proibida, para recuperar as populações da espécie. “Com uma pressão de pesca que continua a aumentar em escala local, regional e global, as observações atuais levam-nos a sugerir que a área protegida marinha de Alcatrazes se destaca como um importante refúgio para sobrevivência e possível recuperação” dos tubarões-martelo, apontam os pesquisadores em trecho da nota.
O tubarão-martelo ocorre em ilhas e áreas costeiras nas zonas tropical e temperada do mundo. Apesar da ampla distribuição, a sobrepesca fez com que a espécie fosse classificada como Criticamente Em Perigo de extinção – o grau mais elevado de ameaça – tanto pela Lista Vermelha internacional, feita pela IUCN, quanto na lista nacional, elaborada pelo ICMBio.
No arquipélago de Alcatrazes, os tubarões encontram águas que, por lei, estão fora do alcance da pesca, protegidas pelo Refúgio de Vida Silvestre, criado em 2016 com 67.409 hectares de extensão – a maior área marinha de proteção integral do sul e sudeste do Brasil.
“O aumento no avistamento de tubarões indica que os esforços de fiscalização para impedir a pesca ilegal, e os cuidados de conservação dentro da unidade estão fornecendo as condições para sua presença, ou seja, alimento e proteção. É ainda mais relevante por se tratar de uma espécie ameaçada. Alcatrazes cada vez mais cumpre seu objetivo de ser um refúgio da vida silvestre”, comemora a pesquisadora do Cebimar/USP, Ludmilla Falsarella, uma das autoras da nota científica.
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