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Ruralistas aprovam convocação de Marina Silva para falar sobre moratória da soja

Deputados questionam atuação da ministra e o apoio do governo na manutenção do pacto que proíbe compra de soja em área desmatada após 2008 na Amazônia

Karina Pinheiro ·
2 de outubro de 2025

A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou três requerimentos para convocar a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, para dar explicações sobre a atuação da pasta em defesa da manutenção da moratória da soja e esclarecer sobre supostos abusos cometidos pelo ICMBio no Acre e sobre o impacto do Plano Clima no agronegócio. É a terceira vez, apenas este ano, que o Congresso convoca a ministra. 

Um dos requerimentos, feito pela deputada Coronel Fernanda (PL/MT), questiona porquê o Ministério criticou a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que suspendeu a moratória por suspeita de prática anticoncorrencial. De acordo com o texto do documento, ao se posicionar publicamente a favor de um pacto privado e adotar em decreto critérios semelhantes aos usados pelas empresas signatárias, o governo pode ter ultrapassado suas funções legais e usado a máquina pública para sustentar um acordo entre empresas.

“Não pode um Ministério que deveria cuidar do nosso país está atendendo questões de interesses privados. Ela (Marina Silva) precisa estar aqui para esclarecer isso, o nosso agro está sendo prejudicado por esse ministério e esse ministério não tem contribuído em nada”, afirmou a deputada Coronel Fernada durante a defesa da pauta em reunião deliberativa.

A Moratória da Soja é o nome que recebeu o pacto ambiental estabelecido em 2006 entre entidades representativas de produtores de soja no Brasil, empresas do setor, ONGs e, posteriormente, com o próprio governo, prevendo a proibição da soja proveniente de áreas desmatadas – legal ou ilegalmente – na Amazônia após 22 de julho de 2008, como forma de conter o desmatamento na floresta tropical.

Em agosto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu a validade da moratória, alegando suposta prática de cartel entre as empresas signatárias. A decisão do Cade foi cassada uma semana depois pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), que atendeu a um mandado de segurança com pedido de liminar impetrado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Nesta terça-feira (30), o Cade suspendeu provisoriamente a decisão tomada pela superintendência-geral do próprio órgão em agosto. Com isso, a suspensão está anulada até 31 de dezembro de 2025, prazo no qual agentes privados e públicos deverão tentar achar um consenso para a questão.

Em nome do desenvolvimento

Ainda durante a sessão, a deputada do PL afirmou que a ministra atrapalha o “progresso brasileiro” por conta de “ladainhas ideológicas”. “O nosso país era para estar à frente de muitos países e o Ministério do Meio Ambiente hoje, comandado pela Ministra em questão está atrapalhando”. 

O requerimento aprovado na Comissão de Agricultura da Câmara se junta a outros três requerimentos de convocação direcionados à ministra realizados pelos parlamentares da bancada apenas em um dia. Dois deles, um requerimento de convocação e outro de convite, discutem supostos abusos cometidos pelo ICMBio no Acre e um terceiro requerimento, feito pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), quer explicações sobre o impacto do Plano Clima no agronegócio.  

Em julho deste ano, Marina Silva foi alvo de ofensas pelos deputados Evair Vieira de Melo, do PP do Espírito Santo; Zé Trovão, do PL de Santa Catarina; capitão Alberto Neto, do PL do Amazonas; e pelo presidente da comissão, Rodolfo Nogueira, do PL do Mato Grosso do Sul, durante outra audiência pública da mesma comissão onde prestava esclarecimentos sobre aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia. 

  • Karina Pinheiro

    Jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), possui interesse na área científica e ambiental, com experiência na área há mais de 2 anos.

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Comentários 2

  1. MARTA METELLO JACOB diz:

    Como é marca registrada dos filiados ao PL, a Coronel representante do MT prima pela grosseria ao se dirigir a uma das pessoas mais influentes na área ambiental no mundo. Erros crassos de português além dos argumentos, claro, altamente duvidosos. A convocação vai ser mais um massacre dirigido a uma das grandes estrelas do governo. Triste.


    1. João Paulo Haeser diz:

      Esse pessoal do “agronegócio”só quer ganhar muito dinheiro, não importa à que custo.