Embora o oceano gere benefícios econômicos de pelo menos US$ 2,5 trilhões por ano, o relatório Living Blue Planet, lançado nesta semana pela Rede WWF, aponta que a população de vertebrados marinhos foi reduzida em 49% entre 1970 e 2012. O declínio foi ainda maior para as espécies de peixes consumidas pelos seres humanos, o que é desastroso não apenas para o ecossistema, mas principalmente para as cerca de 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo que dependem majoritariamente dos peixes para alimentação e sobrevivência.
“Nós publicamos este estudo com urgência para trazer a mais atualizada fotografia do estado dos oceanos”, disse em nota o diretor-geral do WWF Internacional, Marco Lambertini. “No espaço de uma única geração, a atividade humana prejudicou seriamente os oceanos, pescando mais rapidamente do que a velocidade de reprodução dos peixes, ao mesmo tempo em que destruímos seus berçários. Precisamos de mudanças profundas para garantir vida oceânica abundante para as futuras gerações”.
A análise rastreou cerca de 6.000 populações de mais de 1.200 espécies – de pássaros marinhos a tubarões e tartarugas – o que faz com que o conjunto de dados seja duas vezes maior que o de estudos anteriores. Os resultados têm como base o Living Planet Index, banco de dados mantido pelos pesquisadores da Sociedade de Zoologia de Londres (ZSL).
O Living Blue Planet é uma espécie de “resposta” às estatísticas do Relatório Planeta Vivo (Living Planet Report), publicado pela Rede WWF em 2014, e analisa como a biodiversidade marinha tem sido afetada pela sobrepesca, mudanças climáticas e danos aos habitats dos oceanos e mares.
Os números apresentados são alarmantes:
- A pesca e a aquicultura asseguram o sustento de 10 a 12% da população mundial;
- A capacidade de pesca marinha é superexplorada em 29%. Graças à sobrepesca, 1 de cada 4 espécies de tubarões e arraias está ameaçada de extinção;
- Entre 1980 e 2005 houve uma redução de cerca de 20% da cobertura de mangues ao redor do planeta;
- Os recifes tropicais perderam mais de metade de seus corais nos últimos 30 anos. Se a temperatura continuar subindo nas taxas atuais, o oceano se tornará muito quente para os recifes em 2050;
- As licenças de mineração nos solos oceânicos abrangem 1,2 milhão de km², área quase do tamanho do estado do Pará, segundo maior do Brasil em extensão;
- Apenas 3,4% dos oceanos estão protegidos, e somente parte deste percentual é manejada efetivamente. Se o número de áreas marinhas protegidas aumentasse para 30%, poderia gerar mais de US$ 920 bilhões entre 2015 e 2050.
Para Lambertini, “considerando o papel vital do oceano em nossas economias e sua contribuição essencial para a segurança alimentar – especialmente para as comunidades pobres e costeiras – estes números são simplesmente inaceitáveis. Será que as implicações econômicas do colapso dos ecossistemas do oceano podem acionar a próxima recessão global ou minar o progresso que fizemos na erradicação da pobreza?”.
Caminhos possíveis
Mais do que somente mostrar os problemas, o Living Blue Planet também busca apontar soluções para que governos, empresas, comunidades e consumidores possam assegurar a conservação dos oceanos. Para reverter a tendência ao declínio, o relatório diz que é necessário adotar medidas como a priorização da sustentabilidade financeira e governamental, consumo responsável, conservação e recuperação dos recursos marinhos.
No final deste mês, os líderes globais se reunirão para discutir a Assembleia Geral das Nações Unidas, onde se espera que seja aprovada a versão final dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS). Para que o quadro apontado pelo relatório seja revertido, é importante que a agenda contenha resoluções de auxílio à saúde dos oceanos, uma vez que sua conservação está diretamente relacionada à redução da pobreza e à segurança alimentar.
Faça o download do Living Blue Planet (em inglês) aqui.
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