Alice Galvão do Nascimento, dona da Pousada Rio Mutum, foi enfática: “Em 2020, o fogo no Pantanal acabou com a comida dos animais. Este ano, as árvores até ficaram verdes de novo, mas o fruto, a comida, não tem, faltou água com essa seca”. Até mesmo as várias mangueiras que ocupam a área verde da pousada não produziram o fruto. No lugar das mangas que deviam cobrir o chão, há apenas um gramado seco.
Para alimentar os animais da região e que ocupam os recintos da pousada, onde funciona um projeto de recuperação e soltura branda de animais silvestres, Alice conta com a doação de frutas e legumes. Quando o alimento chega, os funcionários do local se dividem e saem de barco e carro despejando a comida em pontos estratégicos da mata que rodeia o lugar. “A gente faz o que pode, mas não é o suficiente. Quando a gente chega já não tem nem resto de comida”, lamenta Alice.
Estar na Mutum é um momento ‘light’ diante de tudo que encontraremos a partir de amanhã em São Pedro de Joselândia e nos dias seguintes quando chegarmos à Transpantaneira, a porta de entrada do Pantanal matogrossense. Enquanto na pousada os animais encontram comida e água, nestes lugares há apenas seca e fogo. Há semanas bombeiros, brigadistas e voluntários lutam para salvar os animais em meio aos incêndios na rodovia. Lá, lugares como o Parque Encontro das Águas, onde se concentra o maior número de onças-pintadas do mundo, estão em chamas outra vez. Em 2020, o parque teve mais de 80% do seu território incendiado.
Em redes sociais, inúmeros projetos que atuam no resgate aos animais silvestres feridos são enfáticos ao dizerem que muitos bichos estão morrendo queimados, e, para aqueles que estão feridos e são resgatados, não há recintos para levá-los. Alguns destes projetos, como a Ampara Silvestre, correm contra o tempo para oferecer um local de tratamento. Para isso, contam com financiamento coletivo.
Pantanal ameaçado é um projeto de Leandro Barbosa, Victor Del Vecchio, Lina Castro e Gabriel Schlickmann, financiado coletivamente e que conta com o apoio da iniciativa Observa-MT.
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