O Marco Legal Criança e Natureza é resultado da articulação de aproximadamente 80 Organizações da Sociedade Civil e entidades ligadas à luta pelo direito das crianças e dos adolescentes e à pauta climática e ambiental, entre elas Instituto Alana, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Instituto Geledés, Instituto Talanoa e Greenpeace. Apresentado na última quinta-feira (06/06) pela deputada Laura Carneiro (PSD/RJ), o projeto de lei 2225/2024 tem o objetivo de garantir o direito de crianças e adolescentes – os grupos mais vulneráveis e diretamente afetados pela emergência climática – à natureza e a um meio ambiente saudável.
Toma como base os artigos 225 e 227 da Constituição Federal, além de outras normas, para propor a criação de políticas públicas e instrumentos para que todas as crianças e adolescentes tenham direito a um meio ambiente saudável e acesso à natureza em seu dia-a-dia: no ar que respiram, na água que bebem, nos alimentos que comem, na fauna e na flora da escola e das cidades, nos territórios indígenas, para que assim possam se desenvolver com saúde e fomentar seu vínculo com os ambientes naturais.
Aponta, ainda, a necessidade de defender, cuidar e regenerar esses ambientes, adaptando as cidades e protegendo as crianças, com prioridade absoluta, no caso de eventos extremos, como enchentes, ondas de calor ou secas. O artigo 225 da Constituição afirma que todos têm o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo dever do poder público e da coletividade conservá-lo para as presentes e futuras gerações. Já o artigo 227 reforça a prioridade absoluta que deve ser dada na proteção integral às crianças e adolescentes, considerando-os sujeitos de direitos e evitando quaisquer formas de violação.
“Há no país uma clara lacuna legal e de políticas ambientais voltadas à infância e à adolescência para responder às crises socioambientais que atravessamos, como o episódio recente no Rio Grande do Sul, em que os direitos de crianças e adolescentes vêm sendo violados em várias dimensões”, diz JP Amaral, gerente de Natureza do Instituto Alana. “Ao mesmo tempo, a possibilidade de contato rotineiro com a natureza é fundamental para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Ter acesso a ambientes naturais promove saúde física e mental, contribui para o desenvolvimento cognitivo, emocional e ajuda a desenvolver consciência ambiental”.
Pioneirismo
Em agosto de 2023, o Comitê dos Direitos da Criança da ONU publicou um comentário à Convenção dos Direitos das Crianças, ratificada em 1989 por 196 países, incluindo o Brasil, especificamente sobre a relação entre as infâncias e a natureza. O Comentário 26 sobre os direitos da criança e o meio ambiente, com enfoque especial nas mudanças climáticas, especifica que os Estados são responsáveis não só por proteger os direitos de crianças e adolescentes contra danos imediatos, mas também por violações previsíveis dos seus direitos no futuro devido a atos dos Estados – ou omissão de ação – hoje.
Além disso, sublinha que os Estados podem ser responsabilizados não só pelos danos ambientais que ocorrem dentro das suas fronteiras, mas também pelos impactos nocivos dos danos ambientais e das mudanças climáticas para além das suas fronteiras, com especial atenção aos danos desproporcionais enfrentados por meninos e meninas em situações desfavorecidas.
“A verdade é que ainda não existia nenhuma política, nenhuma proposta de política nacional que respondesse a esse comentário geral 26. que falasse ali das recomendações, das propostas que vem nesse comentário. Então, o PL vem a servir como realmente uma inovação de política pública que não existe em nenhum lugar do mundo e a gente está com uma primeira proposta no Brasil. Por isso é, sim, um pioneirismo“, completa Amaral. “Também construímos esse PL como uma proposta ligada à da justiça climática, tratando de princípios da não discriminação por gênero, raça, cor, sobre condições social, em questões atreladas principalmente aos impactos climáticos e os riscos ambientais”, finaliza.
No Brasil, mais de 40 milhões de crianças e adolescentes estão sob alto risco climático, sujeitos a eventos extremos, como enchentes, secas prolongadas e ondas de calor (Índice de Risco Climático das Crianças, UNICEF, 2022) e praticamente todas as crianças (99%) respiram ar com nível de poluentes acima do indicado pela Organização Mundial da Saúde.
Leia também
O sonho de plantar florestas
Projeto formigas-de-embaúba envolve professores e alunos da rede pública no plantio de miniflorestas e no despertar para a importância das áreas verdes →
Projeto “Trilhas de Criança” reúne famílias para dia na natureza em Santa Catarina
Atividade ocorre uma vez por mês em Florianópolis, com inscrição gratuita. Evento busca possibilitar experiências afetivas no meio ambiente →
Projetos de conservação marinha lançam livros para educar e encantar o público infantil
Os projetos Meros do Brasil e Coral Vivo lançaram ebooks gratuitos voltados para educação infantil, com propostas de atividades didáticas, e para encantar leitores mirins com as aventuras ricamente ilustradas de um polvo no oceano →